SP: o alívio de quem salvou os filhos e o drama de quem perdeu a mãe

O Metrópoles conversou com famílias que estão em abrigos provisórios após perderem tudo na tragédia de São Sebastião, litoral norte de SP

atualizado 24/02/2023 17:31

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Fábio Vieira/Metrópoles

São Sebastião (SP) – Salas de aula improvisadas como quartos e um refeitório montado no pátio de uma escola pública são a nova moradia de 400 das mais de 4 mil pessoas que perderam ou tiveram de deixar suas casas desde o último domingo (19/2), quando um temporal devastou vilas inteiras em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo.

Até o momento, segundo a Defesa Civil paulista, a tragédia já matou 54 pessoas desde o Carnaval. Cerca de 40 ainda estão desaparecidas.

O Metrópoles acompanhou a rotina dos desabrigados que estão na Escola Estadual Henrique Tavares de Jesus, em Barra do Sahy, costa sul de São Sebastião. As salas de aula abrigam até 15 pessoas de três famílias diferentes. Elas dormem em colchões doados e também vestem roupas que receberam de doações após perderem tudo o que tinham.

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O casal Adriano Coimbra e Patrícia Braúna, que perdeu a casa na tragédia de São Sebastião (SP)

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A dona de casa Bárbara de Jesus, abrigada em escola na Barra do Sahy, que não conseguiu enterrar a mãe

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Escola estadual em Barra do Sahy usada como abrigo para vítimas da tragédia

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Professores cuidam das doações recebidas para as famílias desabrigadas no litoral norte de São Paulo

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Famílias que perderam suas casas fazem refeição em escola improvisada como abrigo

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Cerca de 400 pessoas estão morando provisoriamente em escola pública na Barra do Sahy

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O barulho e a falta de cortinas nas janelas atrapalham o sono. O cansaço provocado por quase uma semana de angústia e desconforto transparece na fisionomia de cada um dos moradores da Vila do Sahy, comunidade precária que cresceu de forma irregular do lado oposto da rodovia onde fica a turística praia da Barra do Sahy.

O café da manhã desta sexta-feira (24/2) foi pão com manteiga, servido em pedaços cortados ao meio, e café com leite em copos de plástico. Há fila quando a comida arrecadada por doação é servida, e como não existem mesas para todos é preciso se alimentar em pé ou em bancos espalhados pelo pátio da escola.

Como não há espaço para todos nos “quartos”, a empregada doméstica Patrícia Luana da Silva Braúna, de 29 anos, está dormindo com o companheiro, Adriano Veras Coimbra, de 22, em um colchão montado no pátio. “Tem claridade, mas dá para dormir à noite. Mas não dá para descansar, não”, conta a moradora da Vila do Sahy, bairro mais atingido pelos deslizamentos de terra.

“As doações de comida estão chegando a toda hora. Tem roupa, produto de higiene. Neste ponto, não podemos reclamar”, afirma Patrícia, que tem esperança de voltar para a casa onde morava com o marido. Há areia no chão e crianças correndo por todo lado. O sinal da escola não foi desligado e toca nos horários em que as aulas, suspensas, deveriam terminar.

Não conseguiu enterrar a mãe

Além da perda material, muitos dos desabrigados lidam com a morte de um parente ou amigo da vizinhança. A dona de casa Bárbara de Jesus, de 18 anos, não conseguiu enterrar a mãe, Jailda de Jesus, de 36 anos, que morreu em Cambury, outra praia de São Sebastião, perto da Barra do Sahy.

A casa onde ela estava foi completamente destruída pelo temporal que provocou deslizamentos de terra na encosta da Serra do Mar. A jovem agora está preocupada em cuidar dos dois irmãos mais novos, de 15 e 11 anos, que viviam com a mãe. “Minha irmã [de 19 anos] disse que vai ficar com eles. Eu estou pensando em me mudar para Alagoas”, conta a jovem, referindo-se ao estado da família do seu namorado.

As professoras que dão aula na escola agora ficam o tempo todo na despensa ou na cozinha, organizando as doações e garantindo roupa e comida para os desabrigados. O trabalho voluntário começa todo dia às 7h.

“A mistura que chegou aqui dá para hoje. Para amanhã, ainda precisa chegar. E também precisa de água, sempre”, diz a professora Maria Regina Muknicka, de 67 anos, uma das voluntárias.

Atendimento especial

Na tarde de quinta-feira (23/2), o Metrópoles havia conversado com desabrigados que foram levados para outro ponto de São Sebastião, o Instituto Verdescola, uma ONG que virou alojamento e centro de triagem para quem precisa de alguma assistência.

“Não falta comida e nossa família toda está bem. Estamos sendo bem tratados”, afirma o vendedor ambulante Renato Dantas, de 54 anos, que morava no Guarujá antes de se mudar há um ano para a Vila do Sahy.

No dia do desmoronamento, o ambulante e a mulher só conseguiram colocar os três filhos no colo e descer o morro às pressas. Ele deixou para trás sua cachorrinha e duas crias que ela havia acabado de ter.

“Já tinha um filho em cada mão, não teve como”, afirma Dantas, depois de descrever cenas de horror na noite da tragédia, como vizinhos sendo levados pela enxurrada entre troncos e pedaços de casas.

Na quinta-feira, porém, quando os bombeiros puderam abrir um caminho para chegar até sua antiga casa, que não foi totalmente destruída, o ambulante teve uma boa surpresa: a cadela e as crias estavam vivas.

“Elas tinham subido na cama e estavam juntas, no colchão. Tinham escapado da enxurrada e estavam bem”, diz Dantas, sorrindo. “Ela tem 3 anos. As filhotes, 15 dias.”

Medo de saques

Muita gente que está abrigada, no entanto, prefere buscar o centro de acolhida apenas para dormir. Passam o dia na Vila do Sahy, acompanhando os trabalhos dos bombeiros e tentando resgatar o que a lama não levou.

O pedreiro Elmo Teixeira, de 54 anos, integra esse grupo. Ele passa o dia na vila ajudando amigos na retirada de pertences e na limpeza das casas.

“Eu vivia em uma casa e tinha uma casa do lado, que estava alugada. Nessa casa, morreram sete pessoas”, diz Teixeira, ainda atônito.

Já o trocador de óleo Carlos João de Souza, de 64 anos, tem ficado na área onde os bombeiros buscam sobreviventes do nascer do dia até o anoitecer, tentando identificar eventuais ladrões que possam aproveitar o caos para saquear as casas, embora a polícia não tenha registros de roubos até o momento.

“Estamos toda hora aqui. Se a gente pegar alguém roubando, não quero saber de ninguém defendendo ladrão”, afirma Teixeira.

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