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Com bolo e café, as tardes com Rita (Mirian Guaraciaba)

Na Pompeia, dividimos muitas vezes a mesa com Rita Lee

atualizado 16/05/2023 1:16

imagem colorida mostra cantora rita lee. ela é branca e tem cabelo vermelho - metrópoles

Narinha tem memória melhor que a minha. Seleciona melhor. Temos a mesma idade, Rita tinha quatro a mais do que nós. Achando que não merecia tanto, lembrei com saudade imensa das tardes em que batíamos papo com nossa maior roqueira, em torno de uma mesa de lanche, bolo e café fresquinhos. Rua Venâncio Aires, Pompeia, tradicional bairro paulista. Ela era então vocalista dos Mutantes.

Narinha ri quando peço detalhes de suas lembranças. “Rita entrava porta adentro, sem aviso, muitas vezes puta da vida com Serginho e Arnaldo, e passava horas reclamando da falta de parceria”. A casa vizinha à dos Mutantes era de Vera Helena. Estudávamos as três juntas, Nara, Vera e eu – num colégio careta, terminando um clássico “curso normal”.

Rita também estudou em colégio tradicional de Sampa. Falava inglês e francês fluentemente, menina audaciosa, corajosa nos seus 19 anos. Tentava fazer Comunicacao na USP. Não terminou. Sua fantasia era outra. Nesses dias de muita “Saúde”, “Desculpe o auê”, “Mania de você”, futuquei com vontade as minhas memórias. Ri mais do que chorei.

Lembrar de Rita jovem, linda, falante, elogiando o bolo que a mãe de Vera Helena assava pras “meninas”, emendando queixas da família de Sérgio e Arnaldo, e dos dois músicos – um dia fizeram o favor de expulsá-la dos Mutantes, ela mesma diria, anos depois. Rita não gostava da “casa da sogra” (era então casada com Arnaldo). “É suja”, dizia. Lanche, nem pensar. Só na vizinha.

Final dos anos 60. Encontrar Rita não era um frisson. Estava na rotina dos últimos dois ou três anos de colégio e cursinho. Hoje, preciosas lembranças de quem se transformou em mega STAR, orgulho brasileiro. Com Rita, passei muitas tardes. Passei a vida. Não mais o bolo e o café. Não mais os vizinhos. Nunca mais a encontrei para um café, mergulhamos em mundos distintos. Hoje, lembrar de Rita viva, vibrante, é privilégio. Essa geração merece.

QUE VERGONHA, CORINTHIANS – Na semana em que se homenageia nossa corintiana mais famosa – Rita Lee brigou, ao lado de Sócrates, pela “Democracia Corintiana”, a torcida mostrou seu pior lado. Na partida contra o São Paulo, no último domingo, a torcida entoou gritos homofóbicos. Torcedores foram advertidos pelo juiz, e continuaram. O clube deve ser processado e julgado pelo Tribunal Superior de Justiça Desportiva. Tomara que seja punido, exemplarmente.

 

Mirian Guaraciaba é jornalista

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