São Paulo – O Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo instaurou inquérito civil para apurar possíveis danos causados à sociedade brasileira por falhas de segurança no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. A investigação foi aberta após as denúncias de troca de bagagens por malas com drogas no terminal.
Duas brasileiras chegaram a ser presas em Frankfurt, na Alemanha, depois que as malas delas foram trocas no terminal de SP. Para o MPF, o caso provocou sensação de insegurança em toda a sociedade, o que poderia comprometer a credibilidade e o desenvolvimento dos serviços aéreos no Brasil, uma vez que o esquema criminoso tem incriminado pessoas inocentes.
Clima de desconfiança
Segundo o procurador da República responsável pelo inquérito, Guilherme Göpfert, “o reforço na segurança aeroportuária é medida urgente, sob pena de impactar vários segmentos econômicos da sociedade, dado o clima de desconfiança gerado na população diante do gravíssimo fato”.
De acordo com ele, “eventual queda do fluxo de viajantes, receosos com a possibilidade de serem injustamente incriminados, fatalmente proporcionaria reflexos negativos em demais atividades econômicas, além de afetar a imagem do país”.
A investigação, além de apurar a possível ocorrência de dano moral sofrido pela coletividade, mira a revisão dos protocolos de segurança no maior aeroporto da América do Sul, para evitar a ocorrência de novos casos. “O MPF quer que todo cidadão, nacional ou estrangeiro, tenha resguardada sua segurança e não tenha medo de utilizar o transporte aéreo no Brasil”, afirma Göpfert.
O MPF solicitou informações da Polícia Federal (PF), da Gol Linhas Aéreas, da Latam Airlines, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e das empresas GRU Airport e Orbital.
De Goiânia para a prisão
As malas de Jeanne Cristina Paolini Pinho e Kátyna Baía foram despachadas no Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, mas as etiquetas das bagagens foram trocadas no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Cada uma tinha cerca de 20 quilos de cocaína. As bagagens originais das passageiras ainda não foram encontradas.
Depois que a PF mostrou que elas foram vítimas do esquema criminoso, as brasileiras foram soltas da prisão na Alemanha na terça-feira (11/4). Seis funcionários suspeitos de participarem da quadrilha já foram presos em Guarulhos. Eles aparecem em imagens do circuito interno trocando as etiquetas das malas ou dando cobertura à prática.
Esquema criminoso
Em 2020, a PF organizou e unificou vários inquéritos policiais abertos para investigar os integrantes do esquema criminoso que usa o Aeroporto de Guarulhos para despachar drogas para a Europa.
Os funcionários da área restrita, encarregados de pegar as bagagens depois que elas são despachadas pelos passageiros no check-in e as colocar dentro do avião, são a base da pirâmide e recebem de R$ 25 mil a R$ 30 mil por cada mala despachada com a droga, normalmente cocaína.
Eles retiram etiquetas de bagagens aleatórias despachadas regularmente pelos passageiros e as colocam em outras malas contendo drogas. Estas, segundo a investigação, são despachadas depois que o check-in já foi encerrado.
As malas com as etiquetas já trocadas são desviadas da fiscalização automática, para escapar do raio-x que identifica conteúdos ilícitos.
Já os responsáveis por receberem as malas com as drogas nos destinos e as desviarem da fiscalização local podem ganhar mais de R$ 100 mil por bagagem ilegalmente despachada. No caso das brasileiras presas com as malas com cocaína, essa parte da operação no aeroporto de Frankfurt teria falhado.
As investigações apontam que, quanto mais arriscada e essencial é a função do funcionário corrompido, mais ele ganha. Funcionários que fazem “vista grossa”, por exemplo, impedindo a fiscalização, também recebem entre R$ 25 e R$ 30 mil, mesmo valor pago aos terceirizados que trocam etiquetas e despacham as malas.