Dengue neurológica rara deixa jovem tetraplégica e em coma por 7 meses

Atualmente com 19 anos, a jovem está cursando nutrição mesmo com todas as limitações. Ela teve dengue neurológica e não enxerga nem se move

atualizado 07/02/2024 16:59

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Foto mostra antes e depois de jovem que teve dengue neurológica e acabou tetraplégica - Metrópoles Montagem/Reprodução/Instagram

Em tempos de epidemia de dengue, um dos quadros mais temidos é a versão hemorrágica da condição. Porém, em casos raros, a doença pode causar problemas neurológicos graves.

“Quando vejo como ela era e como ficou, me dou conta de que a vida é frágil”, conta a enfermeira Elizângela Matias. Sua filha, Polyana Matias, teve dengue aos 15 anos — porém, o quadro se agravou e ela ficou sete meses em coma. Hoje, aos 19, a jovem é tetraplégica e não enxerga por conta da doença.

Em 2019, a mineira de Divinópolis morava em Belo Horizonte quando começou a sentir os primeiros sintomas da dengue: febre, dor de cabeça e no corpo. Uma semana depois, porém, Poly piorou e teve crises convulsivas e vômitos que a obrigaram a ser internada com urgência.

Inicialmente, os médicos acharam que os sintomas eram causados por dois quadros em separado. Para evitar as convulsões, ela foi colocada em coma induzido — porém, uma biópsia de líquido espinhal revelou que a encefalite grave era de fato uma consequência da dengue.

Dengue neurológica

Poly teve a chamada dengue neurológica, uma forma rara da doença em que o vírus invade o sistema nervoso, causando inflamações cerebrais. Um estudo publicado em 2005 reuniu 41 casos suspeitos da condição registrados entre 1997 e 2002 em um hospital especializado, e apenas três se confirmaram.

“Os médicos falaram várias vezes que minha filha não voltaria, que seria melhor desligar os aparelhos, já que as lesões cerebrais por conta do vírus eram incompatíveis com a vida”, lembra Elizangela.

Após sete meses de coma, Poly acordou. “Foi uma sensação maravilhosa, senti uma gratidão imensa ao ver que ela estava acordada e responsiva. Até hoje tem gente que fala que minha filha é um vegetal, mas conseguimos entendê-la e ajudá-la”, conta.

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O Aedes aegypti apresenta hábitos diurnos, pode ser encontrado em áreas urbanas e necessita de água parada para permitir que as larvas se desenvolvam e se tornem adultas, após a eclosão dos ovos, dentro de 10 dias
A infecção dos humanos acontece apenas com a picada do mosquito fêmea. O Aedes aegypti transmite o vírus pela saliva ao se alimentar do sangue, necessário para que os ovos sejam produzidos
No geral, a dengue apresenta quatro sorotipos. Isso significa que uma única pessoa pode ser infectada por cada um desses micro-organismos e gerar imunidade permanente para cada um deles. Ou seja, é possível ser infectado até quatro vezes
Os primeiros sinais, geralmente, não são específicos. Eles surgem cerca de três dias após a picada do mosquito e podem incluir: febre alta, que geralmente dura de 2 a 7 dias, dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupções cutâneas, náuseas e vômitos
No período de diminuição ou desaparecimento da febre, a maioria dos casos evolui para a recuperação e cura da doença. No entanto, alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves, que incluem hemorragia e podem levar à morte
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A dengue é uma doença infecciosa transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Com maior incidência no verão, tem como principais sintomas: dores no corpo e febre alta. Considerada um grave problema de saúde pública no Brasil, a doença pode levar o paciente a morte

Joao Paulo Burini/Getty Images
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O Aedes aegypti apresenta hábitos diurnos, pode ser encontrado em áreas urbanas e necessita de água parada para permitir que as larvas se desenvolvam e se tornem adultas, após a eclosão dos ovos, dentro de 10 dias

Joao Paulo Burini/ Getty Images
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A infecção dos humanos acontece apenas com a picada do mosquito fêmea. O Aedes aegypti transmite o vírus pela saliva ao se alimentar do sangue, necessário para que os ovos sejam produzidos

Joao Paulo Burini/ Getty Images
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No geral, a dengue apresenta quatro sorotipos. Isso significa que uma única pessoa pode ser infectada por cada um desses micro-organismos e gerar imunidade permanente para cada um deles. Ou seja, é possível ser infectado até quatro vezes

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Os primeiros sinais, geralmente, não são específicos. Eles surgem cerca de três dias após a picada do mosquito e podem incluir: febre alta, que geralmente dura de 2 a 7 dias, dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupções cutâneas, náuseas e vômitos

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No período de diminuição ou desaparecimento da febre, a maioria dos casos evolui para a recuperação e cura da doença. No entanto, alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves, que incluem hemorragia e podem levar à morte

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Nos quadros graves, os sintomas são: vômitos persistentes, dor abdominal intensa e contínua, ou dor quando o abdômen é tocado, perda de sensibilidade e movimentos, urina com sangue, sangramento de mucosas, tontura e queda de pressão, aumento do fígado e dos glóbulos vermelhos ou hemácias no sangue

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Nestes casos, os sintomas resultam em choque, que acontece quando um volume crítico de plasma sanguíneo é perdido. Os sinais desse estado são pele pegajosa, pulso rápido e fraco, agitação e diminuição da pressão

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Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade. O choque tem duração curta, e pode levar ao óbito entre 12 e 24 horas, ou à recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada

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Apesar da gravidade, a dengue pode ser tratada com analgésicos e antitérmicos, sob orientação médica, tais como paracetamol ou dipirona para aliviar os sintomas

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Para completar o tratamento, é recomendado repouso e ingestão de líquidos. Já no caso de dengue hemorrágica, a terapia deve ser feita no hospital, com o uso de medicamentos e, se necessário, transfusão de plaquetas

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A vida pós-coma

A dengue neurológica, porém, deixou graves consequências no corpo da jovem. Com muita fisioterapia, ela conseguiu voltar a se sentar e a família criou um código de comunicação: eles falam cada letra do alfabeto e Poly reage com movimentos de cabeça para formar as palavras que ela quer dizer.

Ainda assim, a mineira não consegue mover os membros, se alimentar, respirar sem aparelhos ou mesmo sustentar a própria cabeça. Ela não tem visão por conta das lesões no nervo óptico e usa fraldas diariamente. Por causa dos cuidados necessários para mantê-la em casa, Elizângela precisou deixar o emprego e se dedicar exclusivamente à filha.

“Sou enfermeira. Lutei minha vida toda para estudar, fui a primeira pessoa da minha família a fazer faculdade. Hoje em dia, entendo que era Deus me preparando para cuidar da minha filha, para estar com a Poly quando ela precisasse”, afirma.

Busca de autonomia

Poly luta para ter autonomia apesar das dificuldades. A primeira pergunta que ela fez quando acordou do coma foi: “Há quanto tempo que estou fora da escola?”. Mesmo com as limitações, ela não parou de estudar e teve apoio da escola, que adaptou as aulas para que a jovem pudesse se formar no ensino médio.

Poly fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2022, e a prova foi adaptada com monitores leitores e transcritores. Com o apoio, ela conseguiu bolsa em uma faculdade particular e, hoje, cursa nutrição.

“Muita gente fala que ela não devia estar estudando, mas respeitamos as vontades dela. Poly escolheu o curso que queria fazer e tem se dedicado a isso. Minha filha tem muita vontade de viver e quer levar a vida adiante, como nós também queremos”, conta a mãe.

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A jovem conseguiu, com fisioterapia, recuperar parte dos movimentos, mas ainda sofre várias consequências
A família tem se dedicado ao apoio de Poly. Sua mãe, Elizângela (de azul) se dedica a seus cudiados em tempo integral
Família tem a esperança de que Poly volte a enxergar com tratametno experimetnal
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Polyana foi infectada com a dengue aos 15 anos e passou sete meses em coma

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A jovem conseguiu, com fisioterapia, recuperar parte dos movimentos, mas ainda sofre várias consequências

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A família tem se dedicado ao apoio de Poly. Sua mãe, Elizângela (de azul) se dedica a seus cudiados em tempo integral

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Família tem a esperança de que Poly volte a enxergar com tratametno experimetnal

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A família ainda espera que Poly recupere mais de sua autonomia. Elizângela tenta arrecadar dinheiro para levar a jovem à Tailândia, onde existe um tratamento experimental com células-tronco que pode permitir à jovem voltar a enxergar. Apenas a viagem, com a respiração mecânica, custaria cerca de R$ 1 milhão.

Um sonho mais próximo é que a jovem receba a vacina contra a dengue. Se Poly voltar a se infectar, pode enfrentar consequências ainda mais graves. Porém, ela não faz parte do grupo prioritário para receber doses pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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