Por que as projeções de inflação para 2023 continuam subindo

Analistas veem inflação em dois atos, desacelerando até o meio do ano e voltando a subir no segundo semestre, até chegar a 6%; saiba por quê

atualizado 09/05/2023 12:49

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Os economistas e analistas do mercado financeiro consultados para o Relatório Focus, cuja edição mais recente foi divulgada pelo Banco Central (BC) na segunda-feira (24/4), aumentaram, pela quarta semana consecutiva, a estimativa para a inflação do Brasil em 2023.

Segundo o mercado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, deve encerrar o ano em 6,04%. Na semana anterior, a projeção era de 6,01%.

Na prática, todos apostam em mais um estouro da meta anual de inflação, estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3,25% para este ano. Como há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta será cumprida se ficar entre 1,75% e 4,75% – índice bem inferior aos mais de 6% projetados pelo mercado. A estimativa divulgada pelo governo é um pouco menor, mas ainda alta: 5,31%.

Em 2022, a inflação acumulada no Brasil foi de 5,79%, acima do teto da meta pelo segundo ano seguido. Ainda assim, o índice terminou o ano passado abaixo da inflação registrada nos Estados Unidos, no Reino Unido e nos principais países da União Europeia.

O que explica a piora nas expectativas de inflação

Apesar de a prévia da inflação de abril ter mostrado uma desaceleração em relação a março (0,57% ante 0,69%), economistas ouvidos pela reportagem do Metrópoles afirmam que o país ainda enfrenta uma forte pressão inflacionária e que as projeções que constam do Relatório Focus devem se confirmar no fim do ano.

Para André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a inflação no Brasil deve encerrar 2023 em 6,2%. O índice tende a continuar desacelerando até junho, antes de engatar uma nova trajetória de alta.

“Teremos um segundo semestre de maior pressão inflacionária e de distanciamento da inflação da meta”, avalia Braz. “Isso acontece porque, no segundo semestre do ano passado, tivemos a redução do PIS-Cofins e do ICMS sobre energia, telefonia e gasolina, o que freou muito a inflação em 2022. Por questões fiscais, aquilo não era algo sustentável e os preços estão voltando ao patamar normal, com a volta da cobrança de impostos. No ano passado, esses preços caíram muito por causa da renúncia fiscal. Neste ano, não veremos essa queda”, explica.

Segundo o economista da FGV, apesar da desaceleração verificada em abril, os núcleos de inflação ainda estão “bem cima da inflação média”. O núcleo de inflação capta a tendência dos preços, desconsiderando oscilações causadas por choques temporários. Trata-se de uma medida de inflação desenhada para detectar mudanças causadas por pressões de demanda sobre a capacidade produtiva, por choques permanentes nos preços ou por alterações nas expectativas de inflação.

“Os núcleos de inflação ainda estão todos em torno de 7%, 7,5%, enquanto o IPCA já está com a taxa em 12 meses abaixo de 5%. Núcleos elevados fazem com que a autoridade monetária seja mais cautelosa em revelar quando ela vai, de fato, começar a cortar juros”, afirma Braz. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação.

André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, também cita a reoneração dos combustíveis como um dos principais motivos para o aumento das estimativas de inflação para 2023.

“Tivemos impacto de reoneração sobre os combustíveis, além de um aumento significativo nos contratos de educação, que pressionaram, principalmente, o IPCA de fevereiro. Isso acaba produzindo uma inflação mais forte lá na frente”, analisa. “Outra parte da explicação vem do fato de que os percentuais registrados em janeiro, fevereiro e março vieram um pouco acima do que estava projetado pelo mercado no início do ano.”

De acordo com o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, “o grande desafio segue sendo o preço de serviços e demais núcleos” de inflação. “A inflação de serviços, por exemplo, subiu de 0,29% para 0,53%, valores incompatíveis com a meta do BC. Nos demais núcleos, olhando para a média móvel de três meses, já livre de efeitos sazonais, o que se vê é uma inflação anualizada estacionada em altos 6%”, projeta. “A dinâmica do IPCA se dará em dois atos em 2023: arrefecendo até o primeiro semestre, mas voltando a subir no segundo, em direção a 6,1% no fechamento do ano.”

Arcabouço fiscal e tensão entre Lula e Campos Neto

Além de aspectos sazonais e do impacto da volta da cobrança de tributos que haviam sido suspensos, os especialistas consultados pelo Metrópoles afirmam que o mercado ainda tem muitas dúvidas relacionadas ao projeto do novo arcabouço fiscal, que deve substituir o teto de gastos. Para Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, a incerteza em relação ao sucesso das novas regras fiscais afeta a inflação, especialmente as expectativas futuras.

“Um dos motivos para esses aumentos da projeção de inflação ainda é a incerteza em relação ao arcabouço fiscal. Ele foi entregue ao Congresso, mas não existem grandes expectativas de que seja aprovado como foi apresentado. Muito provavelmente, tanto a Câmara quanto o Senado farão alterações no texto e isso gera incerteza e desconfiança”, observa.

André Galhardo concorda com essa avaliação. “Temos de esperar a tramitação do projeto no Congresso para entender o que, de fato, passará a valer. Isso mexe mais com as expectativas de inflação do que com a inflação em si”, pondera.

Ainda no campo político-econômico, as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao chefe do BC, Roberto Campos Neto, por causa do patamar atual da taxa Selic (13,75% ao ano), considerado muito elevado pelo governo, provocam instabilidade institucional e não contribuem para a queda da inflação, avalia Cardozo.

“O conflito, por si só, já gera muita incerteza, o que afasta investidores. E os efeitos desse conflito podem gerar inflação. A forma como o presidente Lula está querendo baixar a taxa de juros, ainda sem fundamentos econômicos para isso, pode, sim, aumentar a pressão inflacionária”, conclui.

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Inflação é o termo da economia utilizado para indicar o aumento generalizado ou contínuo dos preços de produtos ou serviços. Com isso, a inflação representa o aumento do custo de vida e a consequente redução no poder de compra da moeda de um país

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Em outras palavras, se há aumento da inflação, o dinheiro passa a valer menos. A principal consequência é a perda do poder de compra ao longo do tempo, com o aumento dos preços das mercadorias e a desvalorização da moeda

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Existem várias formas de medir a inflação, contudo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o mais comum deles

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No Brasil, quem realiza a previsão da inflação e comunica a situação dela é o Banco Central. No entanto, para garantir a idoneidade das informações, a pesquisa dos preços de produtos, serviços e o cálculo é realizado pelo IBGE, que faz monitoramento nas principais regiões brasileiras

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De uma forma geral, a inflação pode apresentar causas de curto a longo prazo, uma vez que tem variações cíclicas e que também pode ser determinada por consequências externas

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No entanto, o que influencia diretamente a inflação é: o aumento da demanda; aumento ou pressão nos custos de produção (oferta e demanda); inércia inflacionária e expectativas de inflação; e aumento de emissão de moeda

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No bolso do consumidor, a inflação é sentida de formas diferentes, já que ela não costuma agir de maneira uniforme e alguns serviços aumentam bem mais do que outros

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Isso pode ser explicado pela forma de consumo dos brasileiros. Famílias que possuem uma renda menor são afetadas, principalmente, por aumento no preço de transporte e alimento. Por outro lado, alterações nas áreas de educação e vestuário são mais sentidas por famílias mais ricas

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Ao contrário do que parece, a inflação não é de todo mal. Quando controlada, é sinal de que a economia está bem e crescendo da forma esperada. No Brasil, por exemplo, temos uma meta anual de inflação para garantir que os preços fiquem controlados. O que não pode deixar, na verdade, é chegar na hiperinflação - quando o controle de todos os preços é perdido

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