Em 42 horas, PM matou 7 com ao menos 40 tiros no Guarujá após morte de soldado

Registros obtidos pelo Metrópoles mostram que PM efetuou 22 tiros de fuzil e 18 de pistola em operação após assassinato de soldado da Rota

atualizado 01/08/2023 7:41

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Em foto colorida policiais da Rota, de costas, caminham ao lado de viatura da corporação - Metrópoles Divulgação/Rota

São Paulo — Em pouco mais de 42 horas, a Polícia Militar (PM) realizou ao menos 40 disparos que resultaram em sete mortes no Guarujá, no litoral paulista, após o assassinato do soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos, que integrava a Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar).

Campeão de jiu-jitsu, casado e pai de um filho de 3 anos, o policial militar foi assassinado quando fazia patrulhamento com mais três PMs, em uma viatura, nas imediações da favela Vila Zila, no Guarujá, na noite da última quinta-feira (27/7). Um outro agente ficou ferido.

Após o assassinato do soldado da Rota, a PM realizou operação na região em busca dos autores do ataque. Desde então, 10 pessoas foram mortas em supostos tiroteios com policiais e 10 suspeitos foram presos. Oito óbitos ocorreram entre sexta-feira (28/7) e domingo (30/7), número divulgado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O Metrópoles teve acesso ao histórico de sete mortes. Segundo os registros da Polícia Civil, policiais da Rota deram ao menos 22 tiros de fuzil e 18 de pistola em supostas trocas de tiros com suspeitos durante a Operação Escudo, deflagrada após a morte do soldado Reis.

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PM declara luto pela morte de Patrick Bastos Reis, policial da Rota morto no Guarujá
PM da Rota Patrick Bastos Reis baleado e morto durante patrulhamento no Guarujá
Policiais da Rota baleados no Guarujá foram socorridos no Pronto Atendimento Municipal da Rodoviária
Policial da Rota é morto em Guarujá
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PM da Rota Patrick Bastos Reis baleado e morto durante patrulhamento no Guarujá

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PM declara luto pela morte de Patrick Bastos Reis, policial da Rota morto no Guarujá

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PM da Rota Patrick Bastos Reis baleado e morto durante patrulhamento no Guarujá

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Policiais da Rota baleados no Guarujá foram socorridos no Pronto Atendimento Municipal da Rodoviária

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Policial da Rota é morto em Guarujá

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Primeiro dia

Cerca de 15 horas após o assassinato do PM, policiais da Rota mataram Fábio Oliveira Ferreira, de 40 anos, em uma suposta troca de tiros na Rua Albino Marquês Nabeto.

Fábio estaria com um “volume na cintura” e, segundo relatado por PMs à Polícia Civil, quando foram abordá-lo, por volta das 13h20, ele “tentou sacar uma arma”. Um PM, identificado como capitão Marcos Correa de Moraes Verardino, atirou três vezes com um fuzil calibre 556.

Ainda segundo o relato dos PMs, mesmo depois de ser fuzilado, o suspeito ainda teria tentado sacar a arma, enquanto um policial agia para detê-lo. Por isso, ele foi ferido com mais dois tiros de pistola, dados pelo cabo Ivan Pereira da Silva.

No mesmo dia, por volta das 19h30, PMs relataram que estavam na Rua das Figueiras quando um suspeito, não identificado, teria atirado contra os policiais, usando uma pistola. Os militares revidaram, dando ao todo um tiro de fuzil e três de pistola contra o homem, que foi ferido na região das pernas e peito. Ele morreu, segundo registros da delegacia do Guarujá, quando chegou à Unidade de Pronto Atendimento São João.

Cerca de duas horas e 20 minutos depois, policiais faziam ronda quando outro suspeito não identificado, ao vê-los, tentou fugir entrando em uma casa na Rua Mario Malheiros, na Vila Baiana.

No portão de entrada, segundo os PMs, o suposto criminoso teria atirado contra eles. Os policiais revidaram. O PM André Felipe Quintino Danielli, 41 anos, deu seis tiros, e Rodrigo França Lourenço, 31, outros três. Ferido, o suspeito foi levado ao Pronto Atendimento Enseada, onde morreu. Com ele, foi aprendida uma mochila, dentro da qual havia 526 porções de maconha, segundo o registro policial.

Veja vídeo de suspeito de matar PM da Rota

 

Segundo dia

Por volta das 19h10 do sábado (29/7), policiais da Rota afirmaram em depoimento que ingressaram, a pé, em uma região conhecida por ser ponto de venda de drogas. Foi então que avistaram dois homens, segundo eles, com mochilas nas costas e armados.

Um deles teria apontado um revólver calibre 38 na direção do trio de PMs, que revidou dando dois tiros de fuzil e a mesma quantidade com pistola. O homem supostamente armado, sem identificação, morreu ainda na Rua Bartolomeu de Gusmão, e seu suposto comparsa fugiu correndo. Ao lado do corpo do suspeito, a polícia afirma ter encontrado drogas e um revólver.

Cerca de uma hora depois, na Rua Quatro, PMs afirmaram terem avistado três suspeitos, dos quais dois armados e um com uma mochila. Um dos criminosos, de acordo com os policiais, teria apontado uma arma em direção aos agentes, que novamente revidaram.

Mesmo ferido, um dos suspeitos ainda estaria segurando uma arma de fogo e, por isso, o PM Samuel Wesley Cosmo “necessitou realizar novos disparos”. Segundo o registro, “somente após esses disparos a situação foi apaziguada”.

Com o suspeito, os policiais afirmaram terem apreendido uma pistola e encontrado mais adiante outra arma do mesmo tipo, supostamente abandonada por outro criminoso. Na primeira edição do boletim de ocorrência não constou que os suspeitos abriram fogo contra os PMs. Essa informação foi acrescentada cinco horas depois, já na madrugada de domingo (30/7).

Nessa ocorrência, o policial Rafael Perestrelo Trogillo atirou cinco vezes com um fuzil, e seu colega Rubem Pinto Santos deu três disparos com o mesmo tipo de arma. Já o número de tiros dados pelo PM Cosmo, que matou o suspeito, não foi especificado.

Aproximadamente 10 minutos depois, um suspeito teria corrido de dentro de uma casa até um beco, assim que viu policiais da Rota patrulhando pela Rua Operária, no Sítio Conceiçãozinha. No beco, segundo relatado pelos PMs, o suspeito teria atirado contra a guarnição. O policial Luís Alberto Costa da Silva, 41, deu dois tiros de pistola, e seu colega Bruno Melo dos Santos disparou um tiro de fuzil.

Terceiro dia

Às 7h40 de domingo (30/7), Rogério Andrade de Jesus, de 49 anos, morreu após supostamente trocar tiros com quatro policiais da Rota.

Segundo relatado pelos PMs em depoimento, moradores do Morro do Macaco, perto do local onde o soldado da Rota foi morto na quinta-feira (27/7), teriam indicado uma casa na Avenida Brasil, quando os policiais faziam ronda.

Assim que chegaram ao local, os policiais afirmaram terem sido recebidos com uma arma de fogo apontada contra eles, supostamente empunhada por Rogério.

O sargento Eduardo de Freitas Araújo teria gritado “larga a arma”. Como a ordem não foi atendida, segundo o relato, ele atirou uma única vez, com um fuzil, matando Rogério. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, chegando cerca de 50 minutos depois e constatando a morte do suspeito. No local, os policiais afirmaram que também apreenderam drogas.

Ouvidoria

Ouvidor das polícias, Cláudio Silva afirmou nessa segunda-feira, por meio de nota, que tanto a morte do soldado da Rota quanto a dos suspeitos no litoral paulista “são inaceitáveis.”

“Temos recebido relatos de uma atuação violenta por parte das forças de segurança no local, que contabiliza até este momento uma dezena de mortes, registradas em boletim de ocorrência, bem como de ameaças constantes à população das comunidades daquela cidade.”

Em coletiva de imprensa, o governador Tarcísio de Freitas e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmaram que as mortes foram decorrentes de confrontos entre traficantes e policiais.

Letalidade da PM cresce

Em meio à estagnação do programa de câmeras corporais e a mensagens de apoio de comandantes a policiais militares que entram em confronto em São Paulo, as mortes cometidas por PMs em serviço subiram 26% nos seis primeiros meses do governo Tarcísio de Freitas.

Segundo dados da SSP divulgados no último dia 25, 155 pessoas morreram durante ações de PMs em serviço entre janeiro e junho de 2023. No mesmo período do ano anterior, haviam sido 123 ocorrências.

O número de policiais mortos enquanto trabalhavam também subiu. Foram cinco casos no primeiro semestre, ante três assassinatos no mesmo período de 2022. Na maior parte das ocorrências, no entanto, os agentes foram vítimas dos próprios colegas de farda.

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