Esclerose múltipla: mulher expõe dificuldade de diagnóstico em negras

Aline de Souza passou a usar suas redes sociais para conscientizar público de como é a vida após o diagnóstico de esclerose múltipla

atualizado 24/07/2023 14:14

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Foto mostra mulher negra sorrindo para a câmera em ambiente hospitalar. Ela tem um acesso conectado a seu braço - Metrópoles Acervo Pessoal/Metrópoles

Os sinais da esclerose múltipla estavam todos ao redor de Aline de Souza, mas ela demorou a percebê-los. A influenciadora e auxiliar de produção de 29 anos vive há cinco anos com a doença.

Em 2018, ela começou a sentir formigamento dos membros, tontura e perda de força constante nas mãos, mas achava que estava cansada. Curiosamente, uma amiga da família tinha esclerose múltipla e a jovem conhecia os sintomas, mas não conseguiu identificá-los em si mesma.

Nem os médicos conseguiram apontar o diagnóstico de cara. Apesar dos indícios e da progressiva piora, os profissionais de saúde acreditavam que ela estava passando por uma crise de ansiedade. Mesmo com os exames mostrando a debilitação dos nervos, foi difícil para os médicos identificar a esclerose múltipla.

O fato de Aline ser uma mulher negra pode ter dificultado o diagnóstico. “O caso foi surpreendente até para o meu médico. Se chegou a cogitar que eu tinha neuromielite óptica (NMO), quadro mais comum em mulheres negras, mas depois de um mês confirmamos que era esclerose”, lembra.

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Aline internada nove vezes com crises da doença, sendo hospitalizada por períodos entre 10 e 20 dias

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Hoje ela tem a doença controlada, mas não há uma cura definitiva para a esclerose múltipla

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Os primeiros sinais da esclerose apareceram em 2018, quando ela tinha 24 anos

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Aline chegou a não conseguir caminhar direito por conta de uma crise da doença

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O que é a esclerose múltipla?

A esclerose múltipla é uma doença que atinge especialmente mulheres jovens, entre os 20 e 30 anos. Ela é uma doença inflamatória e neurodegenerativa em que as células de defesa do corpo começam a atacar as terminações nervosas do indivíduo.

“Se diz existir uma predominância em mulheres brancas, mas isso pode ser uma consequência dos primeiros estudos, que podem ter subnotificado e apagado a doença entre mulheres negras. Hoje em dia sabemos que a cor da pele não tem um papel essencial”, explica a neurologista Raquel Vassão, de Belo Horizonte (MG).

Segundo Raquel, a persistência e a progressão dos principais sintomas é que deve ser considerada na hora de determinar o diagnóstico. Os sinais podem aparecer isolados ou em conjunto, mas vão piorando com o passar dos dias conforme duram as crises. São sinais:

  • Perda da qualidade da visão, com embaçamento;
  • Formigamento dos membros;
  • Dormência e alteração da sensibilidade, especialmente dos membros;
  • Desequilíbrio;
  • Perda de potência muscular e enrijecimento;
  • Disfunção do controle da urina e das fezes.

Os tipos de esclerose múltipla

A partir da análise dos sintomas, é possível determinar o tipo de esclerose múltipla que o paciente tem. A doença é dividida em três formas, conforme o ritmo de avanço da enfermidade. Aline tem a mais comum, a Esclerose Múltipla Recorrente Remitente (EMRR), que acomete cerca de 85% das pessoas com a doença.

Já na Esclerose Múltipla Progressiva Primária (EMPP), não há presença de surtos, como no caso de Aline. A manifestação de sintomas e sequelas é progressiva e, por isso, o tratamento é mais complicado.  No geral, pessoas com este quadro são diagnosticadas após os 40 anos.

Por fim, a Esclerose Múltipla Secundária Progressiva (EMSP) ocorre com indivíduos que têm EMRR, mas, durante um dos surtos, a doença se torna progressiva e o paciente acaba desenvolvendo um quadro muito semelhante ao de EMPP.

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Esclerose múltipla é uma doença autoimune, neurológica e crônica que gera alteração no sistema imune de quem a possui. A condição faz com que as células de defesa do corpo humano ataque o sistema nervoso central e, como consequência, provoque lesões musculares e cerebrais

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Em outras palavras, a condição resulta em danos permanentes com a destruição dos nervos, o que leva a problemas de comunicação entre o cérebro e o resto do corpo. Os sinais iniciais da doença dependem de quais nervos foram afetados

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Fraqueza muscular, sensação de dormência ou formigamento em braços e pernas, cansaço extremo e lapsos de memória são comuns. Além desses, fala lentificada, pronúncia hesitante das palavras ou sílabas, visão embaçada ou dupla, tremores e dificuldade para engolir são alguns dos principais sintomas

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Esses sintomas surgem ao longo da vida com a progressão da esclerose múltipla, sendo mais evidentes durante os períodos conhecidos como crise ou surtos da doença. Além disso, eles podem ser agravados quando há exposição ao calor ou febre

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As causas da doença ainda são desconhecidas. No entanto, sabe-se que os sintomas estão relacionados com alterações imunológicas. Estudos apontam que ter entre 20 e 40 anos, ser mulher, ter casos da doença na família, ter baixos níveis de vitamina D e doença autoimune são alguns dos fatores associados à condição

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Por ter origem desconhecida até o momento, não existe cura para a esclerose múltipla. Contudo, há tratamentos que ajudam a atenuar os sintomas e desacelerar a progressão da doença

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O tratamento da esclerose múltipla é feito com medicamentos indicados pelo médico que ajudam a evitar a progressão, diminuir o tempo e a intensidade das crises, além de controlar os sintomas

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A fisioterapia também é importante para controlar os sintomas, pois permite que os músculos sejam ativados, evitando a fraqueza nas pernas e a atrofia muscular. Ela é feita por meio de exercícios de alongamento e de fortalecimento muscular

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Ao contrário do que possa imaginar, a esclerose múltipla não é uma doença tão rara assim. De acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), a estimativa é de que 40 mil pessoas possuem a doença apenas no Brasil. No mundo inteiro, segundo o Ministério da Saúde, esse número sobe para 2,8 milhões

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Nove internações em quatro anos

A descoberta de que tinha a doença não foi um alívio imediato para Aline. Entre 2018 e 2022, ela precisou ser internada nove vezes com crises da deonça, sendo hospitalizada por períodos entre 10 e 20 dias.

Neste período, passou por várias manifestações sintomáticas: teve de usar bengala durante algum tempo e, em outra crise, teve paralisia facial. Em uma situação, o problema surgiu na garganta, atrapalhando a capacidade de engolir e de se alimentar.

Hoje em dia, Aline está em um momento estável da doença, sem crises há um ano. “Sei que posso ter uma nova crise, mas também aprendi a entender os sintomas e se devo ou não ir para o hospital. Como tudo na vida, até com a doença a gente se acostuma”, diz ela.

Não há, no entanto, uma cura definitiva para a doença. “Como a maioria das doenças imunomediadas, a esclerose múltipla não tem um tratamento só que resolve tudo. A gente tenta reeducar as células do corpo para evitar que formem novas frentes de ataque e vamos atuando nos sintomas”, completa a neurologista Raquel.

A vida após o diagnóstico

Apesar das dificuldades impostas pela esclerose múltipla, Aline leva uma vida bastante normal. Trabalha, vai à academia e mantém um tratamento constante usando os medicamentos injetáveis indicados pelo médico, além de fazer sessões de fisioterapia.

A jovem decidiu usar as redes sociais para compartilhar informações sobre a doença e conscientizar o público de que, apesar das limitações, a vida pode ser levada com bastante humor.

“Um eco antigo ficou em relação à esclerose múltipla: de ser um fim de linha, que vai deixar a pessoa na cadeira de rodas. Este é o cenário para uma minoria dos pacientes e, mesmo em quem tem movimentação limitada, podemos fazer intervenções para recuperar as terminações nervosas. Há muita vida após o diagnóstico”, afirma a médica.

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