São Paulo – A Enel, concessionária responsável pela distribuição de energia elétrica na Grande São Paulo, disse, nesta quinta-feira (9/11), que as cidades de Cotia e Embu das Artes são as que apresentam situação mais crítica de falta de energia, após as chuvas que atingiram a região na última sexta-feira (3/11). São 1.300 imóveis sem luz nas cidades.
“A companhia esclarece ainda que técnicos seguem trabalhando desde a madrugada em uma ocorrência complexa que envolve árvores e a substituição de postes”, disse a Enel, em nota.
A companhia afirma, ainda, que, em toda a área de concessão, há um total de 30 mil imóveis que continuam sem luz por ocorrências registradas desde sexta. No entanto, não seria possível, segundo a empresa, estabelecer uma relação entre os casos e as chuvas. “Esse número considera a operação total da companhia e casos recentes ingressados não relacionados à contingência”, afirmou a Enel.
Nessa quarta-feira (8/11), o presidente da Enel, Max Lins, afirmou que 11 mil imóveis da Grande São Paulo ainda estavam sem energia na Grande São Paulo. Desse montante, 4,6 mil seriam da capital, 3 mil de Embu das Artes e outros 3 mil da cidade de Cotia.
“Diante da complexidade das ocorrências registradas, o trabalho da companhia tem contado com uma força-tarefa formada por mais de 3 mil técnicos que estão em campo 24 horas por dia. Os números mostram o grande esforço de recuperação dos últimos dias. Foram cerca de 1 milhão de clientes recuperados nas primeiras 24 horas, do total de 2,1 milhões de clientes afetados”, disse a Enel.
A empresa afirmou que 95% dos casos de falta de energia foram provocados por quedas de árvores sobre a rede elétrica.
“Enel está mentindo”
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou, na noite desta quarta-feira (8/11), que a Enel “está mentindo” ao culpar a queda de árvores pela persistente falta de energia elétrica em várias regiões da cidade de São Paulo.
Ele disse, ainda, que a Prefeitura de São Paulo vai impetrar uma ação na Justiça pedindo indenização à Enel por danos morais coletivos pela demora na religação da eletricidade.
“A gente teve esse problema na sexta-feira e, no sábado logo de manhã, eu procurei os diretores da Enel e não havia um prazo (para restabelecer o fornecimento). A gente exigiu, foi dado o prazo de terça-feira e não foi cumprido, ainda tinha 30 mil consumidores sem energia. Uma vez não cumprido o prazo, vai haver o ingresso da ação judicial”, disse em entrevista à CNN.
Drama em Embu das Artes
O advogado Thiago Luiz de Oliveira Reis, 41 anos, morador de um condomínio com cerca de 400 casas na Estrada Ponta Porã, no quilômetro 26 da Rodovia Raposo Tavares, em Embu das Artes, contou que problemas de falta de energia são comuns na região, mas o apagão dos últimos dias foi o mais grave.
Segundo ele, a luz foi cortada por volta de 17h de sexta-feira (3/11) e não havia voltado até as 9h30 desta quinta-feira — uma pequena parte do condomínio, contudo, teve o problema resolvido na tarde dessa quarta-feira (8/11).
Nos primeiros dias do apagão, a mulher de Thiago, que dorme usando um aparelho chamado CPAP, e as filhas tiveram que passar a noite na casa de parentes. Com a mulher nessa situação, além das crianças e um aquário com peixes morrendo, o advogado fez uma maratona para comprar um gerador próprio.
“Foi difícil. Ou não encontrava gerador, ou tinha muita gente na fila”, conta. Thiago conseguiu comprar o equipamento na segunda-feira (6/11). “Gastei com o gerador, cabos, peças e mão de obra. Só para manter, são R$ 120 por dia de gasolina”, diz. O equipamento tem ficado ligado das 8h às 22h. “Depois disso, tenho que desligar porque o barulho é ensurdecedor.”
Já Daniela Lago de Freitas, 47 anos, que mora no mesmo condomínio há 21 anos, contou que voltou de viagem no domingo e, desde então, tem vivido um pesadelo. “Perdemos alimentos, estamos tomando banho gelado todo dia, ficamos sem internet e não temos como fazer coisas simples, como lavar roupas”, disse Daniela, que seguia sem energia às 9h30 desta quinta-feira.
Sem internet, Daniela também não tem conseguido acompanhar as aulas do curso universitário a distância. “Precisei reorganizar as datas das minhas entregas de trabalho”, disse.
A moradora disse que só terá dimensão do prejuízo depois que a energia for restabelecida e ela descobrir quais equipamentos foram perdidos. “Ao longo dos anos, perdemos máquinas de lavar, modems, vários itens, nem me lembro de todos”, contou. “Nem precisa chover muito. Basta um vento mais forte para acabar a luz por aqui.”
O condomínio em que Thiago e Daniela moram ficou sem energia após uma árvore cair sobre a rede elétrica na tarde de sexta-feira. De acordo com relatos de moradores, a própria administração do condomínio removeu a árvore para facilitar e agilizar o reparo da Enel — o que ainda não foi resolvido. No local, vivem aproximadamente 1.500 pessoas.
Em nota enviada nesta quinta-feira, a Enel admitiu que as cidades de Cotia e Embu das Artes foram as mais afetadas. A concessionária informou que o fornecimento de energia na região foi restabelecido nesta tarde.
