Chef brasiliense Leandro Nunes revela diagnóstico tardio de autismo

Em entrevista ao Metrópoles sobre o TEA, chef Leandro Nunes ressalta importância de diagnóstico: "Tudo fez sentido"

atualizado 05/05/2023 17:23

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Na foto, retrato posado do chef Lenadro Nunes, do Le Parisien Bistrot - Metrópoles Wey Alves/Metrópoles

Raízes paraenses e paladar refinado: o chef Leandro Nunes, que atualmente comanda o Le Parisien Bistrot, é uma referência em culinária francesa no Distrito Federal. Se aventurando na cozinha desde os 3 anos, o profissional sempre se sentiu diferente e, em 2020, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Tudo fez sentido a partir daí”, relembra.

“Eu já tinha ouvido várias vezes que precisava fazer o teste para ver se eu era [autista] ou não, mas nunca tinha feito. Minha irmã e a minha sobrinha, que é autista, me motivaram. Eu tinha medo. Acabei fazendo para mostrar que dá para estar no espectro e ser funcional”, explica, ao Metrópoles.

Falando sobre o assunto abertamente pela primeira vez, Leandro conta que sempre se sentiu “diferente”. “Eu me via de outra forma e sabia que meu cérebro funcionava de forma diferente… Isso nunca me atrapalhou e eu já cresci acostumado a viver com isso. O diagnóstico só me confirmou algo que eu já imaginava. É importante ter essa certeza”.

Agora, ele garante que lida muito bem com o TEA: “O importante é não se importar com o que os outros pensam e acreditar em si mesmo.”

Estudioso e dedicado, o chef até tentou seguir outro rumo profissional antes de ir para a gastronomia. Cursou direito e, quando faltava uma última prova para terminar o quarto semestre, largou a faculdade.

Na foto, retrato posado do chef Lenadro Nunes, do Le Parisien Bistrot - Metrópoles
Ele é chef e dono do Le Parisien Bistrot

Amante de pato no tucupi e com um gosto especial pela boa mesa, ele trabalhou com nomes como Simon Lau, Laurent Suadeau e Christian Constant, todos ícones em suas áreas de atuação.

Além de cursos na Le Cordon Bleu e uma temporada no Noma, eleito por cinco vezes o melhor restaurante do mundo na lista do The World’s 50 Best Restaurants e detentor de três estrelas Michelin. “Tive muitas experiências incríveis que me fizeram ser quem sou e me transformaram no chef que sou hoje”, contou.

Autismo e cozinha combinam, sim!

Com toda essa bagagem, Nunes revela que leva os ensinamentos para dentro do Le Parisien. A equipe colaborou com adaptações.

“Por conta do autismo, o barulho me atrapalha muito. Tudo na minha cozinha tem que ser sem barulho e bagunça para eu conseguir trabalhar […] Todo mundo que trabalha aqui faz aquele corte europeu, sem tirar a ponta da faca do apoio para fazer menos barulho”, conta.

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Ele disse que sempre se sentiu "diferente"
E alertou para a importância do diagnóstico
Leandro é referência em culinária francesa e já trabalhou no Nona, restaurante quatro vezes eleito o melhor do mundo
Ele afirma que lida bem com o transtorno
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Leandro descobriu que era autista em 2020, já adulto

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Ele disse que sempre se sentiu "diferente"

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E alertou para a importância do diagnóstico

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Leandro é referência em culinária francesa e já trabalhou no Nona, restaurante quatro vezes eleito o melhor do mundo

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Ele afirma que lida bem com o transtorno

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Outra característica que o chef destaca é a memória. “Para algumas coisas ela é péssima, mas eu consigo decorar e reproduzir perfeitamente um prato só de bater o olho nele”, contou. “Essa habilidade é uma dádiva”, pondera.

“O autista pode tudo o que desejar”

De acordo com a psicanalista Andrea Ladislau, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que afeta o desenvolvimento neurológico identificado por uma gama de características variáveis.

“Podemos citar a dificuldade de comunicação e interação social, o atraso no desenvolvimento motor, hipersensibilidade sensorial e comportamentos metódicos, restritivos ou repetitivos. Além da hiperatividade ou muita passividade, dificuldade em aceitar mudanças de rotina, sensibilidade a alguns sons e texturas, entre outros”, diz.

Apesar de ter um número mais elevado em crianças, a especialista ressaltou que adultos também podem ser diagnosticados com o espectro, caso de Leandro Nunes.

“O ideal é que o diagnóstico venha o mais rápido possível, para que se possa iniciar uma intervenção precoce. O objetivo do diagnóstico não é e nunca será rotular aqueles que estejam dentro do espectro, mas sim orientar as famílias quais suportes são mais adequados e onde buscar ajuda”, explica.

Ela acrescenta, ainda, que há muito preconceito e desinformação que rotulam o autismo como uma limitação. “A história provou que essa teoria é falsa e que muitas pessoas diagnosticadas com o espectro fazem grandes coisas e podem se destacar. O autista pode tudo o que desejar, pode muito e precisa ter essa força e apoio de todos.”

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O TEA, por fim, não determina até onde a pessoa vai chegar. “Podemos perceber que serão as condições, o apoio, as possibilidades, as oportunidades sociais, escolares e de intervenções que vão fazer toda a diferença na vida dela. O autismo não tem cura, mas o seu preconceito e o seu desconhecimento a respeito do assunto, sim”. conclui a expert.

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