Mara Gabrilli quer exoesqueleto no Brasil: “Esperança de longevidade”

Em entrevista ao Metrópoles, a senadora Mara Gabrilli conta sobre experiência com exoesqueleto e traça planos para trazê-lo para o Brasil

atualizado 13/05/2023 22:07

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Mara Gabrilli (PSDB), candidata à vice na chapa de Tebet Fábio Vieira/Metrópoles

São Paulo – Há menos de um mês, a senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) recuperou o “prazer de fazer uma dancinha”. O teste com um aparelho de exoesqueleto nos Estados Unidos, em visita da parlamentar a Nova York, permitiu que ela caminhasse novamente.

Em entrevista ao Metrópoles, ela conta que a experiência a fez lembrar com mais perfeição dos movimentos perdidos há 28 anos, quando sofreu um acidente de carro e ficou tetraplégica. “Há muitos anos, desde que quebrei o pescoço, procurava por uma coisa que simulasse uma marcha perfeita”, diz.

A senadora, primeira brasileira a integrar o Comitê da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, retornou ao Brasil com a ideia de difundir a tecnologia no país. Para isso, precisará de negociações com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo.

O seu partido, o PSD, integra a base de ambos os governos, facilitando a interlocução com políticos que foram de polos opostos nas últimas eleições.

No entanto, Mara ainda não manifestou apoio aos nomes que pretendem concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2024. Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, já sinalizou apoio à reeleição do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), mas a senadora criticou ações de zeladoria da atual gestão, a começar pela pavimentação: “É uma buraqueira essa cidade”.

Leia a seguir a entrevista concedida por Mara Gabrilli ao Metrópoles:

Como foi a experiência com o exoesqueleto? Nos vídeos, você parecia muito feliz.

Eu estava feliz mesmo, por várias razões. Há muitos anos, desde que quebrei o pescoço, procurava por uma coisa que simulasse uma marcha perfeita. Nos anos 2000, surgiu um equipamento que anda em cima de uma esteira e a chegada dele ao Brasil já foi um grande avanço. Treino nele com muita assiduidade, ando seis, sete quilômetros por semana. Sempre que eu viajo, procuro saber se tem o equipamento no meu destino para eu não perder o ritmo da marcha. Depois, passei a procurar pelo exoesqueleto, mas era difícil encontrar um que me contemplasse aqui no Brasil porque tenho poucos movimentos de braço e quase todos exigem uma força braçal para funcionar. Normalmente, são feitos para paraplégicos, mas eu sou tetraplégica. Quando vi esse equipamento diferenciado, que não exigia força dos braços, fui atrás e comecei a dar um talento maior ainda no corpo para conseguir utilizá-lo. Aumentei minha massa muscular, tirei gordura, fiz todo um projeto. O vendedor veio para o Brasil num congresso e estabelecemos que eu testaria na minha viagem a Nova York. A empresa é uma startup francesa onde 80% dos funcionários são da área de Tecnologia da Informação. Ele foi feito com um algoritmo criado e aprimorado por mais de 10 anos. O exoesqueleto permite que você ande de lado, de costas, faça curvas. É realmente muito diferenciado, um equipamento leve, com 80 kg, feito de um material que lembra um PVC, um plástico injetável que não machuca. É fofinho onde toca o corpo. Quando eu montei nele, foi tudo muito rápido: já mediu logo minhas pernas. Acho até que levantei mais rápido do que ele, tamanha minha ansiedade para testar [risos]. E ele tem mais um item que é absurdo de incrível: você pode ir tirando a força dele.

Como assim, tirando a força?

Você consegue regular o quanto o equipamento trabalha por você. No primeiro dia, fiquei 66 minutos andando e não tive queda de pressão. Isso é muito tempo. Consegui acelerar meu coração como alguém que faz uma caminhada. No segundo dia, eles tiraram um pouco da força do equipamento, foi quando eu senti ele mais pesado. Depois, soube que usei 70% da minha força no exercício.

“Foi como se o cérebro fosse lembrando e fosse ativando áreas que foram me ajudando a fazer a marcha.”

Além do treino, do exercício, do prazer de fazer uma dancinha, eu vi a vibração de todo mundo. Vi como o nosso corpo é incrível, como vale a pena investir, como tem essa capacidade, essa neuroplasticidade de se recriar e repaginar e como o arquivo de andar e mexer está dentro da gente. É um equipamento que dá a oportunidade de mexer, parece que o corpo em segundos já entende o que ele pode fazer. Imagina quantas pessoas vão poder se beneficiar com ele? Gente com Parkinson, AVC, traumatismo craniano, pessoas com doenças raras, pessoas com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). É uma esperança de longevidade, estamos falando sobre andar, que é o remédio mais saudável que a gente tem no corpo.

Você pretende trazer o exoesqueleto para o Brasil?

Minha ideia é de criar “walking clubs” (clubes de caminhada, na tradução livre do inglês) no Brasil utilizando estruturas já existentes, como a rede Lucy Montoro, o AACD, a rede Sara Kubitschek e até algumas academias – desde que tenham equipes treinadas para realizar os treinos. Esses “walking clubs” seriam pontos com pessoas treinadas para permitir que as pessoas utilizem os exoesqueletos para se movimentar. A gente quer que isso se espalhe por todo o Brasil e as pessoas criem esse hábito. Agora a gente precisa primeiro trazer o equipamento, fazer um protocolo de pesquisa, fazer uma parceria com a França ou os Estados Unidos, já que esse equipamento foi aprovado pela FDA (agência reguladora norte-americana) e isso pode nos ajudar a aprovar um registro na Anvisa (agência de vigilância sanitária brasileira).

Há disponibilidade para trazer essa tecnologia de forma acessível para o Brasil? A ideia é fabricar o exoesqueleto aqui?

A gente conseguiria recursos com a Secretaria da Pessoa com Deficiência de São Paulo, mas eles querem trazer mais exoesqueletos, vender mais, e existe também o custo do treinamento de quem pode operar a tecnologia. No vídeo, aparece uma moça atrás de mim segurando um tablet que via tudo o que eu tinha que fazer. Esse treinamento é custoso, exige uma manutenção. O custo dele é em torno de 250 a 300 mil dólares (entre R$ 1,2 milhão e R$ 1,5 milhão), mas a gente não consegue pensar em trazer só um e essa é a grande discussão que temos com a empresa. Eles estão valorizando nosso mercado, querem vir para o Brasil, viram que tem aceitação e alguns dos melhores centros de reabilitações do mundo. Por causa da Covid, muita gente foi parar em centros de reabilitação e muitos dos centros aqui viraram centros de robótica. A gente tem um mar de esperança, de novos caminhos e do uso da tecnologia a serviço da humanidade e da nossa saúde. É um futuro que já chegou.

Você já se reuniu com alguém do governo federal para tratar desse assunto?

Marquei uma reunião com a ministra da Saúde [Nísia Trindade] e estou trabalhando também para me reunir com o vice-presidente [Geraldo Alckmin], que já conhece o equipamento, está ciente de como ele funciona e tem interesse em adquirir. O Gilberto Kassab [secretário de Governo de São Paulo], que foi ministro de Ciência e Tecnologia, também se encantou com o equipamento, assim como o governador Tarcísio de Freitas. Eles percebem que, com um equipamento desses, um investimento em reabilitação fica muito mais barato para o SUS a médio e longo prazo. Eu sou um exemplo: sempre tive oportunidade de trabalhar meu corpo, isso facilitou o uso do exoesqueleto. Não é qualquer um que vai sair andando em um equipamento desses, a pessoa precisa de força, massa muscular, treino. Existem várias formas para ajudar a pessoa a ficar forte.

Você mencionou o Kassab, que é presidente do seu partido. Desde que saiu do PSDB, como tem avaliado as brigas entre os tucanos?

Essa foi uma das razões para deixar de ser tucana: havia tanto a fazer ao invés de ficar brigando e disputando poder. Eu quero trabalhar. É bom citar o Kassab, porque tenho uma admiração por ele: assim como eu, ele quer trabalhar, não quer picuinha, quer ver onde é possível abrir portas, aprimorar mais os projetos. O PSD me ajudou a derrubar o veto à prorrogação do Pronas e do Pronom. São projetos que a gente consegue investimento em pesquisa, que dizem respeito a oncologia e pessoas com deficiência. É uma pena o PSDB, com todo o histórico incrível que tem, com tudo o que já fez pelo país, perder tempo com questões menores. Ao invés de produzir política pública, ajudar o país a sair da situação em que está, os tucanos ficam perdendo o tempo brigando uns com os outros. Estou dedicada a ver meu país se desenvolver, não estou muito preocupada em saber qual partido que é o do governo. Na hora de trabalhar, não enxergo partido, mas sim amor pelo Brasil.

E como está a relação com o governo Lula?

Não tenho tido absolutamente nenhum problema com esse governo. Levo tanta seriedade no meu trabalho que eu gravito entre todos os partidos com muita facilidade.

“Posso ter as minhas desavenças com o próprio presidente da República, mas é inegável, até para ele, o trabalho que eu faço”.

Sou de novo a indicada do Brasil para representar o país num comitê da ONU das Pessoas com Deficiência. E é uma indicação do presidente da República. Procuro todos os partidos para construir, tenho conseguido trabalhar bem. É minha forma de trabalhar. O que mais aprendi no Parlamento é de admirar um pouco a diversidade, o sotaque diferente, trabalhar de alguma forma com pessoas diferentes. Pode ser que essa pessoa venha a ser relatora de um projeto seu, algo que beneficie o país. Por isso, prefiro conversar, não fazer uma divergência política, uma inimizade.

Em relação à disputa à Prefeitura de São Paulo no ano que vem, o PSD tem sinalizado que apoiará a reeleição do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). Você já definiu se apoiará Nunes, Ricardo Salles, Guilherme Boulos ou outro nome que surgir?

Não. Não defini nenhum apoio. Por enquanto, ainda estou observando quem está por vir, quem está interessado, como está a cidade, quantos buracos a cidade tem, o quanto a população de rua tem aumentado.

Essas reclamações são relativas à zeladoria, que compete ao atual prefeito. Qual deve ser o foco do próximo prefeito?

O próximo prefeito precisa de um talento bem forte em várias direções. Retomar coisas que pararam e que estagnaram.

Como o quê?

A pavimentação. É uma buraqueira essa cidade. Eu, com uma vida tão corrida, faço muita coisa dentro do carro. Inclusive almoçar. E ultimamente não está dando não. Tive que mudar o tipo de alimento que estou consumindo no carro, porque dependendo do que for, se eu tiver algum compromisso depois, vira tragédia [risos]. Mas o prefeito tem que olhar as pessoas em situação de rua, a questão da Cracolândia. Quantos passaram [pela Prefeitura] e tentaram [acabar com a Cracolândia]? E a Educação Infantil, cadê o investimento na primeira infância que o Bruno [Covas, de quem Nunes foi vice] tanto valorizava e tanto falava? Se não investir na primeira infância, como a pessoa vai se formar na faculdade? A primeira infância é primordial. E isso é algo que estagnou. Com tudo o que a gente passou, com a pandemia, a morte de um prefeito [Bruno Covas, em 2021], conflitos fora do Brasil, desastres naturais, agora a gente precisa investir também em suporte à saúde mental. As grandes metrópoles sofrem mais com isso e São Paulo está entre elas. Precisamos de uma prefeitura com um olhar muito aguçado para a saúde mental.

Qual sua sugestão para essa área?

Olha, há projetos de inclusão da pessoa com esquizofrenia, de transtornos do espectro autista na rede regular de ensino. A gente tem grandes investimentos para fazer nessa área. Sei de pontos focais trabalhando para que isso melhore, mas já é necessário aumentar porque a demanda é muito grande e a oferta não está dando conta. A gente tem uma boa Secretaria da Pessoa com Deficiência no município, a Silvia [Grecco, gestora da pasta] faz um bom trabalho de forma transversal. Essa secretaria, sozinha, não consegue existir sem trabalhar concomitantemente com todas as áreas, seja na saúde, no esporte, na educação, na infraestrutura. Ela faz muito com muito pouco, a gente tem que elogiar.

Sobre a Cracolândia, o achou do “hub” inaugurado recentemente pelo governo estadual em parceria com a Prefeitura?

Ainda não dá para avaliar. Eu passo às vezes por lá para observar e já assisti cenas de cortar o coração. Assisti, uma vez, uma família inteira indo buscar a mãe. Estou falando de crianças, marido, pais, eles entraram no meio de todo mundo, acharam a mãe e quando saíram com ela, a mãe largou todo mundo e voltou correndo para o fluxo. Eu chorava, porque sei que é uma doença, é uma questão de saúde pública. Não adianta querer resolver isso num dia, mas precisamos de estrutura para acolher essas pessoas e saber que estão doentes, que estão sem discernimento para fazer essa escolha. A droga é muito mais forte, o corpo pede, a mente pede. A pessoa vai se esvaziando de amor, passa a ser outra pessoa.

“Para trabalhar com isso é necessário um trabalho multidisciplinar que envolva várias secretarias. Não vai conseguir colocar todo mundo no mesmo lugar, dopar para levar embora e ir tratar.”

São casos e casos. A gente sabe que tem que ter o envolvimento da polícia, também, porque estamos falando de traficantes pequenos, traficantes grandes, de alguns policiais que se envolveram nessa situação do tráfico. E estamos falando de gente que vai fumar um baseado e passa por lá, e também de pessoas que moram e se instalaram lá. Para toda sorte de situações e todas as instâncias é necessário um olhar trajado de direitos humanos.

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