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O novo embate político (por Ricardo Guedes)

O novo embate político é entre as forças crescentes do fascismo e a defesa do que resta das democracias

atualizado 23/06/2023 1:01

Governo Lula invasões

Marx achava que o embate político seria entre a classe trabalhadora e a classe empresarial, o que ocorreu predominantemente no século XIX e na primeira metade do século XX. Segundo Marx, o crescimento contínuo da classe trabalhadora levaria ao processo revolucionário, com a socialização dos meios de produção. A classe trabalhadora, entretanto, cresceu até 1920, quando então se estabilizou em 25% da população economicamente ativa em todos os países. A partir de 1900, cresce a classe média, do colarinho branco, passando a formar a maioria das sociedades.

Do século XIX à primeira parte do século XX, alguns exemplos foram significativos do embate entre as classes dominante e trabalhadora, como a Comuna de Paris no primeiro semestre de 1871, a Revolução Russa em 1917, e a Revolução Chinesa em 1949. A partir de 1950, entretanto, os países chegaram à maior estabilidade entre o capital e o trabalho, na adoção de políticas Keynesianas e através de pactos Social-Democratas.

De 1980 para cá, entretanto, aumenta a desigualdade social, como indicado no World Inequality Report, com a falha das democracias no aspecto redistributivo e compressão das classes médias na economia dos países. As classes médias cresceram até 1980 em número e renda per capita, perdendo de 1980 para cá em seu poder aquisitivo. As classes médias iliteratas passam a formar a base social do fascismo, como ocorrido na Alemanha e Itália dos anos 30, conforme descrito nos trabalhos de De Felice e George Mosse.

A esquerda mundial hoje defende o que outrora era o discurso da classe empresarial, da democracia e do estado de direito. As classes médias, movidas pelo ódio do patrimônio perdido, adotam o discurso antirracionalista, na espera da quebra da ordem institucional. A mentira e a violência são os métodos, a usurpação e a apropriação indébita os objetivos, sob a instrumentalização de diminutos grupos das elites econômica, política e militar. Os episódios com Trump da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e com Bolsonaro da tentativa de quebra da ordem institucional no final de 2022 e da invasão da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 são exemplos recentes deste intento.

Estes movimentos ficarão cada vez mais intensos e presentes nas sociedades, com a ineficácia distributiva das democracias, e a limitação de acesso a bens e serviços que será imposta pela crise ecológica que se aproxima. A inoperância das democracias é a garantia do crescimento do fascismo. Tempos difíceis.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago, CEO da Sensus, e Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro

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