Laila Garin: Carmen Miranda criou um estilo que ainda é contemporâneo

Em cartaz com “Carmen, a grande pequena notável”, a atriz conta sobre a construção da personagem e por que é preciso lembrar da cantora

atualizado 11/02/2023 14:11

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imagem colorida laila garin carmen miranda Leekyung Kim

“Aquela doida americana” foi a frase que o diretor de teatro Kleber Montanheiro escutou de um grupo de jovens sobre a cantora Carmen Miranda (1909–1955). A definição acendeu um alerta: era preciso apresentar Carmen às novas gerações. Baseado no livro infanto-juvenil “Carmen, a grande pequena notável”, de Heloísa Seixas e Julia Romeu, Kleber concebeu o espetáculo musical homônimo. A peça reestreia nesta semana no Teatro Popular da Sesi em curta e gratuita temporada.

Estrelado inicialmente pela atriz Amanda Costa, que está em cartaz em “Uma relação tão delicada”, a nova temporada traz a atriz Laila Garin como a pequena notável. “Carmen Miranda tinha um carisma, uma alegria que era muito contagiante”, diz Laila em entrevista ao Metrópoles. Embora tenha morrido há quase 70 anos, a atriz acredita que a cantora inaugurou um estilo que continua contemporâneo.

“A releitura que ela faz da baiana é genial: pega na tradição, traz para o moderno e não fica datado. Para o cantor, acho que ela mostra como é importante ter uma identidade visual.”

Para dar vida à intérprete de “Tico-tico no fuba”, Laila tem visto vídeos, ouvido as gravações da cantora e lido “Carmen”, a biografia definitiva sobre a artista escrita pelo jornalista Ruy Castro (Companhia das Letras, 2005). Além disso, a atriz se inspirou na personagem criada por Amanda Costa. “O trabalho da Amanda é super detalhado. Então, peguei na fonte de Carmen, mas também usei o filtro da Amanda”, explica.

Confira os principais trechos da entrevista:

Como foi o processo para viver Carmen Miranda? Porque essa personagem já te rondava há algum tempo.
Eu ia fazer uma montagem do João Falcão. Mas acabou não acontecendo o espetáculo. Depois disso perdi o contato com a história de Carmen. Eu não pude assistir ao espetáculo que estou agora, quando estreou em 2018. Mas acabei entrando para substituir a Amanda (Costa). Para entrar em cena, eu fiz um super intensivo. Estou lendo a biografia escrita pelo Ruy Castro, que é maravilhosa, e vi muitos vídeos. Inclusive vídeos da peça, porque o trabalho da Amanda é super detalhado. Então, peguei na fonte de Carmen, mas também usei o filtro da Amanda.

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Laila Garin é Carmen Miranda em “Carmen, a Grande
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Você já deu vida a personagens da vida como Elis Regina, Edith Piaf, Clara Nunes e agora Carmen. O que muda na composição desses personagens que já são conhecidos de um grande público?
Temos que escolher algumas características que representam essas pessoas. No caso de Carmen Miranda, por exemplo, tem os movimentos das mãos. Mas tem também o espírito da personagem. Às vezes, não é tão importante você ser fiel a um traço, mas ao espírito daquilo. É meio estranho, é como se você estivesse manipulando a mesma imagem que é coletiva. A cilada é você ficar muito preocupada e querer imitar — o que é uma tentação. Mas é um exercício interessante, para o ator, compor personagens que já existiram.

Qual o espírito de Carmen Miranda você traz?
Ela tem um carisma, uma alegria que é muito contagiante. Acho que isso é o mais importante de tudo. O estilo da peça é inspirado no teatro de revista, então, a gente apresenta a vida de Carmen por meio de quadros, em uma linguagem muito rápida, mostrando principalmente essa criatividade dela de montar os figurinos e criar a sandália plataforma. Uma inventividade que ela traz desde criança.

Carmen Miranda morreu há quase 70 anos, mas me parece que sua imagem está muito incrustada no imaginário nacional. Por que ainda precisamos falar sobre a cantora?
Certo dia, o diretor Kleber Montanheiro foi dar uma aula e ouviu um grupo de jovens dizer: “Carmen Miranda, aquela doida americana”. Aí, ele se tocou que as novas gerações estavam sem saber quem era Carmen. Isso o motivou a criar esse espetáculo para trazer a cantora de volta, principalmente para um público que não a conhece. Mas quem é mais velho também mata a saudade, reconhece e canta as músicas.

Como Carmen Miranda se conecta com as pessoas no presente? O que ela traz para cena artística atual?
Ela inaugurou e inventou um estilo que acho ainda super contemporâneo. A releitura que ela faz da baiana é genial: pega na tradição, traz para o moderno e não fica datado.  Para o cantor, acho que ela mostra como é importante ter uma identidade visual. Ela era virtuosismo puro. Luiz Gonzaga também, quando escolheu aquela roupa de vaqueiro, ele sabia o que estava fazendo. Isso é muito atual. Ela sacou isso lá atrás. Hoje é tudo visual.

Você já viveu cantoras que têm timbres muito distintos — Elis, Piaf, Clara Nunes e Carmen. Como é a sua preparação para dar voz a essas cantoras?
Estudo canto há muito tempo, tenho formação em canto lírico e faço fono desde os meus quatorze anos. Isso me possibilita pegar muito rápido o tom de cada uma. É muito de ouvido também. Estou escutando bastante Carmen Miranda agora. Na peça, tenho de fazer uma voz de criança e senti que estava me machucando. Então, passei em uma fonoaudióloga, que me acompanha há muitos anos, para ver a questão do timbre, da respiração. A cada personagem novo faço uma consulta com ela.

Em 2022, houve uma série de musicais sobre cantores como Dominguinhos, Sidney Magal e Ney Matogrosso. A que você justifica tantos espetáculos com essa temática?
Há vários motivos. Um deles é a música brasileira ser muito rica. É realmente fantástico revisitar essa obra que tem muita coisa boa. O musical acaba tendo essa função de contar a história, que é a nossa história — da música brasileira e do Brasil. Isso é muito importante. E tem o lado do folhetim. É da natureza humana querer saber da vida pessoal de um artista.

Você transita das grandes produções aos espetáculos mais alternativos. Já podemos dizer que em São Paulo, assim como a Broadway, há uma cena on e outra off? Há público para essas duas produções?
Com certeza. Olhando as salas que existem, principalmente em São Paulo, há público para tudo isso. Tenho um público que me acompanha e vê todos os espetáculos — isso é muito lindo. Há produções que atraem mais pessoas e há também os públicos mais segmentados. Por exemplo, tem gente que tem preconceito com musicais importados, mas que vão às produções nacionais. “Carmen”, agora, está sendo muito assistido.

Teatro do SESI-SP: Avenida Paulista, 1313 — Bela Vista. Qui./sáb.: 20h e dom.: 19h. Site: www.sesisp.org.br. Grátis. Até 12 de fevereiro.

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