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Olho nas expectativas (por Antônio Carlos de Medeiros)

Lula decidiu orientar a base do governo para não mexer agora na meta fiscal

atualizado 17/11/2023 1:17

Lula (PT) e Fernando Haddad (PT) -- Metrópoles Fábio Vieira/Metrópoles

O presidente Lula decidiu orientar a base do governo para não mexer agora na meta fiscal. É possível que uma avaliação da necessidade eventual de mexer na meta fique para março de 2024. Aí, sim, já de posse do primeiro balanço bimestral do comportamento da execução orçamentária, se tomaria a decisão. Bingo.

Mexer agora seria um tiro no pé. Sabemos que a maior vítima seria a desancoragem das expectativas. Expectativas econômicas e expectativas políticas. A economia é movida por expectativas. São elas (as expectativas ancoradas) que produzem confiança e decisão de investimento. E a política também se move por expectativas. Expectativas de poder.

Portanto, a nova decisão de Lula mira o busílis da governança e da governabilidade do governo Lula-3: ancorar as expectativas. Essa ancoragem é complexa, no mundo conflagrado e polarizado desse momento Histórico. Sendo complexa, a ancoragem precisa ser monitorada e ajustada diariamente.

O governo Lula-3 deparou-se com uma ordem imaginada que não é, nem de longe, a ordem imaginada que ele esperava. Depois da catarse pós-eleição de 2022, onde se imaginou que  as forças que se uniram pela democracia iriam prevalecer, veio o golpe do 8 de janeiro. E seguiu-se, a partir daí, o sinal vermelho da polarização extremada e das ameaças constantes de desestabilização da governabilidade.

Foram muitos os “quebra-molas” colocados na caminhada inicial do novo governo eleito. Muitos mesmo. Aos poucos, foram sendo superados gradualmente. Esta superação parcial tomou todo o primeiro semestre. Muitos outros “quebra-molas” ainda virão. Mas agora Lula compreendeu a natureza da nova ordem imaginada brasileira. E, dentro dela, a natureza de um novo sistema político fragmentado , polarizado e movido por um semi-parlamentarismo branco.

Ambiguidades e contradições são constantes. Na sociedade. No parlamento. E nas atitudes do próprio líder maior do país: o próprio Lula. Ainda bem que ele erra e corrige, mostrando sabedoria política e capacidade de negociação para corrigir rumos constantemente. Rumos da política externa. E rumos da política interna. Outras ambiguidades e contradições ainda virão por aí.

Isto posto, é preciso registrar que o balanço do primeiro ano se apresenta como positivo, dados os “quebra-molas” e as dificuldades externas e internas para a condução do leme da nave Brasil.

São fatos: (1) que o Brasil voltou à cena internacional, mesmo com muito ensaio-erro ainda em curso; (2) que a democracia permanece de pé, com a institucionalidade  entre os três poderes em construção permanente; (3) que o governo colocou de pé um programa inicial básico – do combate à fome ao arcabouço fiscal, passando pela costura de uma base política de governo, mantendo a estabilidade política.

E agora? Agora é preciso ir além do programa básico já em execução. Começando por desatar o nó do arcabouço fiscal (e da meta fiscal) até março de 2024. Seguindo com os programas de proteção social. E mantendo a articulação do bom funcionamento da democracia representativa. A construção permanente do consenso.

Mantida a ancoragem das expectativas, há que se olhar para o futuro e para a nova ordem imaginada em formação, aqui e acolá. Mobilizar as energias sociais, econômicas e políticas na direção de um novo projeto estratégico de país.

Aí, vêem a inserção global do Brasil como potência climática e alimentar, que deve balizar cada vez mais a política externa do país, ao lado da saga da Paz mundial. Vêem, ao mesmo tempo, a articulação de dois programas pivotais.

Trata-se do Programa de Transformação Ecológica, na órbita dos ministros Alckmin e Haddad. Trata-se, também, do Programa de Cooperação Federativa, na órbita dos ministros Haddad e Rui Costa. Juntos, este dois programas têm efeitos transformadores e multiplicadores na sociedade e na Federação.

Um novo projeto de país. Brasil Século XXI. Ousar para mudar.

Lula parece manter o seu discurso pós-eleitoral de 2022: “…Sei da magnitude da missão que a História me reservou, e sei que não poderei cumprí-la  sozinho (…) vou precisar de todos…”.

As bases de uma Frente Ampla de transição política no Brasil. Por uma nova ordem imaginada. Ousar para mudar.

 

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

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