CRISPR: edição genética para tratar anemia falciforme avança

Terapia que permite editar genes para tratar doenças deverá ser usada futuramente também contra o Alzheimer e o câncer

atualizado 21/10/2023 14:32

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Ilustração mostra processo de edição genética do CRISPR Eugene Mymrin/Getty Images

O nome é complexo e a técnica também, mas o CRISPR é uma das apostas da medicina para tratar diversas doenças. Parece coisa de filme, mas a edição genética está cada vez mais perto de se tornar realidade.

Ainda neste ano, o FDA (Food and Drug Administration) deve aprovar o CRISPR para o tratamento da anemia falciforme e, com isso, espera-se que as pesquisas e ensaios clínicos que usam a método para outras doenças, como o Alzheimer e o câncer, avancem.

“O CRISPR pode ser a resposta para o tratamento de várias doenças congênitas“, diz o geneticista Thyago Leal Calvo, PhD em biologia molecular e genômica e especialista na técnica. Ele é pesquisador da iniciativa Ciência Pioneira, criada em parceria com o Idor (Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa) para pesquisas científicas na área de saúde.

Afinal, o que é o CRISPR?

A técnica funciona em várias etapas. Primeiro, o material genético do paciente indicado para o tratamento é coletado. Em laboratório, os cientistas buscam no DNA dele alternativas para curar o problema – é possível ativar ou desativar genes, por exemplo.

O passo seguinte é devolver ao corpo o material genético adaptado para que o organismo passe a funcionar de maneira saudável.

“Gosto de pensar a edição gência com CRISPR como uma árvore de natal bem enfeitada representando o nosso DNA. A técnica permite que a gente mude algumas coisas na decoração, troque alguns globos de lugar, inclua até um novo pisca-pisca, mas a árvore permanece a mesma e não mudamos a estrutura”, exemplifica Calvo.

Em ensaios clínicos, a técnica foi bem-sucedida para o tratamento de diversas doenças, mas é no combate à anemia falciforme, que ela está mais avançada.

Ilustração mostra processo de edição genética do CRISPR
Técnica altera apenas as células somáticas, aquelas que não compõem a informação genética do corpo humano

Pesquisas avançadas

O médico brasileiro Bruno Solano é especialista em terapia gênica celular. Ele trabalha no desenvolvimento de tratamentos com CRISPR para a anemia falciforme, com o apoio do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Atualmente, Bruno está na Califórnia estudando alternativas para diminuir os custos do uso da terapia gênica que, apesar de comprovadamente eficaz, exige recursos milionários.

“Há anos a ciência sabe que a anemia falciforme é apenas uma letrinha alterada no DNA. Ela provoca a formação de glóbulos vermelhos em formato de foice, os quais não conseguem distribuir o oxigênio corretamente pelo corpo. Quem tem esta doença acaba vivendo até 20 anos menos”, explica Solano.

O CRISPR, no entanto, não altera o nucleotídeo específico ligado à anemia falciforme. Por princípio ético, este tipo de terapia não pode ser feita direto na mutação pelos riscos de se passar a editar genes germinativos.

“No caso da anemia falciforme, o que fazemos é reativar caminhos do DNA que orientam a produção de hemácias com o gene da hemoglobina fetal. Quando somos fetos, produzimos um tipo diferente de hemoglobina em nossos glóbulos vermelhos, que não é afetado pela anemia falciforme. Ao editar o DNA, fazemos o corpo voltar a produzi-los da maneira embrionária”, diz Solano.

O pesquisador é vinculado à iniciativa Ciência Pioneira. Ele atualmente realiza as suas pesquisas no IGI (Innovative Genomics Institute), na Califórnia, e veio ao Brasil nesta sexta-feira (20/10) para participar de um encontro que reuniu representantes duas instituições.

Imagem de microscópio mostra as hemácias de pessoa atingida pela anemia falciforme
Hemácias de pessoa atingida pela anemia falciforme, com as células em formato de foice

Tratamento caro

A anemia falciforme é uma condição de saúde muito ligada a pessoas com ascendência negra. No Brasil, 1 a cada 650 nascidos vive com essa condição. A maioria desta população, no entranto, tem baixa renda e não poderia pagar pelo CRISPR.

“A técnica se mostrou segura e eficaz para todos os 75 pacientes que participaram dos testes mais recentes. O problema é que essas terapias podem chegar a custar US$ 2 milhões por paciente. Nosso objetivo é desenvolver alternativas mais acessíveis e de menor custo. A maior parte deste preço está vinculada à forma que podemos fazer este DNA voltar ao corpo para ser replicado, então temos nos dedicado a buscar alternativas”, afirma.

Outros usos da CRISPR

Tratamentos oftalmológicos e terapias contra o câncer estão sendo pensadas para ser tratadas com o CRISPR. Também há pesquisas para que a técnica seja aplicada ao Alzheimer.

O pesquisador brasileiro Thyago Calvo tem se dedicado ao estudo da aplicação do método para deter o Alzheimer. “Atualmente os estudos têm sido feitos em animais para simular a entrega de algumas proteínas que são sintetizadas quando nos exercitamos. Sabemos que o exercício físco é importante para atrasar a progressão do Alzheimer. A ideia é que, com essa dose extra de proteínas, o corpo seja equilibrado sem efeitos colaterais”, afirma o geneticista.

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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista
Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce
Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano
Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença
Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns
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Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas

PM Images/ Getty Images
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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista

Andrew Brookes/ Getty Images
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Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce

Westend61/ Getty Images
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Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano

urbazon/ Getty Images
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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença

OsakaWayne Studios/ Getty Images
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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns

Kobus Louw/ Getty Images
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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença

Rossella De Berti/ Getty Images
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O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida

Towfiqu Barbhuiya / EyeEm/ Getty Images

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