São Paulo – Após alegar ter encontrado “inconsistências” em dados de segurança divulgados em 2022, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afastou a possibilidade de “maquiagem” das estatísticas criminais por parte da gestão João Doria (ex-PSDB) e Rodrigo Garcia (PSDB), em São Paulo.
Segundo o governo Tarcísio, São Paulo registrou mais casos de estupros, roubos e furtos de veículos em abril de 2022 do que o número divulgado na época. Por causa da divergência apontada naquele mês, todas as estatísticas criminais do ano passado vão passar por revisão.
O prazo de conclusão da auditoria dos dados é de 30 dias. A principal hipótese do grupo de trabalho, no entanto, é que o problema detectado tenha relação com uma mudança no sistema usado pela Polícia Civil paulista para registrar boletins de ocorrências, realizada ao longo do ano passado.
“Tudo indica que é erro de sistema, nada mais do que isso”, afirma o major Rodrigo Vilardi, coordenador de Políticas de Segurança Pública, ao Metrópoles.
De acordo com Vilardi, a análise preliminar também aponta que as divergências estão restritas a alguns meses de 2022 e teriam sido resolvidas no decorrer do ano passado. “Acreditamos que a transição tenha gerado erros de leitura e essa inconsistência”, diz.
Tarcísio mudou metodologia
Antes da mudança, os boletins de ocorrência registrados em São Paulo eram agregados na plataforma Registro Digital de Ocorrência (RDO). Ela foi substituída paulatinamente pelo Sistema de Polícia Judiciária (SPJ) que, em tese, tem melhor interface com outras ferramentas.
Em janeiro de 2023, o governo Tarcísio também promoveu mudança na metodologia de consolidação das estatísticas criminais.
Até então, cada delegacia inseria no sistema o número absoluto de cada crime registrado, e cabia à Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP), da SSP, consolidar as estatísticas.
Agora, é a CAP quem extrai os boletins de ocorrência, agrega por natureza criminal e submete os dados para o distrito policial validar. O argumento é que o novo processo melhora a auditoria dos dados.
“Inconsistência” detectada
Foi ao aplicar essa nova metodologia que a CAP teria detectado as “inconsistências” nos dados de abril de 2022. Inicialmente, a comparação dos números deste ano com os do ano passado apontava aumento de cerca de 10% na quantidade de roubos e furtos de veículos. Cenário que o governo Tarcísio diz ter estranhado, já que os índices de assalto, em geral, apontavam redução.
“Fomos analisar a base de BOs do ano passado, já que a informação até então era só quantitativa, para entender a característica individual do crime”, diz Vilardi. “Quando a gente fez a checagem, identificamos que havia um número maior de BOs de roubos e furtos de veículos que não estavam na estatística”.
Com a revisão, os roubos de veículos de abril de 2022 foram alterados de 2.920 para 3.482, o que representaria subnotificação de 19,2% no ano passado. Já os furtos saltaram de 6.831 para 8.296, 21,4% a mais.
