Não é raro encontrar notícias que correlacionam vantagens no consumo de uma dose de bebida, em especial, do vinho, à saúde. Mas há uma confusão na análise da informação e, principalmente, no viés das evidências científicas.
É comum ouvir dizer que uma taça de vinho faz bem à saúde do coração, por conta da presença de resveratrol, substância antioxidante presente na casca da uva e, consequentemente, na bebida. Porém, as pesquisas são bem controversas.
Os efeitos positivos observados pela ação do álcool não estão relacionados à bebida em si, mas a outros hábitos, como alimentação e atividade física. Além disso, existem muitas fragilidades metodológicas que fazem “parecer” que existe efeito protetor do coração nos estudos antigos. Ao contrário disso, evidências recentes deixam bem claro que não existe uma dose saudável de álcool.
O perigo em construir a falsa ideia de que uma dose de bebida é saudável seria pelas pessoas com síndrome metabólicas ou demais problemas de saúde, que deviam, portanto, evitar a bebida, e acaba tendo o consumo reforçado pela falsa ideia de algum benefício.
Uma das pesquisas mais recentes, inclusive, analisaram 371.463 adultos com idade média de 57 anos consumindo cerca de nove bebidas por semana. A conclusão foi que aqueles que bebiam de forma leve a moderada tinham menores riscos para doenças cardiovasculares, seguidos pelos que não consumiam álcool em relação ao que tinham alto consumo.
Além disso, os que consumiam menor quantidade de bebida tinham melhores hábitos de vida, como boa alimentação e prática de atividade física. Logo, os riscos reduzidos de doenças cardiovasculares eram devidos aos bons hábitos de vida, e não devido à substância na bebida. Não existe dose de álcool saudável, qualquer consumo, em qualquer quantidade, está associado a um maior risco cardiovascular.
(*) Thaiz Brito é nutricionista pós-graduanda em Nutrição Esportiva Clínica
