Varejo de proximidade: por que os minimercados voltaram à moda

Novos hábitos de consumo a partir da pandemia e necessidade de uma vida mais prática impulsionam crescimento do formato no varejo brasileiro

atualizado 29/04/2023 8:37

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Divulgação/Oxxo

Conhecido pelos brasileiros há pelo menos 30 anos, o varejo de proximidade voltou à moda, repaginado e em franco crescimento. O segmento engloba os estabelecimentos que oferecem algum tipo de conveniência ao cliente, geralmente localizados a uma curta distância que pode ser percorrida com facilidade a pé. São lojas de conveniência, minimercados, padarias, açougues, empórios, adegas, lojas de doces, hortifrutis, sacolões, mercearias. Tudo rápido, prático e perto.

Nos últimos três anos, sobretudo a partir da pandemia de Covid-19, o varejo de proximidade ganhou impulso no país. Um levantamento da Allis Field Marketing realizado em 2021 detectou uma alta de 20% na procura das pessoas por mercados localizados perto de suas residências.

Segundo o relatório “Consumer Insights”, divulgado no ano passado pela consultoria Kantar, o chamado “pequeno varejo” atraiu 7,6 milhões de novos compradores entre 2019 e 2022 e representou 23,6% dos gastos totais das famílias brasileiras. Em 2021, no auge da pandemia, os mercados de proximidade registraram um aumento de 21% em seu faturamento. Atualmente, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o varejo de proximidade conta com cerca de 15 mil lojas no país.

“No passado, nós tínhamos alguns hipermercados com até 100, 150 caixas. Eles ficaram fora de uso porque eram grandes demais e o consumidor acabou cansando de andar naquilo”, explica Regina Blessa, especialista em varejo e autora do livro “A Loja Perfeita”. “As grandes redes, como Pão de Açúcar e Carrefour, começaram a perceber que existia esse mercado menor, de conveniência. Hoje em dia, temos o Pão de Açúcar Minuto, o Carrefour Express e o Hirota como alguns exemplos desse modelo mais prático”, destaca.

O fenômeno Oxxo

O maior símbolo da retomada do varejo de proximidade no Brasil é o mercado Oxxo, que tomou conta da maior cidade do país nos últimos dois anos. Hoje, é quase impossível caminhar por mais de 15 minutos por São Paulo e não encontrar pelo menos uma unidade da rede.

O Oxxo pertence ao Grupo Nós, resultado da união entre a Raízen e a empresa Fomento Económico Mexicano (Femsa), que se tornou conhecida como a maior engarrafadora de Coca-Cola do mundo. Em 2019, a Femsa adquiriu, por R$ 561 milhões, metade da divisão de conveniência da Raízen, responsável pelas lojas Select.

A primeira loja do Oxxo foi inaugurada em 1978, na cidade mexicana de Monterrey. Mais de quatro décadas depois, em 2021, o grupo havia superado 20 mil unidades espalhadas pela América Latina.

No Brasil, o primeiro Oxxo abriu as portas em dezembro de 2020, em Campinas (SP). Rapidamente, a rede se expandiu para outras cidades paulistas como Jundiaí, Osasco, Guarulhos, São Bernardo do Campo e Piracicaba, além da capital. Em apenas 15 meses, 100 unidades começaram a operar.

Hoje, segundo a empresa, há cerca de 300 lojas em funcionamento em todo o estado de São Paulo – a ideia é expandir a rede para outros estados do Sudeste e, mais adiante, para outras regiões do Brasil.

Na capital paulista, o Oxxo decidiu focar em bairros de grande circulação e locais movimentados, próximos de estações de metrô ou terminais de ônibus. Por enquanto, a maior concentração de lojas é nas regiões centrais, mas o plano é expandir a rede também para os bairros periféricos.

“O movimento do Oxxo pega uma carona no efeito pandemia. Já havia uma movimentação no varejo para as marcas tentarem entrar mais nos bairros. Quando veio a pandemia, esse mercado se consolidou”, explica Caio Camargo, especialista em varejo. “As pessoas se locomovem cada vez menos e organizam quase todo o ecossistema de vida delas em um raio de 15 minutos a pé. Isso promove modelos como o do Oxxo.”

Para Camargo, o sucesso inicial do Oxxo no Brasil é resultado da busca do consumidor “por uma vida mais prática”. “O que observamos é que a compra de conveniência não está mais tão ligada ao preço. Hoje, as pessoas estão mais dispostas a pagar mais caro para quem entregar mais rápido”, afirma. “Quando se pede comida pelo iFood, muita gente, em vez de escolher a pizza mais barata, opta por aquela que vai chegar mais rápido. As pessoas estão querendo economizar tempo.”

Apesar dos números robustos do Oxxo em seus primeiros anos de atuação no Brasil, ainda é cedo para assegurar que a marca mexicana se consolidará no país, pondera Blessa. “Eu ainda não vejo sucesso. O que estou vendo é um grande investimento. Um grupo arrumou um outro grupo com dinheiro e está investindo. Estamos vendo várias lojas abrindo, mas, sinceramente, ainda não percebo um impacto muito grande na vida do cidadão. É um modelo de negócio que pode pegar e pode não pegar”, afirma.

Segundo ela, o foco do Oxxo deve ser o público mais jovem e as pessoas que moram sozinhas. “Quando você planeja sua compra, geralmente nem pensa no Oxxo. O sortimento deles é tão enxuto que não entra na lista de considerações para essas compras maiores”, avalia. “Agora, esses jovens que moram sozinhos e não têm carro podem ser grandes consumidores do Oxxo. A pessoa está com fome, vai lá a pé, pega três coisas e volta.”

Como fazer o negócio “virar”

Segundo os especialistas ouvidos pelo Metrópoles, um dos possíveis obstáculos para o êxito do Oxxo no Brasil é a dificuldade histórica de os minimercados se tornarem economicamente sustentáveis. “Nem sempre essas lojas de proximidade dão lucro. Na maioria das vezes, elas têm prejuízo. No geral, você precisa de uma escala muito grande até chegar a um ponto de equilíbrio”, explica o presidente da Abras, João Galassi.

Caio Camargo compartilha da mesma preocupação. “Os mercados de conveniência têm um tíquete médio muito menor do que os supermercados convencionais. Para que esse modelo seja viável, você tem de ter muito mais pessoas comprando. Precisamos aguardar pelo menos mais 1 ano, 1 ano e meio, para entender se esse modelo terá sustentação de mercado”, observa.

Para Regina Blessa, “só o tempo vai dizer se os pontos que o Oxxo está escolhendo para abrir suas lojas são bons ou não”. “Não é como chegar em um shopping e escolher um corredor. É mais complexo. É entender se aquela rua precisa de uma loja de conveniência, analisar o entorno, pesquisar muito para achar o ponto”, afirma. “Se a loja estiver localizada perto de muitos edifícios, em que o pessoal precisa fazer compras rápidas, tende a ir bem. Se ficar em um bairro com maioria de casas, sem muito movimento, provavelmente terá dificuldades.”

Procurado pela reportagem do Metrópoles, o Oxxo preferiu não se manifestar. Por meio da assessoria de imprensa, a empresa informou que não costuma abordar publicamente a expansão de seus negócios.

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