Maior doador de campanha do governador de RR é acusado de ataque a indígenas

Milton Steagall é um dos donos da BBF, empresa acusada de usar seguranças armados para atacar indígenas da comunidade Tembé

atualizado 30/01/2023 19:25

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Imagem colorida de Antonio Denarium tre - Metrópoles Antonio Cruz/Agência Brasil

O governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas), recebeu doação de R$ 150 mil do empresário Milton Steagall em sua campanha à reeleição ao governo do estado que hoje protagoniza a crise humanitária do povo Yanomami. Steagall é CEO e um dos donos da gigante do agronegócio Brasil Bio Fuels (BBF), empresa que já foi acusada de promover ataque armado contra indígnas do povo Tembé, no nordeste do Pará.

No sistema de acompanhamento de contas eleitorais do TSE, Steagall aparece como o maior doador da campanha do governador reeleito de Roraima em 2022, atrás apenas do próprio partido de Denarium, o Progressistas, que contribuiu com R$ 3 milhões.

Indígenas do povo Tembé, do nordeste do Pará, denunciaram uma ação violenta realizada por seguranças armados da BBF na Terra Indígenas de (TI) Turé-Mariquita, em novembro de 2022. Os relatos detalham que pelo menos 10 homens fortemente armados atiraram na direção de um grupo de indígenas de homens, mulheres e crianças, enquanto avançavam sobre o território.

Em vídeo divulgado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a indígena Xandir de Miranda Tembé mostra uma bala que teria sido atirada pelos seguranças e um ferimento na boca de outro integrante do povo Tembé.

“Eu como indígena, nascida e criada aqui, espero que o pessoal tenha muito respeito por nós. Isso não se faz com indígena. Meu sangue corre aqui, fui nascida e criada nessa terra e dessa terra eu não saio”, afirma Miranda Tembé enquanto derrama lágrimas.


A BBF é a maior produtora de óleo de palma da América Latina, usado no abastecimento de usinas de biodiesel. Em resposta à denúncia, a empresa publicou nota contrariando o relato dos indígnas e negando que seus seguranças tenham agido com violência.

Segundo a nota, a ação dos seguranças armados foi resposta a uma suposta tentativa de invasão dos indígenas à propriedade da BBF e a uma tentativa de furto de “frutos” de fazenda da empresa.

“Foi a tentativa de mais uma invasão nas terras de propriedade da BBF realizada por um grupo formado por indígenas e quilombolas que atuam no furto e roubo de frutos em áreas da Companhia”, alegou a BBF.

Em vídeo divulgado pelas lideranças indígenas, os seguranças armados aparecem mirando o grupo de indígenas. É possível ouvir um dos seguranças gritando “podem ir embora”

Além deste episódio, o Ministério Público Federal do Pará instaurou um Procedimento Administrativo de Acompanhamento das investigações sobre o atentado contra os indígenas Turiwara, em setembro de 2022. Na ocasião pistoleiros atiraram contra veículos de indígneas. O ataque deixou uma pessoa morta e outras quatro ferida  e uma casa de cultura também foi incendiada. Testemunhas apontaram que os pistoleiros seriam seguranças da empresa BBF.

Em outro caso relatado ao MPF do Pará, um homem diz que a empresa estaria sofrendo ameaças diárias de “homens encapuzados” com armas de fogo, que segundo o denunciante, seriam enviados pela própria BBF. Segundo o homem, o conflito com a empresa começou quando a empresa Biopalma da Amazônia, posteriormente comprada pela BBF, plantou dendê em sua propriedade sem o seu consentimento.

Histórico de irregularidades

O confronto entre indígenas e a BBF é antigo. O Metrópoles já produziu um especial retratando a exploração de populações negras e indígnas, pela gigante do agronegócio.

A empresa comandada por Milton Steagall responde a dezenas de processos na Justiça, tanto na esfera cível, quanto na criminal. Uma das acusações é de que a BBF atua em áreas de comunidades tradicionais, como indígenas e quilombolas, no Pará, sem o devido licenciamento.

Quilombolas e indígenas denunciam irregularidades da empresa que comprou em 2020 uma área de cultivo de dendê no Vale do Acará e no Baixo Tocantins, maior região produtora de óleo de palma do Brasil. A área margeia os dois lados da estrada de terra que leva até as comunidades.

“O MPF também alertou a Justiça Federal que áreas de plantio das empresas do monocultivo de palma estão sobrepostas a áreas reivindicadas pelos Tembé para a ampliação das terras indígenas. Essas áreas estão em processo de demarcação na Funai”, afirma o MPF.

Segundo o MPF, após comprar a Biopalmas, empresa que era dona da fazenda de monocultivo, a BBF descumpriu acordos que haviam sido feitos com os indígenas, o que motivou uma série de protestos dos Tembé, como relata o procurador da República do caso, Felipe de Moura Palha e Silva.

Segundo o procurador, a tática da Brasil Bio Fuels é criminalizar as comunidades, o que não contribui para uma solução pacífica do conflito. A empresa já protocolou mais de 500 boletins de ocorrências contra os comunitários.

Em abril de 2022, indígenas chegaram a ocupar a sede da Brasil Bio Fuels no Polo Vera Cruz, no município de Acará, que fica a cerca de 100 km de Belém, capital do Pará. A ocupação aconteceu em protesto a uma série de irregularidades promovidas pela empresa.

Outro lado

Procurado pela reportagem do Metrópoles, Denarium ressaltou a legalidade da doação eleitoral que recebeu e disse ser “contrário a qualquer ato de violência”.

Veja a íntegra da nota enviada ao portal:

“A assessoria do governador Antônio DENARIUM confirma o recebimento LEGAL do apoio financeiro feito pelo senhor Milton Steagall e obedeceu toda legislação eleitoral sem nenhum tipo de ilegalidade. Com relação aos ataques a indígenas no Parà, o governador Antônio Denarium reafirma ser contrário à qualquer ato de violência e que fuja aos preceitos legais.”

Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Denarium é governador do estado que atravessa uma grave crise sanitária nos territórios Yanomami, em decorrência do avanço do garimpo ilegal. No olho do furacão da crise humanitária, o governador foi ao Planalto na última quinta-feira (25/1) para se reunir com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha e discutir o assunto.

 

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