Refugiados afegãos relatam a agonia de morar no Aeroporto de Guarulhos

Aeroporto de Guarulhos continua a receber afegãos que fogem do Talibã e tem, atualmente, 141 refugiados vivendo em barracas no Terminal 2

atualizado 18/10/2023 8:10

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Imagem mostra barracas improvisadas por refugiados afegãos em corredor do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo - Metrópoles William Cardoso/Metrópoles

São Paulo — O Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na região metropolitana, continua a receber afegãos que buscam asilo no Brasil, em um fluxo que teve início logo após a retomada do país pelo Talibã, em 2021. Adultos e crianças têm vivido até duas semanas em barracas improvisadas e colchões pelo chão, enquanto aguardam abrigo.

Cumbica é um local de contrastes que vão além das emoções envolvidas em chegadas e partidas. Na última sexta-feira (13/10), por exemplo, enquanto 175 reservistas israelenses embarcavam no Terminal 3 para participar da guerra no Oriente Médio, 141 refugiados afegãos seguiam no Terminal 2 à espera de auxílio, em uma jornada que, em alguns casos, começou há quase dois anos no coração da Ásia.

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O professor de inglês Mahmood Alizada, 30 anos, e o cozinheiro Mahmood Alizada, 30 anos, no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo
Refugiados afegãos em mezanino do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo
Barracas de refugiados afegãos formam fila por alimentação no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo
Refugiados afegãos em mezanino do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo
Refugiados afegãos em mezanino do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo
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Refugiados afegãos formam fila por alimentação no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

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O professor de inglês Mahmood Alizada, 30 anos, e o cozinheiro Mahmood Alizada, 30 anos, no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

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Barracas de refugiados afegãos formam fila por alimentação no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

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Refugiados afegãos em mezanino do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

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Barracas de refugiados afegãos formam fila por alimentação no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

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Refugiado afegão recebe marmita em mezanino do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

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Refugiada afegã aguarda limentação no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

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O cozinheiro Hussain Rezaie, 41 anos, veio com mulher e quatro filhos para o Brasil na esperança de encontrar trabalho e educação para as crianças. Antes de alcançar o sonho, porém, a família tem encarado os mesmos problemas que outros afegãos ao chegar a Guarulhos.

“É muito difícil para uma mãe e os filhos viverem em um lugar como aqui. Pedimos ao governo brasileiro e às entidades assistenciais, por favor, que consigam abrigo para nós o quanto antes”, diz Rezaie.

 

Grande parte dos refugiados é formada por muçulmanos xiitas, que são minoria no Afeganistão. É o caso de Hussain. “A vida é muito difícil para nós. O Talibã é contra a nossa religião e a nossa nação. Até mesmo conseguir trabalho é difícil para nós, por isso deixamos o país”, afirma.

O Talibã é um grupo terrorista que governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, quando foi retirado do poder pelos Estados Unidos na esteira das ações após os atentados de 11 de setembro. Com a saída do país das tropas lideradas pelos americanos, em 2021, o Talibã não teve dificuldade para afastar o governo central e reassumir o controle.

Segundo Rezaie, o período em que o Afeganistão se viu livre do Talibã, durante cerca de 20 anos, foi de progresso em vários aspectos. “As pessoas iam para a escola, para a universidade, a maioria da nossa população conseguiu ter acesso à educação”, diz. Era um cenário um pouco mais promissor inclusive para as mulheres, principais vítimas da intolerância do grupo terrorista — Rezaie tem uma menina de 9 anos.

De acordo com o cozinheiro, o retorno do Talibã trouxe consigo a crueldade. “Muitas pessoas que vivem em áreas rurais foram assassinadas e o Talibã tomou suas casas e terras”, diz.

A conversa com o cozinheiro foi traduzida do dari, língua falada no Afeganistão (uma variação do persa), pelo professor de inglês Mahmood Alizada, 30 anos, que também está no aeroporto desde o início da semana passada em busca de refúgio no Brasil.

“A situação é ruim não apenas para mim, mas principalmente para as famílias com crianças pequenas. Esse lugar não é limpo, não tem chuveiro. Até mesmo durante a noite é barulhento demais e não conseguimos dormir”, diz Alizada.

O professor resume da seguinte maneira a situação e pede ajuda. “Não é um lugar para se viver. Mas, infelizmente, há pessoas que vivem aqui por 10, 15 dias. É difícil passar 15 dias sem um banho. Somos seres humanos”, diz.

Segundo Alizada, a embaixada do Brasil no Irã tem emitido vistos humanitários de forma muito lenta. O processo todo pode demorar até um ano e oito meses, o que causa angústia nos refugiados. “Vi pessoas dormindo no parque esperando pelo visto”, afirma.

O professor de inglês diz que muitas pessoas saem do Afeganistão com pouco dinheiro. O próprio Alizada deixou a família no país asiático por não ter condições de trazê-la com ele. Só em passagens, são cerca de US$ 1.000 (pouco mais de R$ 5.000).

O que dizem as autoridades

Já o governo de São Paulo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, diz que investiu, ao longo do ano, mais de R$ 6 milhões em 10 equipamentos para migrantes e refugiados, sendo duas casas de passagem e oito repúblicas.

Segundo a administração estadual, no momento, todas as cerca de 200 vagas estão ocupadas, majoritariamente por afegãos. “A pasta permanece dialogando com governo federal — o responsável pela emissão de vistos humanitários e politica de acolhimento e interiorização dessa população — para orientação e ampliação do número de vagas”, diz, em nota.

A Prefeitura de Guarulhos diz que não é o órgão responsável pela acolhida dos afegãos, mas que trabalha de forma emergencial para lidar com a demanda.

Segundo a prefeitura, já no desembarque, os refugiados são referenciados no Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante e entram no processo de busca por vagas junto ao governo estadual, responsável por gerenciar essas vagas de acolhimento. “No momento, não temos previsão para novos acolhimentos”, diz.

A prefeitura afirma ainda que, enquanto estão no aeroporto, garante a segurança alimentar dos refugiados com café da manhã, almoço e jantar, além de entregar água e cobertores. “As equipes do posto avançado estão à disposição dos afegãos para atender quaisquer necessidades emergenciais que surjam, inclusive para acionar as equipe de saúde do município”, diz.

Segundo a prefeitura, Guarulhos tem 257 vagas para acolhimento de migrantes e refugiados, sendo 207 geridas pela municipalidade e outras 50 pelo governo estadual.

A prefeitura também diz que protocolou, em 23 de março, o primeiro documento solicitando o reconhecimento de Guarulhos como Cidade Fronteira.

“Em 13 de junho, diante de quase duas centenas de afegãos aguardando acolhimento, mais um ofício foi protocolado, reforçando a solicitação feita anteriormente e solicitando ainda o governo federal assuma as ações de interiorização dos afegãos no país”, diz. “Até o momento não houve retorno positivo em nenhum dos pedidos”.

O gabinete do ministro de Portos e Aeroportos diz que recebeu o ofício do prefeito de Guarulhos, Gustavo Henric Costa, solicitando que o município seja reconhecido como fronteira aérea do Brasil, a fim de possibilitar o recebimento de recursos federais para execução de iniciativas voltadas a imigrantes. “O documento foi encaminhado ao Grupo de Trabalho Política Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia do Ministério da Justiça (MJ), órgão competente para dar encaminhamento à solicitação”, diz, em nota.

A concessionária GRU Airport, que administra o Aeroporto de Guarulhos, diz que tem contribuído no suporte aos procedimentos de higiene pessoal e manutenção de limpeza constante do espaço, “além da viabilização do vestiário”.

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