O que é uma agência de risco e por que a nota dos países importa

Brasil teve perspectiva de sua nota de crédito alterada de "estável" para "positiva". Avaliação é um selo usado nos mercados globais

atualizado 17/06/2023 9:47

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Placa preta com endereço de Wall Street em rua de Nova York - Metrópoles Pxhere/Reprodução

Bastou uma agência de classificação de risco alterar a perspectiva da nota de crédito do Brasil para o tema virar centro das atenções na semana. O governo comemorou o feito e agentes no mercado financeiro reagiram positivamente. Mas por que as agências de risco e suas movimentações conseguem gerar tamanho impacto nos debates econômicos?

As agências de risco são empresas privadas que avaliam a saúde financeira de países e, inclusive, de outras empresas. Com base em critérios como juros, dívida, capacidade fiscal e outros, as agências concedem uma nota de crédito (o chamado rating).

“As notas das agências de alguma forma refletem a capacidade tanto das empresas no crédito corporativo quanto dos países de honrarem o compromisso financeiro com seus credores”, afirma Raphael Moses, professor do Coppead, escola de negócios da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Teoricamente, quanto maior a nota, menor a probabilidade de o devedor dar calote ou ficar inadimplente”, diz Moses.

No caso do Brasil, foi a agência Standard & Poor’s (S&P) a responsável por elevar a perspectiva da nota brasileira de “estável” para “positiva”, o que não ocorria desde 2019. Apesar disso, o país continua com nota inalterada em “BB-“, o que mantém o país no grupo de destinos “especulativos” para investimentos.

Países como Estados Unidos e Alemanha, por exemplo, têm nota “triplo A”, a mais alta possível. Os EUA chegaram a ter a perspectiva da nota alterada para “negativa” no mês passado em meio ao imbróglio da negociação da dívida do país no Congresso, mas sem perder seu patamar de AAA.

As juízas do crédito mundial

Além da S&P, a Fitch e a Moody’s completam a lista das principais agências de risco no mercado global. As três foram fundadas ainda no início do século passado e têm sede em Nova York, nos EUA (a Fitch tem sede dupla, em Nova York e em Londres, na Inglaterra).

Há outras empresas no setor de avaliação de risco espalhadas em mais países, mas o trio americano é visto como o mais renomado no setor.

“A nota dessas agências acaba sendo um ‘selo’ que vai ajudar os agentes a identificar o grau de confiabilidade”, resume a economista Jadye Lima, da WIT Invest.

Essa avaliação também importa porque, em países vistos como tendo mais chance de não honrar seus compromissos, investidores demandam maior remuneração para alocar recursos – isto é, maior taxa de juros, que vira um pagamento pelo risco assumido em países com trajetória incerta.

Para dar sua nota a países, as agências analisam fatores como o cenário macroeconômico (como juros, inflação e crescimento) e o ambiente fiscal, isto é, o quanto o país gasta em relação a suas receitas. Também há um componente político e de imagem, como a capacidade de garantir certa segurança jurídica e estabilidade, afirmam os economistas.

Apesar de reconhecidas, as três grandes agências passaram a sofrer grande escrutínio sobretudo após a crise de 2008. Pouco antes de a bolha imobiliária estourar nos EUA, as agências não tinham identificado os riscos em instituições como o banco Lehman Brothers, que terminou falindo diante da crise.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, ressalta também que a avaliação das agências, embora siga sendo crucial nos mercados, não tem força sozinha para ser um vetor de crescimento de um país no curto prazo.

“Não é um gatilho, apenas confirma uma trajetória. No Brasil, por exemplo, o que vem se construindo são revisões positivas, como a questão fiscal ao menos parcialmente endereçada”, diz Spiess.

Novas revisões da nota do Brasil?

A partir de agora, a expectativa para o Brasil é que, uma vez alterada a perspectiva na S&P, as outras grandes agências tendam a seguir o mesmo caminho.

“Cada uma tem especificidades na metodologia de calcular o risco, mas não é incomum que, quando uma faz um movimento, outra também reavalie sua posição em breve”, diz Moses, da UFRJ.

Os analistas afirmam, no entanto, que isso ainda não significará uma volta ao chamado “grau de investimento” para o Brasil. Ter grau de investimento significaria sair da lista de países onde só se recomenda o investimento especulativo.

O Brasil chegou a atingir esse patamar no segundo governo Lula, em 2008, e o perdeu depois no segundo governo Dilma Rousseff, em 2015. Lima, da WIT, avalia que a retomada na perspectiva brasileira vem se construindo desde então, com reformas como a da Previdência e, agora, em temas como o marco fiscal e uma futura reforma tributária. “Até retomar o grau de investimento, porém, há um longo caminho”, diz ela.

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