São Paulo – Especialistas em educação avaliam como positiva a utilização do Provão Paulista para estimular o ingresso de estudantes nas universidades públicas de São Paulo, mas apontam dificuldades para que o programa beneficie toda a rede de forma igualitária.
Anunciado pela gestão Tarcísio no final de junho, o novo formato de vestibular será aplicado para os alunos da rede estadual de ensino de forma seriada, com avaliações nos três anos do Ensino Médio. O resultado será usado para acessar universidades públicas estaduais.
Para o diretor de pesquisa e avaliação do Cenpec, Romualdo Portela de Oliveira, a ideia é positiva. “Aumentar a adesão dos estudantes ao processo seletivo das universidades é muito positivo. É um público que deve de fato ser estimulado ao ingresso na escola”, afirma o pesquisador.
Segundo o governo, apenas 23% dos estudantes da rede pública de São Paulo se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2021. O percentual, também registrado em Roraima, é o menor entre todos os estados brasileiros.
Romualdo diz, no entanto, que a iniciativa precisa ser acompanhada de outras medidas, já que a realidade da rede estadual envolve desigualdades entre escolas. O pesquisador cita a falta de infraestrutura em algumas unidades e a dificuldade para professores se dedicarem integralmente a uma escola.
“Tem uma série de iniciativas que são importantes para que um programa dessa natureza provoque aquilo que ele deva provocar, que é estimular uma maior presença dos estudantes [na universidade pública].”
A importância da equidade
A presidente do Instituto Singularidades, Cláudia Costin, compartilha da opinião. Para ela, o Provão Paulista é positivo por ampliar o acesso dos estudantes, mas é preciso haver investimento em escolas de regiões mais vulneráveis.
“Isso é uma questão que é importante para a educação, exista essa prova ou não: a equidade. A gente normalmente pensa em tratar igual todo mundo, mas não, a gente tem que dar mais apoio àqueles estudantes que mais precisam”, afirma a professora.
Costin elogia o fato de o programa prever um auxílio financeiro aos alunos que forem aprovados nas universidades. A ideia é que os estudantes recebam R$ 800 mensais.
Meritocracia
Para a coordenadora da Juventude na Uneafro Brasil, Débora Dias, o Provão foi anunciado em um momento de grandes mudanças nas escolas, com o Novo Ensino Médio e a ampliação do Programa de Ensino Integral (PEI).
Ela acredita que a proposta, apesar de democratizar o acesso às universidades, tem que ser tratada com cautela. A coordenadora cita, por exemplo, a diferença na oferta de disciplinas básicas para estudantes de diferentes escolas.
“Se você não levar em consideração a conjuntura das escolas públicas nesse momento, esse mecanismo pode se transformar em mais um reforço da meritocracia”, afirma Débora, que também é covereadora em São Paulo pela Mandata Quilombo Periférico.
Meritocracia é um conceito ao qual a esquerda tem aversão, por acreditar que aumenta a desigualdade.
Até agora, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) já aprovaram a adesão ao Provão em reuniões dos conselhos universitários. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) deve votar a adesão no dia 1º de agosto.
A expectativa da Secretaria de Estado da Educação é que 20 mil vagas sejam oferecidas aos estudantes nas três estaduais paulistas, além das Fatecs e da Univesp.
Procurada para fornecer detalhes sobre o Provão, a Secretaria de Educação não respondeu ao Metrópoles.