“Ícones do capitalismo”: Quem são os bilionários sócios da Americanas

Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles detêm 31% das ações da Americanas e estiveram no controle da empresa por quase 40 anos

atualizado 20/01/2023 18:54

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Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles em foto posada para lançamento de livro - Metrópoles Editora Sextante/Divulgação

Os três homens mais ricos do país estão por trás de uma das maiores crises empresariais já vistas. É histórica a recuperação judicial da Americanas, decretada após a empresa revelar um rombo contábil de R$ 20 bilhões, que elevou a dívida da varejista para o patamar impagável de R$ 43 bilhões.

Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles são donos da gestora de investimentos 3G e de um patrimônio de cerca de R$ 160 bilhões. Os bilionários têm participação relevante em empresas como a Americanas, Ambev e Kraft Heinz. Na verdade, além da participação acionária, o trio deixou suas digitais em todos esses negócios.

Alvo de biografias e extensas reportagens, os bilionários ficaram conhecidos como os ases do capitalismo brasileiro. O modus operandi dos bilionários do 3G, defendido nas poucas entrevistas concedidas ao longo dos mais de 30 anos, parecia simples: trabalho duro e meritocracia.

Da mesma forma que colheram louros, Lemann, Sicupira e Telles também angariaram visões não tão favoráveis. Corre pelo mercado a fama de que o trabalho duro defendido pelo trio criou ambientes de competitividade excessiva – e por vezes desleal – no universo das empresas que administram e também fora dele.

Não é segredo, por exemplo, que a Americanas sempre fez uma linha muito dura na negociação com seus fornecedores. Atrasar pagamentos e cobrar descontos elevados em quitações à vista são parte da forma de atuação da Americanas há décadas.

Nos anos 80 e 90, quando o Brasil vivia um quadro de hiperinflação, o atraso nos pagamentos servia para a empresa se proteger da variação de preços. Quem arcava com o prejuízo eram os fornecedores, que recebiam o dinheiro com atraso e já corroído pela variação inflacionária.

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Marcel Herrmann Telles, 73 anos (3G Capital)
Carlos Alberto Sicupira, 69 anos (3G Capital)
Jorge Paulo Lemann
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Beto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, sócios de empresas como Americanas, Ambev e Kraft Heinz

Editora Sextante/Divulgação
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Marcel Herrmann Telles, 73 anos (3G Capital)

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Carlos Alberto Sicupira, 69 anos (3G Capital)

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Jorge Paulo Lemann

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O império Ambev

Esse método também aparece na negociação com os bares e restaurantes atendidos pela Ambev, dona de mais de 60% do mercado de bebidas no Brasil. Por exigir dos estabelecimentos a venda exclusiva de seus produtos e por estampar o nome da marca em vasilhames de cerveja, o que impedia que outras indústrias reutilizassem as garrafas, a empresa foi multada em mais de R$ 300 milhões, em 2009.

Alias, a própria construção do império de cervejas da AB InBev, representado no Brasil pelas marcas da Ambev, mostra que a competição é  assunto levado muito a sério pelo 3G. Lemann, Sicupira e Telles começaram no ramo comprando a Brahma em 1989, quando a cervejaria familiar estava à beira da falência, afetada por um quadro de hiperinflação que ceifou diversos negócios brasileiros.

À época, o trio era sócio do banco Garantia. Vale abrir um parênteses para contar que esse é o mesmo Garantia que teve sócios em comum e inspirou todo o modelo de atuação do banco Pactual — que, anos depois, foi assumido por André Esteves.

Não era raro ver a relação de Esteves e Lemann estampada em reportagens como a de amigos próximos ou até de uma relação de mentor e pupilo. Acabou-se a amizade: hoje, Esteves e Lemann estão em lado opostos de um litígio feroz, uma vez que o BTG Pactual tenta reaver na Justiça cerca de R$ 3 bilhões em dívidas com a Americanas.

Ironias da vida à parte, a AB InBev, que começou a ser construída com a aquisição da indústria familiar Brahma, hoje é a maior cervejaria do mundo.

Para chegar lá, o caminho foi pavimentado por uma aquisição atrás da outra: desde a “incorporação reversa” da belga Interbrew pela Ambev em 2004, passando pela negociação truncada na compra da americana Anheuser-Busch, em 2008, até a última grande aquisição, em 2016, da sul-africana SABMiller. Em todos os processos, está lá a digital do trio e alguma controvérsia.

Na operação de 2004, por exemplo, a Ambev teria se valido de um sofisticado instrumento de troca de ativos para deixar de pagar quase R$ 3 bilhões em impostos em solo brasileiro. A Fazenda Nacional tenta reaver tais valores. A disputa judicial se arrasta há anos, com a Ambev alegando que houve apenas “uma divergência de interpretação das normas tributárias entre as autoridades fiscais e a Companhia”.

A compra da Americanas

Mas, antes mesmo de toda a incursão pela Ambev, o trio de bilionários começou a história de construção de um conglomerado de empresas pelas Lojas Americanas. Fundada por americanos – daí o nome da marca –, em 1929, no Rio de Janeiro, como uma loja de produtos baratos, a empresa tornou-se uma sociedade anônima (com controle pulverizado) ainda em 1940.

Em 1982, Lemann, Sicupira e Telles, que tinham 43, 34 e 32 anos, respectivamente, eram banqueiros bem-sucedidos. O trio decidira investir os bônus gordos que recebiam no Garantia em ações das Lojas Americanas. Foram comprando os papéis aos poucos até que, naquele ano, assumiram o controle da empresa.

Entre 1982 e 2021, o trio exerceu o controle do negócio no sentido mais literal possível. Saíram de cena em 2021, quando as operações das Lojas Americanas foram incorporadas pela B2W, empresa que reunia os sites Americanas.com, Submarino, Shoptime e Sou Barato.

Mesmo deixando o controle, o trio manteve quase 32% das ações e assentos no conselho de administração – Sicupira e Paulo Lemann, filho de Jorge Paulo, ainda são conselheiros.

Quem acompanha o negócio diz que a “mão forte” que conduziu a Americanas nos últimos anos foi a de Beto Sicupira. O bilionário foi presidente do conselho de administração da empresa por anos e trabalhou de maneira muito próxima a Miguel Gutierrez, executivo que presidiu a Americanas por duas décadas.

“O Beto Sicupira, desde a compra (da Lojas Americanas) no início dos anos 80, sempre administrou com mão de ferro. Quando o mercado não aceitou os controladores (do 3G) fazendo parte da presidência do conselho, ele colocou um testa de ferro no conselho e continuou mandando sozinho. Quem discordasse era demitido”, escreveu em uma rede social Luiz Cezar Fernandes, empresário que foi sócio de Lemann, Sicupira e Telles, nos tempos do Garantia.

Gutierrez foi substituído por Sergio Rial, ex-presidente e chefe do conselho do Santander, no início de janeiro de 2023. Nove dias depois, veio à tona o rombo contábil de R$ 20 bilhões e Rial renunciou.

Foi ali que começou uma crise que pode acabar com a bancarrota de uma das maiores varejistas do país. Além de terem suas biografias maculadas pela possibilidade de uma fraude contábil em uma das joias da coroa do império, Lemann, Sicupira e Telles sairão menos ricos.

Desde a semana passada, as ações da Americanas perderam 90% do valor. Só nessa tacada, o trio viu o patrimônio encolher em R$ 6 bilhões. Daqui para a frente, ainda há muito mais a se perder: sentindo-se enganados, os bancos credores da Americanas querem que Lemann, Sicupira e Telles coloquem a mão no bolso e injetem até R$ 20 bilhões na varejista para salvar o negócio.

Os bilionários teriam dito que a hipótese está fora de cogitação e querem que os bancos abram mão de parte da dívida. São os “ícones do capitalismo brasileiro”.

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