São Paulo — O apagão que deixou mais de dois milhões de imóveis sem energia na Grande São Paulo uniu adversários de Ricardo Nunes (MDB) nas críticas contra o prefeito da capital e respingou no projeto de privatização da Sabesp do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Tanto o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) quanto o deputado bolsonarista Ricardo Salles (PL), ambos pré-candidatos à Prefeitura na eleição do ano que vem, voltaram a artilharia contra Nunes por causa da reação do prefeito à crise na cidade envolvendo a concessionária de energia Enel.
Além de usar a crise para marcar diferenças ideológicas em relação a privatizações — a antiga Eletropaulo (atual Enel) foi privatizada em 1998 — Boulos atacou atitudes de Nunes durante a crise, como sugerir uma “taxa de contribuição” de moradores para enterrar fios da rede elétrica e ir aos eventos UFC Brasil e Fórmula 1 no auge do apagão na cidade.
Nas redes sociais, o deputado do PSol chamou o prefeito e candidato à reeleição de “Rei do Camarote”. A crítica viralizou a ponto de chegar ao outro extremo ideológico. O deputado estadual bolsonarista Lucas Bove (PL) fez uma montagem de Nunes usando a mesma expressão em uma paródia da revista Caras. A piada foi repostada por Ricardo Salles, adversário de Boulos e Nunes.
No caso dos bolsonaristas, o grupo aproveitou a crise do apagão na cidade para ampliar as críticas ao prefeito, diante do acúmulo de insatisfações com Nunes, que vinha tentando obter apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à sua reeleição sem querer abrir espaço na Prefeitura e ceder a vaga de vice na chapa ao bolsonarismo. Por isso, uma ala bolsonarista já tem o prefeito como inimigo.
Segundo um deles, “é inadmissível São Paulo ficar tanto tempo sem luz” e a declaração de Nunes propondo uma “taxa de contribuição” aos moradores da cidade para acelerar o enterramento de fios foi “desastrosa”. Diante das queixas, o prefeito recuou, dizendo que foi mal interpretado.
Impacto sobre privatização da Sabesp
Assim como nos ataques a Nunes, bolsonaristas também convergiram com petistas e psolistas nas críticas ao projeto de privatização da Sabesp por causa do apagão na rede da Enel. Um aliado de Bolsonaro disse que é “um desatino insistir com o plano neste momento” e que o projeto do governo Tarcísio pode “ajudar a eleger o Boulos prefeito” na eleição do ano que vem.
O projeto de privatização da Sabesp está em discussão neste momento na Assembleia Legislativa (Alesp) e Tarcísio quer aprová-lo ainda neste ano. Os bolsonaristas afirmam que a crise da Enel tornou a proposta mais impopular e já levaram a preocupação com o impacto político da medida ao governador. Segundo um deles, Tarcísio não reagiu da forma que eles esperavam e disse que os bolsonaristas dão mais trabalho do que a oposição.
Nessa quarta-feira (8/11), o governo tentou acelerar a aprovação do projeto da Sabesp em uma sessão conjunta das comissões da Alesp. A oposição manobrou para obstruir a tramitação e fez um acordo com a base de Tarcísio para retomar a discussão apenas na semana que vem, quando os diretores da Enel terão de ir depor em uma CPI na Assembleia para falar sobre o apagão.
