“Banalização do mal” oculta ameaças reais nas escolas, diz pesquisador

Especialistas afirmam ao Metrópoles que combater a violência nas escolas exige união de forças entre escolas, famílias e poder público

atualizado 29/03/2023 9:50

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Divulgação/Polícia Civil de SP

São Paulo – O ataque feito por um aluno de 13 anos na E. E. Thomázia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste da capital paulista, levanta o debate sobre o que causou a violência e como evitar mais mortes como a da professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, em escolas Brasil afora.

“Temos o hábito de achar que isso nunca vai acontecer no ambiente que estamos. Então, banalizamos os sinais de violência do nosso espaço”, diz Mário Frazão, professor orientador da pós-graduação em infância e direitos humanos da Universidade Federal de Goiás/Catalão (UFG).

De acordo com ele, o boletim de ocorrência feito pela antiga escola do estudante, onde ele já apresentava sinais violentos, parece não ter sido levado muito a sério.

“Vivemos um processo de banalização do mal que faz as pessoas não observarem a gravidade nos sinais que elas veem”, afirma o professor. “Ou por achar que o mal nunca vai acontecer conosco, ou por achar que esse mal não me diz respeito”, argumenta.

O professor destaca que o comportamento é resultado de uma série de vivências, experiências e crenças: “Então, quando a criança tem um comportamento violento, é a ponta do iceberg”.

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Ela levou três facadas e 30 pontos para fechá-las
Rita Reis, professora de história, atingida pelo agressor em escola de SP
Aluno de 13 anos que matou professora esfaqueada em SP deixa delegacia
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Professora Rita mostra ferimentos

Vinícius Passarelli/Metrópoles
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Ela levou três facadas e 30 pontos para fechá-las

Vinícius Passarelli/Metrópoles
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Rita Reis, professora de história, atingida pelo agressor em escola de SP

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Aluno de 13 anos que matou professora esfaqueada em SP deixa delegacia

Fabio Vieira/Metrópoles
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Cartaz com homenagem à professora morta em SP

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Velório da professora Elisabeth, morta por um aluno em escola de SP

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Professora imobiliza aluno após ataque a faca em escola de SP

Reprodução/Redes sociais
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Aluno que matou professora sai da delegacia

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Elisabeth Tenreiro, 71 anos, professora assassinada em escola de SP

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Momento em que aluno ataca professora em SP

reprodução/Redes sociais
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Objetos apreendidos com jovem que matou professora em escola estadual de São Paulo

Divulgação/Polícia Civil de SP
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Aluno é apreendido pela PM

Pedido de socorro

Gabriela Gramkow, professora de psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e de Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explica que a violência é forma de expressar-se. “O adolescente deu sinais de demandas de socorro, de expressão da violência”, explica a professora.

“A escola quando lida com isso, uma família quando tem esses sinais, precisa correr. Ter canais de comunicação que vão se ativando numa composição de cuidados. Não é possível cuidar sozinho. É fundamental ter ações rápidas. É preciso ter uma comunidade, uma rede que cuide”, afirma.

Sinais de alerta

“Além da raiva exacerbada, a tristeza profunda também é um sinal de alerta para pais e escola. “Precisamos lidar com esses sentimentos conversando sobre eles, acolhendo, tentando pensar conjuntamente como extravasar e para onde canalizar todos esses sentimentos”, pontua Dirce Zan, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Os estudiosos destacam que sinais clássicos de alerta vêm de alunos violentos demais, que sempre provocam briga ou conflito, que agridem fisicamente ou verbalmente colegas e professores. Inclusive, o estudante pode estar reproduzindo uma violência que vivencia em outro ambiente, como a própria casa.

Mas também merecem atenção especial estudantes muito quietos, calados, que não se relacionam com ninguém, que estão o tempo todo tentando se esconder, se esquivar

De acordo com Mário Frazão, também é preocupante quando a criança ou o adolescente fica centrado demais em brincadeiras e jogos de videogame violentos: “Quando o aluno começa a demonstrar muitas preferências com o campo simbólico do violento e por figuras que são conhecidas na sociedade como violentas, isso é um sinal de alerta”.

Como os pais podem agir

Ao notar ou receber denúncia de comportamento violento, a pior atitude que os pais podem adotar é negar imediatamente e ter reações do tipo: O quê? O meu filho? Você está enganado! Meu filho não faz isso de jeito algum. Em casa ele é ótimo.

“Os pais acreditam que existe na criança ou no adolescente algum julgamento de certo e errado que vai impedir que elas cometam algum mal. Eles até conseguem ter alguma diferenciação de bem e mal, mas a percepção da consequência do seu ato é muito limitada . É uma questão da própria fase da idade”, diz Frazão.

Em primeiro lugar, é necessário refletir e apurar o que pode estar causando a postura violenta. A segunda atitude recomendada pelos especialistas é investigar os relacionamentos pessoais e virtuais da criança. Isso inclui conversas em redes sociais e acessos a sites. Então, é o momento de buscar uma rede de apoio socioemocional e psicológico em instituições públicas ou organizações não governamentais (ONGs).

Como a escola pode agir

Assim como os pais, as instituições de ensino também não podem subestimar os riscos de violências ocorrerem no ambiente escolar.

“Existe um pensamento sobre educação que foi muito difundido e muitos ainda acreditam que a escola é um ambiente mágico, que quando você atravessa os muros da escola você está em outro lugar”, afirma Frazão.

Para ele, esse pensamento leva as pessoas a imaginarem que a escola está isenta dos problemas da sociedade: “Mas, na verdade, a escola vivencia todos os problemas da comunidade na qual ela está. Como se evita problemas de violência na escola? Evitando a violência na sociedade”.

A violência pode ser abordada com mecanismos didáticos e pedagógicos, como grupos de teatro e de pesquisa. Outra possibilidade é criar canais de escuta para os alunos.
“Quanto mais a escola conversar sobre violência mais esses alunos vão saber o que é violência, o que gera a violência, as consequências da violência e vão saber evitar e dizer não para situações violentas. À medida que eles estão discutindo a violência eles se tornam pessoas mais pacificadoras, porque a violência ganha um novo significado”, afirma Frazão.

“Esse foi um caso extremo. As escolas não estão vivendo cotidianamente sob a possibilidade de um evento como esse vir a acontecer. De qualquer maneira, casos extremos precisam de ações articuladas entre escola, família e poder público para que o atendimento dê conta dessa situação de desequilíbrio”, completa Dirce.

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