Redpill: grupos de ódio simbolizam grave ameaça aos direitos da mulher

Experts mostram como grupos Redpill e Incel, que integram a chamada "machosfera" digital, representam uma ameaça aos direitos femininos

atualizado 11/03/2023 11:55

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Yanka Romão / Metrópoles

Ganhou visibilidade, nas últimas semanas, a existência de grupos que incitam a violência e o ódio contra mulheres. Encabeçados por homens que buscam recuperar sua “masculinidade“, conforme eles mesmos justificam, esse movimento é acompanhado de outro problema: o aumento dos crimes de gênero contra elas.

De acordo com pesquisa divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, todas as formas de violência contra a mulher tiveram aumento em 2022. “As pessoas me perguntam se isso pode representar aumento da denúncia ou aumento dos casos e, nesse caso, a violência realmente aumentou”, explica Luciana Terra, diretora do movimento Me Too Brasil.

Ilustração de mulher fugindo de sombra de homem em fundo roxo e rosa
Discursos de ódio culminam em aumento nos índices de violência contra a mulher

Mais violência

Tendo grupos como Redpill, Incel e MGTOW entre os principais representantes, um estudo realizado pela ONG Safernet apontou um aumento de 184% dos ataques misóginos nas redes sociais entre 2021 e 2022.

Segundo levantamento, realizado sempre em anos eleitorais, o último período foi o terceiro (2018, 2020 e 2022) seguido com aumento dos crimes de xenofobia, intolerância religiosa e misoginia nas redes. “Os picos de denúncias crescem em anos eleitorais”, aponta a organização.

Ataques misóginos tiveram crescente aumento no Brasil em anos eleitorais

Para Luciana, o surgimento desses grupos que incitam o ódio à figura feminina se soma aos motivos que favorecem o aumento da violência de gênero — como algumas pesquisas já indicam.

O estudo Visível e Invisível, referente ao último ano, é um dos que endossa esta visão. O levantamento revelou que mais de 18,6 milhões daquelas com 16 anos ou mais foram agredidas verbal ou fisicamente no último ano.

Além disso, mais de 30 milhões de brasileiras afirmaram que foram vítimas de assédio em 2022. Desse total, 45% não conseguiu reagir ou falar sobre a agressão. Das que procuraram ajuda, a maioria (17,3%) recorreu à família e apenas 14% buscou uma delegacia especializada.

Grupos como os citados anteriormente ajudam a reforçar estereótipos e alimentam uma cultura nociva à figura feminina. Entre si e em busca de novos aliados, os que se identificam com esses movimentos compartilham dicas sobre masculinidade pautados pela superioridade masculina e submissão da mulher.

Grupos como Redpill e MGTOW pregam que homens são superiores às mulheres

Redpill e Incel: entenda os grupos

Formando o que eles chamam de “machosfera”, a maioria dos integrantes desses grupos acredita que precisa recuperar sua masculinidade e posição de “superioridade” na sociedade. “Esses discursos se propagaram com mais intensidade nos últimos três a quatro anos por conta do viés político, eleitoral e ideológico. Independentemente de lado, é preciso entender que houve aumento do discurso de ódio”, emenda Terra.

Thiago Schultz, que ficou conhecido como coach/calvo da Campari, foi um dos que ganhou destaque entre a comunidade masculina por ser um “mentor do Redpill“.

O termo faz uma referência ao filme Matrix, em que os personagens precisam escolher entre tomar uma pílula vermelha ou azul. Se escolherem a primeira, o medicamento os fazem ver o “mundo real”. Os grupos desse movimento acreditam que veem para além das barreiras da sociedade e enxergam o “mal” causado pelo feminismo e como as mulheres querem “dominar” os homens.

Veja mais detalhes sobre esses grupos:

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Grupos Redpill

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Grupos Incell

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Grupos MGTOW

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Grupos PUA's

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A ameaça que eles representam

Além do aumento da violência contra elas, o aumento deste discurso misógino também representa uma ameaça à diária luta por igualdade das mulheres. Ao contrário do prega o feminismo, grupos como Redpill e MGTOW acreditam na superioridade masculina e na submissão das mulheres. “A gente não quer submissão, a gente só quer igualdade de oportunidades”, enfatiza Luciana.

Esses discursos e grupos de ódio buscam o silenciamento das mulheres

Em busca de liberdade e de não se sentirem ameaçadas por serem quem são, movimentos feministas buscam encontrar igualdades fundamentais que são previstas na Constituição Federal Brasileira. A busca é sempre por igualdade e não por superioridade. 

“Nós temos direito ao mesmo salário, direito de termos nossos órgãos sexuais reprodutivos respeitados, de termos nossas escolhas respeitadas e de não sermos violentadas. Também temos direito a não querer permanecer em um relacionamento e não ser violentada por isso”, pontua.

“Além disso, nós temos o direito de não sermos mortas só por termos nascido mulheres — e o Brasil é um dos países que mais comete feminicídio no mundo”, ressalta.

À frente do Me Too Brasil, ela explica que o surgimento destes grupos também parte de uma reação ao movimento de empoderamento delas. “Elas estão se emancipando mais e, quando avançam, infelizmente, é normal que venha esse movimento de retrocesso”, lamenta a especialista.

Para além das atuais gerações, Terra também explica que a propagação desses discursos pode reverberar na forma como as crianças enxergam as mulheres como seres da sociedade. “Eu já tenho visto alguns filhos de homens que são assim [integrantes da machosfera] e já estão caminhando para repercutir esse discurso”, lamenta.

“Esses discursos também afetam a coletividade das mulheres em todas as esferas: a liberdade de ir e vir, como se achassem que elas devem ser submetidas aos desejos daquele macho alfa e o não respeito às próprias liberdade e vontade”, acrescenta.

É importante buscar informação para parar a propagação desses discursos de ódio à mulher

Como não ser contaminado?

  • O primeiro passo, sugere Luciana, é buscar informações. “Busque entender o que são os direitos das mulheres, do que elas precisam e por que é importante que elas também sejam livres”, indica.
  • O segundo ponto é apoiar uma mulher. “Sempre apoie uma mulher, independentemente do que ela esteja passando, de qual é seu grau de instrução, do seu gênero ou raça, para que ela se sinta acolhida”, ressalta.
  • Por fim, denuncie. “Sempre denuncie esse tipo de discurso para que ele não seja propagado a uma velocidade maior do que a gente possa conter”, finaliza.
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