Novo diretor quer reformar os “bastidores” do Centro Cultural de SP

Rodolfo Beltrão, o mais jovem a ocupar a direção do Centro Cultural, planeja reformar a rede elétrica e digitalizar o acervo

atualizado 15/03/2023 21:49

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Imagen Colorida Rodolfo Beltrão Fábio Vieira / Metrópoles

O produtor de moda Rodolfo Beltrão, 34 anos, sempre trabalhou nos bastidores. Em fevereiro deste ano, tornou-se o mais jovem diretor do Centro Cultural São Paulo, instituição que recebe mensalmente 30 mil pessoas e tem orçamento de R$ 17 milhões para 2023.

Além de ser o mais jovem, Beltrão é também o primeiro assumidamente mestiço. Ele é filho de pai branco com mãe marajoara. O novo cargo, no entanto, não faz o filho de dona Eurídice querer se colocar no foco das atenções. Em entrevista ao Metrópoles, afirma:

“Eu não estou deslumbrado. Quero realizar ações que sejam perenes e continuem também depois da minha saída. Seria muito legal entrar para a história. Mas meu plano no momento é realizar ações concretas que durem e sejam irreversíveis.”

Em sua gestão, Beltrão diz estar preocupado em reformar a parte elétrica do prédio e digitalizar o acervo de obras de arte que tem cerca de 10 mil itens. O produtor começou a trabalhar no CCSP em 2019, como supervisor de curadoria a convite de Érika Palomino, diretora à época.

Beltrão assume a direção do Centro Cultural após a saída conturbada do músico Leandro Lehart, que justificou em sua carta de despedida, em fevereiro de 2022, falta de diálogo com a prefeitura e a Secretaria Municipal de Cultura.

“Eu já estava trabalhando aqui. Acho que isso é mais representativo. Porque não estou deslumbrado com o cargo. Eu já conheço a máquina e não vou começar a fazer coisas nababescas, porque conheço os processos”, explica.

Conforme o jovem diretor, o princípio de sua gestão é o mesmo que guiou os arquitetos Eurico Prado e Lopes e Luiz Telles na construção do CCSP: criar um lugar de encontro e de liberdade.

Confira os principais trechos da entrevista:

Você é o diretor mais jovem a assumir o Centro Cultural São Paulo. O que da sua juventude você quer trazer para a Instituição?
Além de ser o diretor mais jovem, eu sou o primeiro diretor que não chegou de fora. Eu já estava trabalhando aqui. Acho que isso é mais representativo. Porque não estou deslumbrado com o cargo. Eu já conheço a máquina e não vou começar a fazer coisas nababescas, porque conheço os processos. Claro que quero fazer projetos grandes, mas com respeito à máquina. Não sairei atropelando nada. Mas sendo o mais jovem diretor, sinto que tenho a missão de rejuvenescer alguns processos e trazer ideias novas.

Você poderia dar exemplos?
No trato, por exemplo. Tem gente que tenta se proteger na formalidade dos processos. Gosto mais da conversa mais humana, do olho no olho, do diálogo. Entendo que uma repartição pública precisa de protocolos. Mas podemos inverter: tomar um café antes, ouvir o que a pessoa tem a dizer e depois protocolar. Acho que desse modo as relações se tornam mais humanas.

Você trabalhou com produção executiva na área de moda e veio para cá para coordenar as curadorias de projetos. Seu cargo agora é mais burocrático do que os anteriores. Como você planeja trabalhar seu lado criativo?
O próprio CCSP me ajuda a alimentar minha criatividade. Saio de uma reunião burocrática e passo no restaurante para pegar um café. Só de atravessar um corredor, já encontro pessoas dançando, conversando, lendo, jogando xadrez. Aqui você encontra respiros o tempo todo. Quando vim para cá, em 2019, eu me preparei para lidar com as burocracias. Neste ano, comecei a estudar gestão pública, na Fundação Getúlio Vargas, para compreender melhor esses processos.

Uma das principais reclamações da gestão passada era a falta de comunicação com a Secretaria Municipal de Cultura (SMC). O CCSP é um dos maiores equipamentos culturais da prefeitura. Como é a sua relação com Aline Torres, Secretária de Cultura?
A minha relação com a Aline é ótima. Quando entrei aqui, ainda como supervisor de curadoria, uma das minhas ações foi aproximar os processos do CCSP com os da SMC, porque setores da Secretaria atendem o CCSP e eles também precisam do CCSP. Por isso, minha preocupação era aproximar. Estou aqui há quatro anos e sempre tivemos um bom diálogo o tempo inteiro.

Em sua gestão já houve alguma aproximação mais efetiva?
Conseguimos retomar os contratos da bilheteria informatizada e da gráfica terceirizada. São ações que agilizam o nosso processo, porque não ficamos reféns da gráfica daqui caso surja algum problema. Ano passado, como interino, trabalhei muito para reestruturar o CCSP para voltar a receber o público.

Como está a frequência nesse momento de arrefecimento da pandemia?
Estamos com 70% do público que tínhamos em 2019. Nossa missão é reapresentar o CCSP para as pessoas voltarem. As pessoas precisam ter confiança em voltar. É ótimo ver a biblioteca e o cinema cheios novamente.

Você já disse que não está muito preocupado em deixar uma marca. Já repensou isso ou mantém essa postura?
Eu não estou muito deslumbrado com isso. Quero realizar ações que sejam perenes e continuem também depois da minha saída. Seria muito legal entrar para a história. Mas meu plano, no momento, é realizar ações concretas que durem e sejam irreversíveis. Por isso estou preocupado em reformar algumas partes do prédio. O CCSP existe independentemente de mim ou de outro diretor. Quero fazer uma gestão bacana e preocupada com o CCSP.

Quais são as reformas estruturais que você está planejando?
É preciso fazer a manutenção das vigas de dilatação e reformar toda a parte elétrica do prédio. São ações que têm a ver também com a segurança, não são coisas cosméticas. Esses projetos demandam tempo. Quero também democratizar o acesso ao nosso acervo, digitalizando as imagens das nossas obras e montar um banco de dados online para as pessoas terem acesso de qualquer lugar.

Você é o primeiro diretor assumidamente mestiço e com origem indígena. Já pensou em como gostaria de refletir essa característica na programação?
Quero trazer de volta a própria proposta do prédio com uma gestão transparente em que todo mundo se sinta livre e acolhido aqui. A gente não tem uma programação específica para o Dia da Mulher, por exemplo, mas essa preocupação atravessa as atividades do CCSP no ano inteiro. Quero seguir com essa linha também para a pauta indígena. Temos reuniões semanais com o time de curadoria e eu provoco bastante sobre esses temas. Temos de pensar nas áreas de forma transversal, que não seja algo separado em artes, teatro, música e cinema. Me interessa que essas áreas se misturem.

Conheça o Centro Cultural São Paulo: 

Centro Cultural São Paulo: Rua Vergueiro, 1000 — Paraíso. Ter./dom.: 10h/22h. Site: centrocultural.sp.gov.br

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