São Paulo —O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) registrou, em fevereiro deste ano, o médico cirurgião gaúcho João Batista de Couto Neto, de 47 anos, preso nessa quinta-feira (14/12), mesmo pesando sobre ele denúncias de homicídio doloso.
João Batista é investigado em uma série de inquéritos pela suspeita de ter sido negligente e realizado procedimentos desnecessários que teriam provocado a morte de, ao menos, 42 pacientes e lesões em outros 114 no Rio Grande do Sul.
Em novembro, o médico teve a prisão preventiva decretada após ser indiciado por homicídio doloso em três inquéritos. Sua prisão aconteceu em um hospital de Caçapava, Vale do Paraíba, no interior de São Paulo.
Na época do registro, o Cremesp alegou ter conhecimento da suspensão na licença de João Batista, mas realizou o registro porque se tratava de uma “restrição parcial”.
Em nota ao Metrópoles nesta sexta-feira (15/12), o órgão informou que o médico “é do Rio Grande do Sul e possui registro principal e ativo no CREMERS“. Embora possua registro secundário em São Paulo, a apuração das denúncias, segundo o Cremesp, “cabe às autoridades e ao Conselho do Rio Grande do Sul”.
“Estarrecedor”, diz delegado
Pacientes e ex-colegas de trabalho relataram à polícia que João Batista do Couto realizava cirurgias em excesso e procedimentos desnecessários, além de dar diagnóstico falso de câncer raro.
De acordo com a polícia de Novo Hamburgo, onde o médico atuava, ele realizava um grande número de cirurgias na rede privada para aumentar os ganhos financeiros. Segundo o delegado do caso, Tarcísio Kaltbac, a quantidade de cirurgias impedia Couto Neto de cuidar corretamente das intervenções e dos pós-operatórios.
“Não conseguimos entender por que ele fazia isso com as pessoas. Às vezes, operava uma região do corpo, mas cortava outra que não tinha a ver com a cirurgia. Houve casos de pessoas que definharam no hospital, morrendo aos poucos. Isso é recorrente nos depoimentos”, disse o delegado a O Globo.
“É estarrecedor o que ele fazia. Temos fotos de pessoas com a barriga aberta, apodrecendo, e ele não receitava nada, nenhum medicamento. Dizia que não era nada e que tudo ia passar. Temos relatos de tentativa de suicídio dentro do hospital, por causa de tanta dor”, acrescentou Kaltbach.
O que diz a defesa
Em nota, a defesa do médico disse que a decisão que determinou a prisão preventiva é uma “antecipação de pena” com o objetivo de constranger o profissional. O advogado Brunno de Lia Pires disse que vai apresentar um habeas corpus.
“Com surpresa, a defesa recebeu a notícia da decretação da prisão preventiva do médico João Couto Neto. A decisão não se reveste de qualquer fundamento fático ou jurídico e constitui clara antecipação de pena, com a finalidade de coagir e constranger o médico. Impetraremos ordem de habeas corpus o mais breve possível para fazer cessar a absurda e imotivada prisão”, disse o advogado, em nota.