São Paulo – A estudante de medicina da USP Alícia Dudy Muller, de 25 anos, suspeita de ter desviado quase R$ 1 milhão da comissão de formatura de sua turma, foi vista pela última vez frequentando as aulas na última sexta-feira (14/1), dia em que vieram a público os primeiros rumores sobre o sumiço do dinheiro, segundo relatos ouvidos reservadamente pelo Metrópoles.
Ela começaria nesta semana uma residênica no Hospital das Clínicas, mas não compareceu, de acordo com relatos.
As pessoas com quem o Metrópoles conversou não sabem dizer onde ela se encontra neste momento e todos alegam não ter tido mais contato com a estudante.
A Polícia Civil já começou a convocar os membros da comissão de formatura para prestar depoimento. Alícia também deve ser ouvida nos próximos dias.
A estudante é alvo de dois inquéritos que, por enquanto, correm separadamente: um sobre a suspeita de golpe no dinheiro da formatura, na qual ela é investigada por apropriação indébita, e outro que apura a possível prática de estelionato e lavagem de dinheiro, após ela tentar apostar R$ 891 mil, sem pagar, em uma lotérica na zona sul de São Paulo.
O Metrópoles tenta ouvir Alicia e seus familiares desde o domingo (15/1), por meio de telefonemas e mensagens. O espaço segue aberto para manifestações.
Aluna “normal” e aplicada
Alicia era considerada pelos colegas de turma uma estudante aplicada e que nunca havia chamado muita atenção ao longo da graduação. No primeiro ano, ela começou a se envolver com pesquisas de iniciação científica e, no ano passado, teve a matrícula trancada para realizar um programa de doutorado.
O Programa Integrado de Formação em Pesquisa em Ciências da Saúde (MD-PhD) permite que qualquer aluno possa participar de um doutorado sem ainda ter concluído a graduação, conforme nota enviada pela Faculdade de Medicina da USP.
Ainda de acordo com colegas, Alicia era uma pessoa considerada sociável, frequentava festas e chegou a se envolver na atlética do curso de Medicina.
“Era uma aluna como qualquer outra, nao dava pra desconfiar que ela fosse dar um golpe ou algo parecido”, afirmou uma das estudantes ouvidas.
Alicia Dudy Muller passou no vestibular em 2018 após fazer três anos de cursinho. Antes de entrar no cusdo de Medicina, ela chegou a passar em Farmácia, mas não iniciou o semestre para continuar tentando o sonho de ser médica.
Em uma entrevista para a Rádio USP, no dia 16 de fevereiro daquele ano, ela e mãe, que é analista de RH, falaram da alegria e satisfação pela aprovação.
Em uma reportagem da rádio universitária que relatava o dia de matrícula dos novos egressos à época, Alicia afirmou que tinha a intenção de se especializar em cirurgia na área de neurologia ou oncologia.
“O que me motivou a continuar prestando medicina é cirurgia. Ainda não tenho muita noção de que área de cirurgia eu me especializaria, se seria uma neuro, ou uma onco, essas duas são as que mais me atraem porque ainda tem muito a que pesquisar. (Tenho) curiosidade mesmo de eu estar ali e lidando que aquela situação de tratar uma pessoa, ter a sensibilidade de você, com o tato, identifcar e reparar o que está acontecendo. É muito sensível, delicado, (mas) também é muito desafiador, então é uma coisa que eu gosto”.
Quase cinco anos antes de ver a filha como alvo de investigações,a mãe de Alicia falava da felicidade pelo que o futuro reservava à jovem.
“A gente está numa felicidade tão grande, não tem nem como medir tudo que a gente sente. Ela passou em Farmácia, fez até a matrícula toda, mas a gente falou: ‘Alicia, se você quer medicina, não vai fazer farmácia. Minha filha fez cursinho três anos, foram três anos duros, porque a gente sempre imaginava que ela ia passar e não conseguia entrar”, relatou.
