Esclerose múltipla: opções de tratamentos avançam com novos estudos

Pesquisas com células-tronco e vacinação são apontados por neurologistas como o futuro do tratamento da esclerose múltipla

atualizado 23/01/2023 11:10

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Imagem colorida - remédios e seringa - Metrópoles Reprodução

A esclerose múltipla é uma doença que ainda intriga a medicina. Cientistas de diferentes partes do mundo tentam desenvolver tratamentos inovadores que possam levar à cura da condição que afeta a vida de aproximadamente 2,8 milhões de pessoas. Porém, um dos principais desafios ainda é entender completamente o que a desencadeia.

“É difícil falar de cura de uma doença que não conhecemos totalmente a causa. Sabemos que vários fatores podem ocasionar a condição, mas não o que dá o start”, explica a coordenadora do ambulatório de neurologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e médica nos hospitais Sirio-Libanes e DF Star, Priscilla Proveti.

A esclerose múltipla é uma doença heterogênea, que envolve a hiperativação do sistema imune e a neurodegeneração do sistema nervoso central. Ela faz com que as células de defesa do organismo ataquem a bainha de mielina, uma espécie de capa de isolamento que protege os neurônios.

Essas lesões podem ocorrer no cérebro, na medula ou nos nervos ópticos, causando sintomas como fadiga intensa, fraqueza muscular, dormência, disfunção intestinal e da bexiga e alterações da coordenação motora, por exemplo.

“De certa forma, sabemos hoje como controlar a inflamação no sistema nervoso central, mas não como parar a neurodegeneração completamente e como regenerar o que foi perdido”, afirma o neurologista Felipe von Glehn, médico do Hospital Sírio-Libanês e professor da Universidade de Brasília (UnB).

Existe uma porção de tratamentos aprovados pelas agências reguladoras de medicamentos que tentam prevenir a progressão do quadro por meio de diferentes estratégias, como canetas de aplicação – semelhantes às usadas no controle da diabetes –, terapias infusionais, transplante autólogo de medula óssea e as pílulas orais.

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Esclerose múltipla é uma doença autoimune, neurológica e crônica que gera alteração no sistema imune de quem a possui. A condição faz com que as células de defesa do corpo humano ataque o sistema nervoso central e, como consequência, provoque lesões musculares e cerebrais

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Em outras palavras, a condição resulta em danos permanentes com a destruição dos nervos, o que leva a problemas de comunicação entre o cérebro e o resto do corpo. Os sinais iniciais da doença dependem de quais nervos foram afetados

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Fraqueza muscular, sensação de dormência ou formigamento em braços e pernas, cansaço extremo e lapsos de memória são comuns. Além desses, fala lentificada, pronúncia hesitante das palavras ou sílabas, visão embaçada ou dupla, tremores e dificuldade para engolir são alguns dos principais sintomas

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Esses sintomas surgem ao longo da vida com a progressão da esclerose múltipla, sendo mais evidentes durante os períodos conhecidos como crise ou surtos da doença. Além disso, eles podem ser agravados quando há exposição ao calor ou febre

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As causas da doença ainda são desconhecidas. No entanto, sabe-se que os sintomas estão relacionados com alterações imunológicas. Estudos apontam que ter entre 20 e 40 anos, ser mulher, ter casos da doença na família, ter baixos níveis de vitamina D e doença autoimune são alguns dos fatores associados à condição

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Por ter origem desconhecida até o momento, não existe cura para a esclerose múltipla. Contudo, há tratamentos que ajudam a atenuar os sintomas e desacelerar a progressão da doença

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O tratamento da esclerose múltipla é feito com medicamentos indicados pelo médico que ajudam a evitar a progressão, diminuir o tempo e a intensidade das crises, além de controlar os sintomas

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A fisioterapia também é importante para controlar os sintomas, pois permite que os músculos sejam ativados, evitando a fraqueza nas pernas e a atrofia muscular. Ela é feita por meio de exercícios de alongamento e de fortalecimento muscular

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Ao contrário do que possa imaginar, a esclerose múltipla não é uma doença tão rara assim. De acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), a estimativa é de que 40 mil pessoas possuem a doença apenas no Brasil. No mundo inteiro, segundo o Ministério da Saúde, esse número sobe para 2,8 milhões

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Estudos em andamento

Em paralelo aos medicamentos disponíveis, a comunidade científica avança em estudos com o uso de células-tronco em estágio inicial.

“Seguindo a lógica, se um conjunto de defeitos genéticos resultam em um sistema imunológico disfuncional, que agride a si mesmo, poderíamos transplantar células-tronco de pessoas saudáveis. Mas isso não é tão simples, pois elas podem induzir a rejeição. O problema de fazer o transplante de células-tronco autólogo é que, com o passar do tempo, como o defeito genético está lá, existe a possibilidade da doença retornar”, explica o médico do Hospital Sírio-Libanês.

A revista Nature, uma das mais conceituadas do meio científico, divulgou no último dia 13 de janeiro os resultados preliminares de um estudo clínico sobre o uso de células-tronco neurais para tratar a esclerose múltipla progressiva – a forma mais agressiva da doença – em uma tentativa de regenerar o sistema nervoso central por punção lombar.

Na fase 1 do estudo clínico, os cientistas da The New York Stem Cell Foundation, nos Estados Unidos, e da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, conseguiram mostrar que os pacientes toleram bem a abordagem, mas sua eficácia ainda não foi comprovada.

Priscilla, que não participou do estudo, aponta como ponto positivo o fato de a pesquisa mostrar que, aparentemente, os pacientes tiveram menor grau de atrofia cerebral e menor dosagem de algumas citocinas no líquor do cérebro. Mas ela afirma que os resultados ainda são preliminares e é necessário continuar com a pesquisa.

Embora seja um avanço, os especialistas ainda veem muitas limitações no estudo, como o número restrito de pacientes – comum em estudos em fase 1. Além disso, o quadro de todos os participantes continuou progredindo. “Tudo isso demonstra como é complexo o tratamento de doenças que acometem o sistema nervoso central”, afirma Ghlen.

Vacina

A vacinação contra o vírus Epstein–Barr foi apontada, recentemente, como uma forma promissora de tratamento. Um grande estudo com militares dos Estados Unidos mostrou que todos os diagnosticados com esclerose múltipla tinham também histórico de infecção pelo vírus.

Pesquisas anteriores já mostraram uma possível relação entre a infecção viral e o desenvolvimento da doença. O Epstein–Barr é um vírus muito comum: estima-se que nove em cada dez pessoas têm contato com ele em algum momento da vida, mas nem todos desenvolvem esclerose múltipla. Vacinar a população poderia, então, ser uma forma de prevenir a doença.

Tratamentos aprovados

Enquanto esses estudos não avançam, os pacientes têm à disposição medicamentos chamados de alta eficácia, mais fortes, aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As opções de uso oral são consideradas um avanço importante: além de funcionarem bem, conseguem proporcionar mais bem-estar aos pacientes que não se adaptam às agulhas das canetas aplicadoras.

“O neurologista escolhe o tratamento de acordo com fator de risco, idade e desejo de gravidez, por exemplo. Normalmente, escolhemos as medicações de alta eficácia”, explica Priscilla.

Os médicos tendem a ser mais agressivos no tratamento da doença, indicando os remédios de alta eficácia como primeira opção, principalmente em pacientes com fatores de prognóstico melhor, afirma a neurologista do HUB.

“A comunidade que trata esclerose múltipla tem tentado mudar o protocolo de tratamento porque os estudos mostram que quanto mais agressiva é a abordagem, melhor o paciente responde ao longo do tempo”, afirma Priscilla.

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