Ver imagens da natureza reduz ansiedade em sessões de quimioterapia

Pesquisa realizada por grupo do hospital Albert Einstein mostra que ver cenários naturais colabora para tranquilizar pacientes em tratamento

atualizado 08/09/2023 12:03

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Fotografia colorida mostra corredor de hospital Reprodução/Istock

Pacientes que estão em tratamento oncológico e viram um vídeo com imagens da natureza enquanto recebiam as sessões de quimioterapia relataram melhora nos sintomas de dor, medo, nervoso, cansaço, tristeza e ansiedade depois da intervenção, o que demonstra que o contato com a natureza, mesmo que de forma indireta, traz benefícios à saúde.

A constatação é de um estudo clínico realizado pelo grupo de Pesquisa e Natureza – Estudos Interdisciplinares sobre a Conexão com a Natureza, Saúde e Bem-Estar do Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health.

Para obter os resultados, os pesquisadores incluíram no estudo 173 pacientes com diferentes tipos de câncer. Eles foram divididos em cinco grupos: controle (que não recebeu nenhum vídeo sobre a natureza) e outros quatro grupos classificados em diferentes categorias de imagens às quais foram submetidos – beleza, emoções positivas, tranquilidade e miscelânea.

Vídeo de paisagens naturais

Durante as sessões de quimioterapia, os participantes receberam um tablet com acesso a um vídeo de 12 minutos composto com 60 imagens de natureza pré-selecionadas de acordo com os temas propostos pela equipe para os quais foram sorteadas de forma aleatória, assim como para o grupo controle.

As categorias incluíam diversas imagens, como pássaros brancos e coloridos, insetos, flores, paisagens, água, céu e mar. Elas correspondiam às palavras que receberam mais de 27 mil avaliações, validando assim o potencial de um banco de imagens promotoras de bem-estar chamado e-NatPOEM, publicado anteriormente na Scientific Reports.

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, e registrou ainda mais casos da condição durante a pandemia da Covid-19. Além de adultos, a ansiedade também pode se manifestar em crianças por diversos motivos, como divórcio dos pais, provas ou problemas na escola, por exemplo
 Apesar de ser considerada relativamente comum, uma vez que pode atingir qualquer pessoa por qualquer motivo, a ansiedade se torna um verdadeiro problema quando tudo vira motivo de preocupação exagerada e o paciente passa a apresentar crises
 A crise de ansiedade é uma situação que causa grande sensação de angústia, nervosismo e insegurança, como se algo de muito mau, e que foge completamente do controle, fosse acontecer a qualquer momento
A crise surge, normalmente, devido a situações estressantes específicas e que geram gatilho, como precisar fazer uma apresentação, ter prazo curto para entregar um trabalho, estar em algum lugar que não gostaria ou ter sofrido uma perda, por exemplo
Entre os sintomas de uma crise de ansiedade estão: batimentos cardíacos acelerados, sensação de falta de ar, formigamento no corpo, sensação de leveza na cabeça, dor no peito, náuseas, transpiração excessiva, tremores, entre outros
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A ansiedade é uma espécie de condição psíquica caracterizada por preocupação constante e excessiva de que algo negativo possa acontecer. Segundo pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é, ainda, uma sensação difusa de desconforto carregado por sentimento frequente de apreensão que pode desencadear transtornos

Peter Dazeley/ Getty Images
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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, e registrou ainda mais casos da condição durante a pandemia da Covid-19. Além de adultos, a ansiedade também pode se manifestar em crianças por diversos motivos, como divórcio dos pais, provas ou problemas na escola, por exemplo

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Apesar de ser considerada relativamente comum, uma vez que pode atingir qualquer pessoa por qualquer motivo, a ansiedade se torna um verdadeiro problema quando tudo vira motivo de preocupação exagerada e o paciente passa a apresentar crises

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A crise de ansiedade é uma situação que causa grande sensação de angústia, nervosismo e insegurança, como se algo de muito mau, e que foge completamente do controle, fosse acontecer a qualquer momento

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A crise surge, normalmente, devido a situações estressantes específicas e que geram gatilho, como precisar fazer uma apresentação, ter prazo curto para entregar um trabalho, estar em algum lugar que não gostaria ou ter sofrido uma perda, por exemplo

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Entre os sintomas de uma crise de ansiedade estão: batimentos cardíacos acelerados, sensação de falta de ar, formigamento no corpo, sensação de leveza na cabeça, dor no peito, náuseas, transpiração excessiva, tremores, entre outros

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Estes sintomas ocorrem devido ao aumento do hormônio adrenalina na corrente sanguínea, algo normal quando a pessoa enfrenta um momento importante. Contudo, se os sintomas se tornarem constantes, podem sinalizar um transtorno de ansiedade generalizada

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O que se deve fazer durante uma crise de ansiedade depende da gravidade e da frequência dos sintomas e, por isso, o ideal é sempre receber aconselhamento especializado, de um psiquiatra ou psicóloga

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Apesar disso, realizar exercícios de respiração, ingerir chá calmante, tentar conversar com alguém de confiança, descansar, desligar a mente, fazer atividades físicas que goste ou tentar manter o pensamento em algo que dê conforto são algumas dicas que podem ajudar a aliviar o problema

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Quando a crise de ansiedade acontece pela primeira vez, ou não se tem certeza do que está acontecendo, é importante procurar um hospital para garantir que não seja outro problema mais grave, como o infarto

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De qualquer forma, caso as crises sejam frequentes, um especialista deve ser procurado para identificar a causa e iniciar um tratamento

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A ansiedade pode desencadear problemas que, dependendo dos sintomas, podem ser classificados como Transtorno de ansiedade generalizada (TAG), fobia social, síndrome do pânico, entre outros. Esses problemas podem gerar impacto na vida pessoal e profissional do paciente, por isso o quanto antes for diagnosticado, menos problemas serão enfrentados

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Segundo Eliseth Leão, líder do grupo de pesquisa, a escolha das categorias e a definição das imagens em termos de prazer e de estado de alerta/relaxamento partiu das seguintes perguntas: “Será que diferentes elementos naturais têm potenciais diferentes? Olhar para uma flor seria igual a olhar para o mar ou para uma ave colorida?”.

“Eram questões científicas importantes que queríamos responder. A maior parte dos estudos tratam das paisagens. Por isso, mantivemos essa categoria, mas acrescentamos outros elementos naturais como mar, água, céu, flores, insetos, aves brancas, aves coloridas, árvores”, explicou a pesquisadora.

Leão diz, ainda, que os pesquisadores acrescentaram uma pergunta na qual o participante do estudo tinha que escrever em uma única palavra o que cada imagem despertava. “Foi a partir dessas palavras que surgiram as categorias. Beleza surgiu quando as palavras eram lindo e belo, por exemplo. Tranquilidade surgiu quando as palavras eram paz, calma, tranquilidade. Miscelânea foi atribuída ao grupo de imagens indicadas como curiosidade, desafio. As imagens melhor avaliadas foram então agrupadas nesses quatro vídeos seguindo esse critério”, explica.

Escala de Edmonton

Para estabelecer e avaliar os pacientes, os pesquisadores usaram como referência a Escala de Edmonton – que avalia a presença de sintomas em pacientes oncológicos e uma escala de afetos negativos e positivos. Ambas foram aplicadas no momento pré-intervenção e após 20 minutos do término da quimioterapia. Os afetos negativos e sintomas como dor, medo, nervoso, fadiga, tristeza e ansiedade foram fortemente reduzidos no grupo intervenção. Mas não houve melhora nos sintomas de náuseas e sonolência – muito comuns em quem faz tratamento de câncer.

“A dor diminuiu porque as imagens da natureza alteram o foco perceptual da dor e isso reduz a percepção dolorosa, também pelo mecanismo de relaxamento. Ao ver imagens promotoras de bem-estar, neurotransmissores são liberados produzindo sensação de bem-estar e relaxamento que reduzem a percepção dolorosa. O controle de náusea e sonolência não passam por esses mecanismos”, explicou Leão, que acrescentou que os pacientes receberam medicamentos para reduzir as náuseas durante a quimioterapia. Esses remédios podem induzir sonolência também – por isso, o grupo não esperava efeitos sobre esses dois sintomas.

No grupo controle, que não foi submetido a nenhum vídeo de natureza, houve uma redução moderada de afetos negativos, incluindo ansiedade. Mas, segundo Leão, isso é esperado quando o paciente percebe que durante ou logo após a quimioterapia ele não teve nenhuma intercorrência, não se sentiu mal. “Isso por si só é apaziguador para sentimentos de nervosismo e estresse. Mas não houve redução de sintomas clínicos, enquanto no grupo intervenção houve uma forte redução dos efeitos negativos e melhora de sintomas clínicos”, ressaltou a pesquisadora.

Efeitos diferentes

Curiosamente, os pesquisadores observaram que os pacientes que assistiram aos vídeos nas categorias beleza, emoções e miscelânea tiveram melhores resultados clínicos, enquanto os pacientes do vídeo tranquilidade não tiveram o mesmo resultado, contrariando o que os pesquisadores imaginavam encontrar.

“A princípio, como queríamos reduzir a ansiedade, uma das hipóteses era a de que ao ver imagens que transmitisse tranquilidade e paz, iremos observar resultados positivos, o que não aconteceu. Isso pode ser explicado por um princípio de ressonância”, disse Leão. “Se os pacientes se sentiam ansiosos e oferecemos algo emocionalmente muito diferente do que ele estava sentindo, não há uma ressonância entre as emoções, ou seja, são muito antagônicas. Em estudos utilizando música, por exemplo, isso também ocorre. Se você quer modificar um estado de ânimo negativo de um paciente para um estado mais positivo, o ideal é que se faça uma modulação mais gradual e não uma proposta diametralmente oposta”, disse.

Segundo Leão, esse comportamento já havia sido observado em estudos da pesquisadora com música e agora pode ser aplicado também às imagens. “Os estímulos modulam as emoções e, por isso, mudanças mais sutis são mais bem toleradas do que querer produzir variações abruptas de uma emoção muito negativa para uma muito positiva. Todavia, não existe ainda uma explicação definitiva”, disse. Outro fator que pode ter influenciado nesse resultado é o fato de o vídeo “tranquilidade” ter uma dinâmica diferente dos demais, podendo se tornar monótono por conter somente um tipo de elemento natural nas imagens: água e mar.

Acesso à natureza

Na pesquisa, os cientistas lembram que a incidência de casos de câncer é cada vez maior em todo o mundo e que, na maioria dos casos, a quimioterapia é parte do tratamento. Apesar disso, boa parte dos hospitais que oferecem tratamento em oncologia são construídos em áreas urbanas, onde há pouca natureza e não seria possível oferecer ao paciente esse contato direto com plantas, flores e árvores. Assim, esses resultados demonstram que de uma forma simples e acessível – por meio dos vídeos com imagens da natureza – é possível aliviar os sintomas negativos dos pacientes.

“Trata-se de um recurso útil sempre que não é possível estar em contato direto com o mundo natural. É um recurso que pode ser aplicado a pacientes hospitalizados, durante a realização de procedimentos, pacientes que ficam isolados por semanas dentro de um quarto para um transplante de medula, idosos institucionalizados. São exemplos de contextos clínicos que podem ter benefícios desse tipo de cuidado e que merecem ser investigados para melhor estabelecer sua efetividade terapêutica nessas situações.”

Para Leão, esses dados apontam resultados que encorajam a sua utilização em diferentes serviços de saúde. A pesquisadora ressalta que as mais de 400 imagens do e-NatPOEM podem ser solicitadas aos autores (pelo e-mail [email protected]), que disponibilizarão um link para acesso às imagens ou vídeos em alta resolução e que poderão ser utilizados em qualquer serviço no país. (Fonte: Agência Einstein)

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