Trauma, noites em hotel, fila da moradia: 1 mês da tragédia no litoral

Após um mês da tragédia que matou 65 pessoas no litoral norte de SP, famílias dormem em pousadas que antes eram usadas por turistas

atualizado 18/03/2023 9:38

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São Paulo – Desde a tragédia provocada pelos deslizamentos de terra que mataram 65 pessoas e deixaram milhares de desabrigados no litoral norte paulista, há um mês, o pedreiro Jorge Alves da Silva, de 61 anos, não dormiu mais em casa.

Ele é uma das 1.096 pessoas que passaram os últimos 30 dias entre abrigos e pousadas de São Sebastião, cidade mais castigada pelo temporal durante o Carnaval, à espera de uma solução de moradia após o desmoronamento comprometer a estrutura de sua casa, na Vila do Sahy, epicentro da tragédia.

Nessa sexta-feira (17/3), 270 famílias foram autorizadas pela Prefeitura de São Sebastião a voltar de vez para casa depois tragédia. Silva não está na lista, mas não aguenta mais esperar. “Amanhã (sábado, 18/3) eu vou dormir em casa. A prefeitura diz que não aconselha, mas eu vou”, conta o pedreiro.

Ele dormiu as últimas semanas em uma pousada cuja diária antes da tragédia era de R$ 500. Na hora do almoço e do jantar, sempre passava em casa e só retornava para pernoitar na pousada providenciada pelo governo paulista, por meio de doações. “Tem muita gente que faz isso”, conta.

Segundo a Defesa Civil de São Sebastião, 80 casas estão condenadas, mas há 520 que ainda estão sendo monitoradas. Cerca de 160 policiais militares permaneceram na região, encarregados de garantir a segurança no local e ainda evitar saques.

Silva está em uma pousada graças a um acordo feito entre a Prefeitura, o governo do Estado e os proprietários das pousadas, que recebem pagamento para garantir a moradia dos desabrigados. “Tem tudo lá (na pousada). Eu que prefiro ficar em casa”, completa Silva.

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O governo do Estado alocou outras 1.200 pessoas de São Sebastião em 300 moradias na cidade vizinha, Bertioga, a 46 quilômetros de distância, uma solução defendida pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), que foi governador de São Paulo por mais de 12 anos.

Na semana passada, o Ministério Público Federal (MPF) e a Promotoria de São Paulo avaliaram que um decreto editado por Alckmin em 2017, no governo do estado, facilitou a ocupação de áreas de risco na região.

Atendimento social

O ponto central de atendimento às famílias atingidas pela tragédia, nos dias seguintes à tragédia, foi uma organização social que estava localizada na Vila do Sahy, epicentro da tragédia, que fica do lado oposto da Rodovia Rio-Santos onde está situada a balada praia Barra do Sahy.

Passado um mês, as salas de aula transformadas em dormitório no Instituto Verdescola já voltaram a receber alunos. Mas, até a última sexta-feira, não havia mais ensino didático na instituição, que prestava apoio escolar para os estudantes no contraturno.

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O governo de São Paulo começou a hospedar pessoas desalojadas na rede hoteleira

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População atingida aguarda pela chegada de doações nos abrigos montados em regiões próximas

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No período pós-tragédia, a instituição ofereceu aulas de artes e atividades lúdicas para que os alunos expressassem os traumas e pudessem encontrar ferramentas próprias para lidar com o que haviam passado desde o Carnaval.

O trabalho se deu após uma capacitação dos professores para lidar com as crianças traumatizadas – dos 65 mortos, 23 eram crianças, 22 homens adultos e 19 mulheres.

O atendimento psicológico também foi o foco das ações do navio de guerra da Marinha que foi levado pelo governo federal para a cidade. O hospital de campanha montado no navio atendeu 170 pessoas.

As doações de roupas e alimentos continuam chegando até a cidade e estão sendo armazenadas em um local na praia da Baleia, que fica entre o centro de São Sebastião e a Vila do Sahy.

Na semana passada, moradores da região fizeram um protesto cobrando transparência na prestação de contas dos valores recebidos, o que fez o Verdescola e a ONG Gerando Falcões divulgaram suas receitas. Juntas, as entidades arrecadaram R$ 31 milhões até a última semana.

Crise política

O cenário da tragédia e as informações do Ministério Público de que já havia ao menos 47 ações para remoção de famílias de áreas de risco da região bem antes da tragédia, criaram instabilidade política na cidade do litoral norte.

Desde a semana passada, o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), enfrenta um processo de impeachment na Câmara Municipal, por suspeitas anteriores aos deslizamentos que mataram 64 pessoas na cidade: desvio de recursos da saúde durante a pandemia de Covid-19, em 2020.

Segundo o Ministério Público, cerca de R$ 20 milhões recebidos pela cidade ao longo da pandemia, que custeariam um hospital de campanha, foram usados para outros fins.

O processo foi aberto na última quinta-feira (16/3). Na semana anterior, no Dia Internacional da Mulher, Felipe Augusto havia escapado de um processo de impeachment por uma acusação de violência doméstica.

Futuro

A gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) desapropriou três áreas em São Sebastião para a construção de moradias. Somados, os terrenos têm cerca de 50 mil metros quadrados. Não há, contudo, data para o início das obras.

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Entre os dias 18 e 19 de fevereiro de 2023, fortes chuvas atingiram o litoral norte de São Paulo

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Entre as áreas atingidas, estão as cidades de Ubatuba, Ilhabela, Bertioga e Guarujá

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Desastre fez o governo de São Paulo decretar estado de calamidade pública na região

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Tragédia deixou milhares de mortos, feridos e desabrigados

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As chuvas levaram, também, ao transbordamento de rios e ao surgimento de um mar de lama

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A calamidade comprometeu o mar e os mananciais de captação de água na região

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A expectativa é que as futuras moradias atendam às pessoas que estão provisoriamente no conjunto residencial de Bertioga, a 46 quilômetros de São Sebastião, e nas pousadas da cidade. Mas não há definições sobre as demais áreas em risco.

Um levantamento feito pela Prefeitura e por técnicos do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) interditou 600 casas na cidade de forma preventiva. Após monitoramento, apenas 80 tiveram a constatação de que precisam ser interditadas definitivamente.

Tarcísio também prometeu implantar um novo sistema de monitoramento de eventos climáticos extremos para emitir alertas aos moradores das áreas de risco e evitar uma nova tragédia como a do último Carnaval.

Na última terça-feira (14/3), o governador se reuniu com as quatro operadoras de telefonia que atuam no estado para discutir a criação de um sistema de alertas mais eficiente. Tarcísio pretende anunciar o novo modelo em breve, para entrar em operação antes da próxima estação chuvosa.

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