São Paulo — Mensagens de WhatsApp obtidas pelo Metrópoles mostram o arrependimento e a preocupação da mãe de Nicolas Areias Gaspar após ela entregar o menino de 2 anos a uma mulher que conheceu pela internet.
Nas conversas, a mãe de Nicolas, Nathalia Areias Gaspar, parece estar emocionalmente instável. De acordo com familiares, ela enfrenta crises de depressão e toma medicação controlada.
As mensagens foram trocadas com Marcelo Valverde Valezi, preso na última segunda-feira (8/5) por tráfico de pessoas no Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Ele e Roberta Porfírio de Souza Santos foram encontrados pela polícia com Nicolas. A criança estava no banco de trás do carro.
Segundo os advogados dos suspeitos, Roberta havia ido até Santa Catarina para buscar a criança com a intenção de adotá-la. A mulher teria conhecido Nathalia por intermédio de Marcelo.
A defesa de Marcelo diz que ele e Nathalia se conheceram em um grupo do Facebook que reunia famílias com intenção de adotar e mães que queriam “doar” seus filhos.
Em mensagens enviadas a Marcelo, Nathalia descreve a dificuldade para criar o filho estando desempregada e em um cenário de falta de estrutura familiar. A jovem alterna expectativas em relação à criação do bebê.
Há momentos em que admite a incapacidade emocional e financeira de oferecer uma vida estável para Nicolas. Em outros, mostra sentimento de culpa por achar que outra família poderia cuidar melhor da criança.
“Só não quero ser responsável pelo sofrimento de outra pessoa. É difícil lidar todos os dias com isso. É uma culpa que não passa. Só tento não demonstrar a ele. Todos os dias boto minha cabeça no travesseiro super exausta de tudo. Não era isso que queria para mim”, afirma Nathalia em um dos diálogos com Marcelo.
Depois de entregar o bebê a Roberta, no dia 30 de abril, a mãe do menino afirma, em um primeiro momento, que acredita ter feito o melhor para ele. Mas, horas depois, demonstra preocupação com o que tinha acontecido.
Desespero após entrega
Já na madrugada do dia 1º, a mulher pede que Marcelo envie fotos do filho para ter certeza de que ele está bem.
“Marcelo, assim que puder me manda notícias, fotos dele com a nova família. Fico com medo de estarem levando ele a uma adoção ou rodar em outra mão. Só para eu me sentir segura e em paz, por favor”, diz Nathalia.
Na manhã do mesmo dia, ela diz ter acordado “aflita” e implora por notícias.
Marcelo tenta acalmá-la, dizendo que o menino está bem e envia fotos da criança com a nova família.
Em entrevista ao Metrópoles, o irmão de Nathalia, Juliano Gaspar, tio de Nicolas, afirma que ela se arrependeu de ter entregado o filho.
“Ela estava em um quadro grave de depressão pós-parto. Isso se estendeu desde o nascimento da criança. Ela estava se tratando, estava desempregada. Imagine a fragilidade dela. Convenceram ela a deixar o bebê por um tempo até ela se estabilizar. E as pessoas se aproveitaram disso”, diz Juliano.
Segundo Juliano, quando se deu conta do que tinha acontecido, Nathalia “surtou”, tomou uma dose excessiva de remédios e precisou ser internada em uma unidade de terapia intensiva.
Assim que recuperou a consciência, ela teria relatado à família e aos policiais a sua versão sobre o desaparecimento do filho.
“Ela já disse que se arrepende, que não era para ter acontecido desse jeito, que foi um momento realmente em que a depressão deixou ela cega de tal maneira que ela teve um tipo de surto”, disse Juliano.
