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O Canadá e o Brasil (por Ricardo Guedes) 

O Brasil certamente tem sua graciosidade, mas não temos muita eficiência

atualizado 29/12/2023 3:54

Foto colorida de uma biblioteca - Metrópoles Getty Images

Neste semestre, passei um mês em Halifax, Nova Scotia, Costa Leste do Canadá, onde meu filho foi estudar. São impressionantes as diferenças entre nossos países. Já viajei muito, por vários países, com muita convivência social. Quando vou a um país, meu interesse é perceber o que está na cabeça das pessoas, o porquê as pessoas ali estão, como é sua organização social, suas virtudes, e pensamentos. Nas palavras de Max Weber, objetivamos o verstehen, o que está na cabeça do outro, para a compreensão da ação social.

Halifax é uma cidade de 500 mil habitantes. Descendentes de Escoceses, formam uma comunidade sui generis, distinta no mundo. O Canadá é uma sociedade bastante equilibrada, com alta renda per capita e qualidade de vida. Um dos melhores países do mundo para se morar, junto com os países Escandinavos, Nova Zelândia, e outros. São países que conjugam a eficiência com a graciosidade. Lunenburg, a 100 km de Halifax, é uma preciosidade mundial.

Quando de Halifax ligava o Jornal Nacional da Globo, o melhor telejornal do país, o show de horrores à mostra. Na agora saudosa Salvador na Bahia, 60 mortos em confrontos com a polícia em outubro passado. No jogo Fluminense e São Paulo, um torcedor foi morto no confronto com a PM. Em Belo Horizonte, uma criança foi morta por bala perdida. No Rio de Janeiro, mais de 30 ônibus são incendiados pelas milícias. Quando via o noticiário local em Halifax, avisavam sobre os novos carros de polícia para a proteção da população, sobre os desvios de trânsito para recuperação da cidade para o inverno. Experimentamos no fim de semana de 16 e 17 de setembro a chegada do Furacão Lee na Nova Scotia, com ventos de até 130 km/h na costa, chegando já como ciclone tropical em Halifax com ventos de 80 km/h a 100 km/h. Toda a cidade se preparou de véspera, com o sistema de suprimentos funcionando, a defesa civil em alerta. No Brasil, no Rio Grande do Sul, o último ciclone deixou o lamentável saldo de 38 mortos. Em São Paulo, a maior cidade do país, na recente tempestade tropical, 6 mortos e falta de eletricidade para milhares de pessoas por várias semanas. Em Maceió, um bairro afunda na atividade econômica de uma mina de sal mal projetada, na desfaçatez da política e da administração pública.

O Canadá adota o sistema parlamentarista de governo. Cada cidade é repartida em distritos, cada distrito com o seu próprio “prefeito”. O legislativo é eleito pelo voto distrital. Isto aproxima o eleitor do eleito, com sistema recíproco de cobrança e representatividade. E é assim até o Parlamento Nacional. Problemas, lógico que existem. Mas a comunidade trabalha para resolvê-los, com a solução em sua maioria.

O Brasil certamente tem sua graciosidade, mas não temos muita eficiência, a não ser em alguns setores específicos, como o financeiro e o agrobusiness. A Embraer é hoje a terceira maior produtora de aviões comerciais do mundo. Em pontos específicos, podemos estar bem, mas na média, a desejar. O Canadá caminha para lá, e nós para cá, na direção inversa.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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