São Paulo – Sob escolta da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e das polícias Civil e Militar o fluxo de dependentes químicos da Cracolândia, que se concentrava na Santa Ifigênia e Campos Elíseos, no centro paulistano, migrou na noite desse sábado (8/7) para debaixo da Ponte Governador Orestes Quércia, conhecida como “estaiadinha”, nas imediações da marginal Tietê.
Desde o início do ano passado, quando uma ação da polícia dispersou a concentração de dependentes da Praça Princesa Isabel, o fluxo de usuários da Cracolândia passou a ser itinerante por um conjunto de ruas da região central paulistana. Isso acarretou no aumento de roubos, furtos e na sensação de insegurança para moradores e comerciantes.
Vídeos encaminhados ao Metrópoles por moradores (assista abaixo) mostram dependentes químicos caminhando pela rua e carregando itens pessoais, na noite desse sábado. A movimentação é acompanhada por guardas e policiais, civis e militares.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo confirmou à reportagem, por meio de nota encaminhada neste domingo (9/7), que policiais e GCMs escoltaram os usuários de drogas, que se concentraram sob a ponte estaiadinha e na Rua Prates.
A pasta acrescentou que, ainda neste domingo, alguns dependentes químicos tentaram retornar à Santa Ifigênia e aos Campos Elíseos. Eles, no entanto, foram impedidos “em atendimento às inúmeras solicitações de moradores, trabalhadores e comerciantes locais.”
“[As polícias] continuam atuando na região para preservar a segurança e a ordem pública, por meio de ações de liberação de vias”, afirma trecho de nota.
O Metrópoles apurou que, no início da tarde deste domingo, o ponto para onde o fluxo foi deslocado pela ação das forças de segurança estava ocupado por poucos usuários de drogas (veja abaixo).
Guarda
A GCM, ligada à Secretaria da Segurança Urbana, da Prefeitura de São Paulo, também confirmou a escolta dos dependentes químicos na noite desse sábado.
Para auxiliar na manutenção das vias liberadas, acrescentou a pasta municipal, 400 guardas irão reforçar o policiamento na antiga concentração da Cracolândia a partir desse segunda-feira (10/7).
Além das forças de segurança, a prefeitura acrescentou que agentes da Subprefeitura da Sé limparam as vias por onde os dependentes químicos passaram. Assistentes sociais também acompanharam o deslocamento do fluxo e distribuíram água.
Moradores dos Campos Elíseos e Santa Ifigênia, ouvidos pelo Metrópoles na manhã deste domingo, perceberam o deslocamento de parte do fluxo. “Ainda há alguns ‘nóias’ [dependentes] circulando, mas é um grupo pequeno perto do que era”, afirmou Rose Correa, moradora e conselheira participativa da região.
Tensão
Desde que o fluxo da Cracolândia foi dispersado da praça Princesa Isabel, em maio de 2022, centenas de usuários de drogas se espalharam pelas ruas da região central. O movimento alterou a rotina de moradores durante o dia e impôs até um toque de recolher à noite.
Desde então o antigo fluxo, que chegou a concentrar mais de dois mil dependentes químicos no mesmo quadrilátero, se fragmentou em pequenas cracolândias, principalmente nas regiões da Santa Ifigênia e Campos Elíseos.
Seguranças particulares que ficam nas adjacências orientam os pedestres a tomarem cuidado ao circular pela região. Não importa o horário, há o risco de se deparar com um desses grupos de dependentes químicos e ser assaltado.
O caos no centro proporcionou a organização de grupos criminosos que vendem proteção. Um deles era liderado pelo GCM Elisson Assis, apontado como o chefe de uma milícia que vendia segurança a comerciantes e moradores na região.
Extorsão de comerciantes
No início do mês passado, a Prefeitura de São Paulo afastou sete guardas civis metropolitanos, incluindo Assis, pela suspeita de eles extorquir dinheiro de moradores e comerciantes da região da Cracolândia em troca de segurança particular.
Os GCMs suspeitos são integrantes da Inspetoria de Operações Especiais (Iope), considerada a tropa de elite da guarda, segundo nota enviada pela corporação à reportagem, ainda em junho.
De acordo com as investigações do caso, Elisson abriu uma empresa em julho do ano passado. A partir de então, teria começado a cobrar de comerciantes e moradores do centro de São Paulo para dispersar o fluxo de usuários de drogas da Cracolândia. A Avenida Duque de Caxias seria uma das áreas alvo da milícia.