Sem pelos na barba durante toda a vida, o locutor Leo Siqueira, 40 anos, já tinha experimentado vários medicamentos e loções para tentar fazer crescer fios no rosto. Nada, porém, havia dado a ele mais do que um bigode bem fino. Em 2021, porém, Siqueira descobriu o transplante de barba.
“Tenho ascendência indígena e ninguém na minha família tem barba. Eu sempre quis ter, não gostava de manter o rosto liso, então quando vi que havia a possibilidade do transplante, fiquei ansioso para fazer o procedimento, mas tive que encarar quase sete meses de fila de espera”, conta o locutor, que mora em Gramado (RS).
A fila de espera é justificada pelo crescimento acentuado do número de homens procurando fazer o transplante. Segundo o dermatologista Márcio André Volkweis, especialista no procedimento e membro da Associação Brasileira de Cirurgia da Restauração Capilar (ABCRC), nos últimos 10 anos é visível o quão popular se tornou a técnica.
“Culturalmente, a barba se tornou uma moda. Há 10 anos, a maioria dos procedimentos era para remoção dos pelos à laser. Hoje, vemos o contrário. A barba ficou muito associada com o homem bonito”, diz o médico.
Como é feito o procedimento?
Após a longa jornada para conseguir uma vaga com os cerca de 300 profissionais atualmente reconhecidos pela ABCRC para realizar o procedimento, o paciente tem a qualidade dos fios avaliada. O procedimento é feito com anestesia e os fios são aplicados um a um para dar um aspecto desenhado à barba enquanto se preserva o desenho do rosto.
“Se é apenas uma pequena falha para cobrir, são usados pelos da própria barba. O remanejamento demora cerca de quatro horas. Mas se a área de cobertura é grande, coletamos os fios, um a um, da área da nuca, e demora dez horas. A cirurgia parece ser simples, mas é um procedimento que exige muito”, afirma Volkweis.
No caso de Siqueira, o procedimento levou quase 12 horas. “Comecei muito empolgado, mas depois senti uma dor terrível. Foram muitas anestesias, vários furos no rosto para a implantação. Mas quando comecei a ver como estava ficando, ali na sala do procedimento mesmo, já me animei”, lembra.
Após o procedimento
O período pós-operatório do transplante de barba costuma ser tranquilo e pouco doloroso. É preciso, porém, cuidar dos folículos implantados que ainda não aderiram ao corpo. A recomendação é fazer uma higiene sutil e evitar o sol durante uma semana.
“No dia seguinte ao procedimento, acordei e vi que tinha dormido de lado e perdi alguns fios pelo contato com o travesseiro. Foi uma apreensão. Além disso, todos os fios implantados caem e só a partir do terceiro mês que de fato aparece a sua barba. É um processo de muita espera”, explica Siqueira.
Com o crescimento dos fios restabelecido, o paciente tem total liberdade para cuidar da sua barba da maneira que preferir. As lâminas de barbear podem ser utilizadas sem preocupação para aparar os pelos — afinal, uma vez transplantados, os fios se tornam naturais e duradouros.
Assumindo a nova barba
De acordo com Volkweis, é comum que algumas pessoas vejam a cirurgia como algo supérfluo, levando muitos homens a esconder que fizeram o procedimento. A esposa de Siqueira, por exemplo, foi radicalmente contra o transplante. Ela achava um desperdício de recursos: o preço de uma cirurgia destas pode se aproximar dos 20 mil reais.
“Para algumas pessoas, eu nem disse que tinha feito a cirurgia, só apareci com a barba como se tivesse deixado crescer. Foi engraçado falar com a minha família. Meu pai e meus irmãos não tem pelos, então eu fiquei o diferentão”, conta o locutor.
Como a barba implantada tem origem em fios de cabelo, mais leves que o pelo facial, leva um tempo para que ganhe um aspecto mais natural.
“A primeira vez que fiz a barba foi cinco meses depois do procedimento. Fiquei ansioso, mas queria saber se os fios iam crescer. Eu nem me reconheci sem barba. Foram uns 30 dias para voltar a ficar do tamanho bom e nunca mais tirei”, afirma.
Ao contrário de outras cirurgias estéticas, o procedimento de transplante de barba não exige uma manutenção constante e os fios implantados têm vida útil de até 70 anos.
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