Ataques na Praça dos Três Poderes impactam turismo arquitetônico do DF

Especialistas explicam como o turismo de arquitetura em Brasília será impactado por conta dos estragos causados pelos atos golpistas

atualizado 13/01/2023 19:20

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Vinícius Schmidt/Metrópoles

Além de ser a capital do país, Brasília também é um dos principais destinos no radar dos viajantes. Pesquisa realizada pela agência de viagens Decolar.com revelou que o Distrito Federal foi o terceiro destino mais procurado por turistas no último ano.

Mostrando a alta demanda, entre janeiro e maio de 2022, a capital recebeu quase seis milhões de turistas, conforme mostra levantamento da Secretaria de Turismo do Distrito Federal. O principal interesse é a arquitetura da capital.

“Só por ser a capital do país, isso já atrai centenas de visitantes. Outro fator chama muita atenção dos turistas: nós somos uma das cidades mais modernas do mundo”, pontua Jael Antônio, presidente do Sindicato Patronal De Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar).

De acordo com Jael, a Catedral, o Congresso Nacional e o Museu da República estão entre os principais pontos turísticos de interesse daqueles que vêm até o Distrito Federal. “A arquitetura e construções modernas que temos aqui, nós não vemos em outro lugar do Brasil. São lugares únicos e que as pessoas querem conhecer”, salienta o presidente do Sindhobar.

A Catedral também é um dos clássicos pontos turísticos de Brasília

Os locais responsáveis por atrair milhões de visitantes anualmente também foram o alvo da destruição dos vândalos no último domingo (8/1). Em cenas que rodaram os principais jornais do planeta, a Praça dos Três Poderes foi atacada por milhares de vândalos, que deixaram um prejuízo inestimável para a cidade.

A história destruída

Tombados como Patrimônio Mundial da Unesco e considerados uma riqueza cultural brasileira, os prédios que levaram a capital para os holofotes do mundo foram impactados de forma considerável. Até o fechamento desta reportagem, 1.400 pessoas foram presas pelos atos terroristas.

Muito mais que a estrutura, essas construções também guardavam peças e objetos que fizeram parte da história de desenvolvimento do Brasil.

“Quando visitamos esses edifícios, como cidadão, percebemos que esses lugares não são ‘ocos’ por dentro e só com algumas pessoas trabalhando dentro dele”, explica a professora de arquitetura da Universidade de Brasília (UnB) Gabriela Tenório.

“Há uma série de obras de artistas nacionais e internacionais, como a gente viu. Também tem presentes que foram dados por chefes de estados. Dentro desses edifícios, existe uma riqueza histórica da nossa cultura e que a gente só descobre quando entra lá”, comenta Tenório.

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Obras essas que, em meio ao ato criminoso, foram quebradas e roubadas. Entre algumas que foram destruídas, há uma quadro de Di Cavalcanti que ultrapassa a quantia de R$ 8 milhões e uma série de peças como cadeiras e mesas feitas por grandes designs brasileiros.

Os vândalos também quebraram um relógio de Balthazar Martinot do Século XVII. A peça foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI. Há apenas dois iguais a ela no mundo. O outro está exposto no Palácio de Versailles, na França, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto. O valor desta é incalculável.

Relógio, de Balthazar Martinot
Objeto de valor histórico inestimável ficou destruído

Afastamento da obra pública

Na concepção de Tenório, os atos ocorridos no último domingo podem trazer alguns reflexos no que diz respeito ao turismo e visitação dessas construções. “Há alguns anos, temos observado um cuidado maior das forças públicas para proteger essas construções e obras. Métodos que, em sua maioria, consistem em grades de segurança ou vigias que não permitem que o público chegue perto delas”, comenta.

Estátua do STF foi pichada em ataque terrorista

De acordo com ela, no entanto, essa metodologia pode trazer uma outra consequência: o afastamento das pessoas sobre essas obras. “É claro que entendemos os motivos e precisamos proteger nossa riqueza, mas isso acaba impactando o turista de alguma forma”.

“Diante do episódio lamentável que vimos no domingo, ficou claro que essas grades não foram capazes de impedir que vândalos as quebrassem ou pichassem, por exemplo. Precisamos refletir sobre essa estrutura de vigilância e proteção”, avalia.

Na intenção de proteger, pode ser que esses espaços se tornem ainda mais restritos ao público e novas barreiras de seguranças podem ser implantadas, o que Gabriela entende como “uma pena”. “São obras lindas, que contam a história do nosso país. É diferente quando conhecemos e vemos de perto esses detalhes. Quando nós temos contato com a arte, é natural que passemos a valorizar e zelar mais por ela”, comenta.

A valorização da arte

Completado 10 anos da morte de Oscar Niemeyer no último ano, o arquiteto e bisneto do principal projetista da capital brasileira, Paulo Niemeyer, afirma que o bisavô assistiria às cenas “decepcionado”. “Oscar sempre foi um defensor do povo. Apesar de ter trabalhado com grandes personalidades e políticos, ele sempre defendia o povo e queria o melhor para o Brasil”, lamenta.

O ícone arquitetônico projetou o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto.

Bisneto de Niemeyer revela que o avô assistiria à destruição dos prédios dos três poderes decepcionado

Para ele, que atua na mesma profissão que o bisavô e carrega seu legado, Oscar sempre defendeu a proteção e valorização de suas obras. “Na minha concepção, essas construções e o legado do meu avô vão ressurgir como uma fênix”.

“A arquitetura de Oscar era imponente. O que foi quebrado, não viola o trabalho dele, só mostra que precisa ser protegido e zelado, algo que ele sempre defendeu”, salienta.

Apesar das cenas lamentáveis e prováveis perdas irreparáveis, especialistas ouvidos pelo Metrópoles tentam encarar o futuro com otimismo e defendem a importância de promover o contato do público com esses espaços e construções.

“A arquitetura moderna nunca vai morrer. O que aconteceu pode ser uma prova de que ela está viva e latente”, avalia Niemeyer.

Para Gabriela, é primordial que as pessoas conheçam e entendam a importância que esses locais desempenham em nossa história. “A melhor vigilância é a frequência das pessoas nesses espaços. Elas precisam estar ali e se sentirem parte daquilo e, de uma forma muito espontânea, zelar por aquilo”, defende.

“Quanto mais conseguirmos nos aproximar desses monumentos e dessas obras de arte, mais a gente aprende a respeitar. Quanto mais entendemos sobre o valor simbólico e artístico dessas peças e espaços, e não apenas o valor material, mas o valor que aqueles elementos têm para nossa cultura e para a história do Brasil, mais as pessoas tendem a cuidar”, pontua.  

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