São Paulo – A associação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro com o caso das joias sauditas recebidas por Jair Bolsonaro de governos estrangeiros, mesmo de forma involuntária, virou o centro de uma disputa entre vereadores da Câmara Municipal de São Paulo.
Há algumas semanas, o vereador bolsonarista Rinaldi Digilio (foto em destaque), do União, tenta aprovar um projeto que concede à Michelle, natural de Ceilândia, no Distrito Federal, o título de cidadã paulistana. Mas outros vereadores conservadores e de direita tentaram demover o parlamentar da ideia por causa do escândalo das joias envolvendo o clã Bolsonaro.
Depois de esperar de fevereiro a maio que seu projeto passasse pela Comissão de Constituição e Justiça, que na capital tem um caráter quase protocolar — não barra propostas de vereadores –, Digilio não conseguiu fazer seu texto ser aprovado até agora na Comissão de Educação, que também precisa dar aval ao texto antes de ele ir ao plenário da Câmara.
Nesta terça-feira (26/9), Digilio pediu para participar da reunião semanal dos líderes das bancadas para cobrar providências dos colegas. Na reunião, ele expôs um dos aliados que se mostraram desconfortáveis com a aprovação do projeto, o vereador Coronel Salles (PSD).
“Meu querido amigo Coronel Salles disse para mim: ‘Digilio, tem esse problema aí, esse boato das joias. Você quer por (o projeto de homenagem à Michelle Bolsonaro) para votar?’ Eu quero, porque tem as joias do bem e as joias do mal. As do Lula são as joias do bem”, disse.
Digilio nem continuou sua linha de raciocínio e já foi interrompido pelo vereador Senival Moura, líder do PT na Casa. “Mas o que o Lula tem a ver com as joias?”
“Estou falando das narrativas. Porque quando é de uma esfera política, é do bem. Quando é de outra esfera política, é do mal”, respondeu o vereador bolsonarista.
A discussão dispersou as pessoas que estavam no local e fez com que o presidente da Câmara, Milton Leite (União), se manifestasse. Ele disse que Digilio deveria levar o projeto a voto e que, caso não houvesse apoio suficiente, a ideia estaria abortada pelo próprio plenário.
Não é tradição no Legislativo paulistano derrubar projetos de lei. As conversas de bastidores que os parlamentares fazem dão o termômetro se o projeto pode ou não ir para a votação – só vai se já tem votos suficientes, na maioria dos casos.
Mas, em sua justificativa para a concessão do título de Cidadã Paulistana à ex-primeira-dama, Rinaldi Digilio enviou apenas uma biografia de Michelle Bolsonaro, sem informar nenhuma relação dela com a capital paulista.
Digilio aproveitou ainda para se queixar de outra homenagem polêmica que ele quer prestar, essa ao pastor André Valadão, um religioso envolvido em acusações de homofobia.
Na hora, também foi questionado pelo vice-presidente da Câmara, Xexéu Trípoli, que informou que retiraria sua assinatura ao projeto que homenageava o pastor. Segundo Xexéu, Digilio escreveu que o homenageado era “André Machado”, sem informar que se tratava do polêmico pastor.
