São Paulo – Enquanto Jair Bolsonaro (PL) demonstra insatisfação com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), que querem seu apoio mas relutam em lhe abrir espaço em seus governos ou defender suas bandeiras, aliados mais próximos do ex-presidente passaram a atuar nos bastidores para tentar minar a aliança eleitoral já firmada pela dupla para o ano vem.
Costurada no início deste semestre, a aliança entre Nunes e Tarcísio assegura ao governador a preferência para indicar o vice na chapa do prefeito em 2024 – nome que poderia ser do Republicanos, seu partido, ou de uma legenda aliada. Como Bolsonaro não participou desse acordo e tem sido alijado do processo, os bolsonaristas começaram a insuflar como opção de vice um nome que não agrada a Tarcísio e muito menos a Nunes.
Trata-se da secretária da Mulher do governo Tarcísio, Sonaira Fernandes (na foto em destaque), que integra o chamado bolsonarismo raiz e é filiada ao Republicanos, o mesmo partido do governador. Ela já foi assessora do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), era vereadora da capital e é fiel escudeira do ex-presidente. Com esses atributos, vetá-la seria um constrangimento duplo para Tarcísio.
Sonaira não goza de prestígio no Palácio dos Bandeirantes e, nos bastidores, é constante alvo de fogo amigo por dificuldades de implementar projetos relevantes à frente da pasta da Mulher. A nomeação dela foi um aceno de Tarcísio ao bolsonarismo, que tem pouco espaço no governo estadual, mas atendeu a um desejo do Republicanos, que garantiu a cadeira de Sonaira na Câmara Municipal de São Paulo para o atual vereador Jorge Wilson Filho.
Na Prefeitura, o nome de Sonaira também tem enorme resistência, segundo um auxiliar do prefeito. Na visão dele, a atual secretária da Mulher não conseguiu construir pontes na política paulistana quando esteve na Câmara Municipal, entre 2020 e 2022, por causa da postura mais radical, e pouco agregaria à candidatura de Nunes por ser desconhecida do grande eleitorado.
Além disso, ter Sonaira como vice minaria o discurso contra o radicalismo utilizado pelo prefeito contra seus principais adversários: os deputados federais Guilherme Boulos (PSol) e Ricardo Salles (PL). Por isso, a estratégia de Nunes é obter o apoio de Bolsonaro sem precisar ceder a vice a um bolsonarista. Com isso, o prefeito pretende enfraquecer qualquer candidaura de direita que possa tirar-lhe votos no primeiro turno.
Vice da segurança
Até o momento, o nome mais cotado por Tarcísio para a vice de Nunes é o do delegado Osvaldo Nico, secretário-executivo da Polícia Civil do governo paulista. Figura carimbada dos programas que abordam casos policiais na TV, Nico ganhou força nos bastidores diante da avaliação que Nunes precisa de um nome ligado à segurança pública em sua chapa — o grupo acredita que esse tema será um dos mais explorados na campanha eleitoral em 2024.
Entre os auxiliares mais próximos do prefeito, o nome foi bem aceito, embora alguns acreditem que outros temas possam superar a segurança pública no debate eleitoral no ano que vem – historicamente, a saúde é a campeã de críticas na administração municipal.
Contudo, a equipe de Nunes considera que embora o apoio de Tarcísio – e da máquina pública estadual – tenha um peso maior do que qualquer outro aliado, o nome que o governador indicar terá de contar com o apoio da trinca de partidos que ele pretende ter na coligação: PSDB, que ameaça rachar diante do apoio ou não a Nunes, União Brasil, comandado pelo presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, e PL, de Valdemar Costa Neto.
Dentro do Republicanos, partido de Tarcísio, o nome do delegado Osvaldo Nico também desponta como favorito na indicação e o da secretária da Mulher, Sonaira Fernandes, é visto como uma estratégia dos bolsonaristas descontentes com o governador e o prefeito para tumultuar a aliança eleitoral entre os dois.
