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A lógica do terrorismo (por Ricardo Guedes)

Todo e qualquer terrorismo somente termina quando se resolvem as causas que o geraram

atualizado 03/11/2023 16:11

Embaixada de Israel faz cartazes anti-Hamas: "terroristas palestinos"

Ao término da Primeira Guerra Mundial, a Palestina passou a ser administrada pelo Mandato Britânico. A Resolução 181 da ONU de 19 de novembro de 1947 estabeleceu a partilha da Palestina para a formação do Estado de Israel e do Estado Palestino, sem a aceitação por parte dos Palestinos e dos países Árabes e Islâmicos. Em 14 de maio de 1948, ao término do Mandato Britânico, Israel declarou a independência com a formação do Estado de Israel, sem a formação do Estado Palestino. As guerras sucessivas, desde a sua formação, e a expansão territorial de Israel à maior parte de Gaza, na fronteira com o Egito, à Cisjordânia, nas terras agricultáveis, e às Colinas de Golan, com cerca de 80% das reservas de água da região, leva o Oriente Médio à instabilidade.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos define terrorismo como “violência premeditada e com motivação política perpetrada contra alvos de não combatentes por subgrupos nacionais ou agentes clandestinos”. A literatura é vasta, com autores como Paul Wilkinson, Bruce Hoffman, e outros. Esses movimentos existem quando um grupo, de maior ou menor representatividade, se sente compelido a não exercer aquilo que acredita ser os seus direitos, por percepção, ou de fato. Assim tem sido na Irlanda do Norte, no “País Basco”, e no Oriente Médio, em suas devidas proporções. A morte de líderes de organizações terroristas é sempre substituída por outro líder, já que o que move o terrorismo é a intrínseca insatisfação do movimento insurgente, nem sempre meritório, sempre chegando a extremos em suas ações.

No caso do Oriente Médio, berço de nossa civilização e de nossos problemas, o encontro de três civilizações, a Islâmica, a Judaica e a Cristã, leva a dificuldades nas negociações, uma vez que o equilíbrio tripartite é sempre instável, já que quando duas partes chegam a um acordo a terceira parte dificilmente concorda, em instabilidade contínua. O equilíbrio em disputas bipartite é significativamente mais fácil, com possíveis “soluções ao meio”.

Em Pesquisa Mundial da Sensus, a anteposição de percepções entre Árabes e Judeus é nítida. Com relação aos “valores a serem transmitidos aos filhos”, na Síria 42% apontam a “religião”, em Israel 10%. Com relação a ter uma “renda ou emprego melhor”, os Sírios apontam “ter amigos influentes”, enquanto os Judeus indicam “trabalhar com determinação”. Em Israel, o “carro” é apontado como o principal meio de transporte, na Síria o “ônibus e taxi”. E por assim em diante. As variáveis são invertidas.

No caso da guerra entre o Hamas e Israel, as dificuldades de desfecho são acentuadas, na guerra de guerrilha contra exército regular. A destruição da rede urbana de Gaza pode levar a uma longa “guerra nos escombros”, o que limita a mobilidade de tropas tradicionais, como ocorreu em Stalingrado na Segunda Guerra Mundial, como bem retratado no filme Círculo de Fogo de Jean-Jacques Annaud com Jude Law. A lógica do terrorismo é a de ações pontuais, com a desmoralização recíproca dos contendentes, o tempo como variável em seus cálculos.

Desfecho imponderável, embora trágico.

Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, CEO da Sensus, e Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro

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