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Argentina e Brasil: espelho quebrado? (por Eduardo Fernandez Silva)

Pode-se dizer que os argentinos vivem melhor que nós? Em certos aspectos, sim, noutros não.

atualizado 04/11/2023 2:13

Hugo Barreto/Metrópoles

É grave a crise do nosso vizinho: inflação, desvalorização da moeda, grande pobreza e queda do PIB. Desejo sucesso ao próximo presidente!

A gravidade é tal que se tornou comum, no Brasil, conversas em que alguns lamentam a situação dos hermanos e outros se mostram incapazes de superar a nada edificante rivalidade futebolística e não escondem um maldoso sorriso, tipo “somos melhores que eles….”

Países são por demais complexos para que uma breve comparação entre eles leve a uma conclusão inequívoca. Além disso, os indicadores usados não são plenamente confiáveis. Apesar disso, vale mirar o espelho e comparar a situação nossa com a deles. Uma autocrítica pode nos ajudar a reconhecer nossos gravíssimos problemas e a encontrar soluções.

Apesar de toda a crise, a renda per capita dos argentinos ainda é maior que a dos brasileiros; eles com US$10.636,00 e nós com US$7.507,00. Esse indicador é fajuto, e não mede quase nada do que é importante na vida. Há outros.

No país austral, da taxa de analfabetismo entre maiores de 15 anos é 0,8%; aqui, chega a 5,6%. Lá, são assassinados 4,6 hermanos a cada 100.000 pessoas; aqui, são 23,4! O Índice de Desenvolvimento Humano deles era 0,825 em 2018, e o do Brasil apenas 0,759, sendo 1 o ideal. Sem ter tido acesso a dados mais recentes, horroriza saber que 0,4% dos argentinos viviam com menos de US$1,90 por dia em 2017, situação que afetava 4,8% dos brasileiros.

Muito da situação atual dos argentinos é herança de um período ultrapassado, e as crises atuais corroem esse legado. Não deixa de refletir, porém, a situação em que eles vivem, assim como os dados do Brasil mostram a nossa situação.

Os argentinos têm mais acesso a esgoto que os brasileiros, e lá há mais médicos e leitos hospitalares que aqui, proporcionalmente. Eles têm menos crianças em creches do que nós, mas mais estudantes em nível superior, e mais anos de escolaridade. E seus resultados no exame de avaliação do aprendizado, o PISA, foram bem melhores que os nossos. Diabéticos, lá, são 5,4% da população, enquanto aqui são 10,4%. A taxa de mortalidade infantil dos vizinhos é de 9,9 bebês a cada mil nascidos vivos, contra 13,5 dos brasileiros.

Os argentinos vivem mais que nós: em 2023, maiores de 65 anos eram 12,1% da população; no Brasil, 9,6%. Nossos vizinhos ao sul do Prata padecem com 26 casos de tuberculose anuais, por 100.000 habitantes, e nosotros ainda sofremos com 35!

Reiterando que as comparações entre países devem ser vistas com cuidado, o Brasil apresenta-se melhor em pelo dois indicadores: temos menos fumantes acima de 15 anos de idade (23,3% lá, e 13,3% aqui) e menor proporção de pessoas com sobrepeso ou obesas (62,7% lá, contra 56,5% entre nós).

Em conclusão, pode-se dizer que os argentinos vivem melhor que nós? Em certos aspectos, sim, noutros não. Mas há ainda outro ponto importante: mais que rir ou ter pena deles, devemos nos unir, reconhecendo a gravidade de ambas as crises, as quais continuam sem claras propostas de solução!

 

Eduardo Fernandez Silva. Mestre em economia. Ex-Diretor da Consultoria legislativa da Câmara dos Deputados

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