Por que inflação “real” no Brasil pode estar menor do que a oficial

Novo indicador da FGV, Índice de Preços dos Gastos Familiares (IPGF) tem atualização mensal dos pesos. Inflação ficou em 4%, abaixo do IPCA

atualizado 06/06/2023 13:15

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O Índice de Preços dos Gastos Familiares (IPGF), novo índice de inflação criado pelo Ibre/FGV, teve alta de 0,52% em março, segundo divulgado nesta terça-feira (6/6). Em 12 meses, o índice acumula alta de 4%.

Com uma metodologia diferente, o IPGF tem ficado abaixo da inflação oficial. Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, teve alta de 4,65% em 12 meses.

O IPGF tem uma cesta móvel, atualizada com mais frequência para acompanhar as mudanças no consumo das famílias, o que o diferencia de outras medições. Em outros índices, a atualização da cesta ocorre a cada par de anos.

“É uma outra óptica para medir a evolução do custo de vida”, diz Matheus Peçanha, pesquisador do Ibre/FGV, em apresentação do novo indicador. Exemplos parecidos já são usados nos Estados Unidos, afirma ele, como complemento ao índice oficial.

Os índices tradicionais, como o IPCA ou o IPC (também medido pelo Ibre/FGV), têm uma cesta fixa que baliza o peso de cada item no consumo e, com base nisso, o cálculo da inflação. O diferencial do IPGF é ter esses pesos atualizados mensalmente.

“Esse índice nos passa as variações do consumidor de maneira mais rápida”, diz André Braz, coordenador da pesquisa.

“É uma resposta às oscilações de demanda. Por isso, aumenta as chances de a inflação estar mais próxima da realidade”, afirma o economista, que avalia que, no cenário atual, a inflação oficial pode estar superestimada em relação à realidade das famílias, devido à cesta utilizada. No IPCA, as últimas pesquisas para atualização da cesta de consumo são de 2018.

Efeito substituição

O objetivo principal é mostrar substituições e decisões feitas pelo consumidor no dia-dia: se o tomate encarece, dizem os pesquisadores, a tendência é que os consumidores o substituam por outro item, o que teria de mudar seu peso na cesta, mas não acontece nos índices tradicionais.

“Os índices tradicionais não têm conseguido refletir o que as famílias estão consumindo exatamente em, por exemplo, março de 2023”, diz Peçanha. “A cada mês, buscamos ver o que está sendo dispendido pela família nos diferentes itens”, explica.

Para chegar a esse cálculo e adaptar a cesta, a equipe responsável pelo novo índice usa dados mensais do PIB.

“Isso ficou muito claro na pandemia: as famílias compraram muita comida, e rapidamente o peso dos alimentos avançou; já o peso de passagens aéreas praticamente zerou, porque ninguém estava podendo viajar”, diz Braz.

Por essa metodologia, há também um menor número de produtos analisados, com 52 itens no IPGF, frente a mais de 400 no IPCA.

Como há revisões periódicas no PIB, Peçanha aponta, por outro lado, que é difícil que o IPGF possa ser usado como indexador. Os pesquisadores ressaltam ainda que os números são apenas nacionais, e não podem ser individualizados por estado.

“Complemento” na política monetária

Braz disse que o novo índice pode ser um indicador importante para política monetária, como um “complemento” dos demais indicadores na decisão da taxa de juros.

No acumulado de 2022, o IPGF já havia ficado abaixo do IPCA e de outros índices de inflação. O IPGF fechou o ano com variação de 4,94%, mais próximo do limite da meta de inflação, que é de 5%, aponta o Ibre. (O IPCA variou 5,78% no mesmo período, ficando acima do teto da meta).

Os economistas do IPGF afirmam que não se trata de procurar um índice com “menor inflação”, mas ser capaz de observar as mudanças na demanda dos consumidores na prática.

Nos últimos meses, a desaceleração no IGPF tem ocorrido principalmente puxada pelos itens de “Alimentação”. O grupo saiu de alta acumulada em 12 meses de 11,30% em dezembro para 5,73% em março.

Para o resto do ano, os pesquisadores acreditam que a desaceleração da inflação de alimentos deve se mostrar com mais velocidade no IGPF devido às escolhas do consumidor. “As famílias vão tender a consumir mais do que está caindo mais, e o índice conseguirá captar isso mais rapidamente”, diz Peçanha. Assim, a projeção é que a inflação no novo indicador siga abaixo dos demais índices.

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