Entenda por que a inflação no Brasil ficou abaixo da americana em 2022

É a primeira vez desde 2007 que a inflação brasileira é inferior à dos EUA; desonerações e juros altos ajudam a explicar a diferença

atualizado 13/01/2023 14:08

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Carrinho de compras em corredor de supermercado Felipe Menezes/Metrópoles

Com a divulgação dos dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos em 2022, nesta quinta-feira (12/1), um cenário que já era esperado pelo mercado havia meses se confirmou: a inflação na maior economia do mundo encerrou o ano passado mais alta do que a inflação no Brasil.

No acumulado de 2022, os EUA tiveram um avanço de 6,5% nos preços. De acordo com dados divulgados na terça-feira (10/1), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial no Brasil, terminou o ano passado em 5,79%.

É a primeira vez desde 2007 que a inflação brasileira fica abaixo da americana. Naquela ocasião, o índice de preços nos EUA registrou um avanço de 4,1%, enquanto, no Brasil, o indicador terminou com alta acumulada de 3,64%.

As outras vezes em que a inflação no Brasil esteve abaixo da americana foram no início de 1999 (começo do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso) e durante alguns meses entre junho de 2006 e novembro de 2007 (entre o fim do primeiro e o início do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva).

Desonerações e juros altos explicam a diferença

No caso brasileiro, um dos fatores que mais contribuíram para que a inflação de 2022 ficasse abaixo do índice dos EUA foi a desoneração de tributos relacionados a combustíveis e energia.

Os preços no setor, que vêm sendo pressionados desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em fevereiro de 2022, começaram a cair no Brasil a partir da desoneração.

Os grandes recuos de preço em dezembro foram de itens que tiveram limitação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A maior redução foi no preço da gasolina (-25,78%), seguida pelo do etanol (-25,42%). A energia elétrica residencial aparece logo depois (-19,01%).

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Inflação é o termo da economia utilizado para indicar o aumento generalizado ou contínuo dos preços de produtos ou serviços. Com isso, a inflação representa o aumento do custo de vida e a consequente redução no poder de compra da moeda de um país

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Em outras palavras, se há aumento da inflação, o dinheiro passa a valer menos. A principal consequência é a perda do poder de compra ao longo do tempo, com o aumento dos preços das mercadorias e a desvalorização da moeda

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Existem várias formas de medir a inflação, contudo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o mais comum deles

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No Brasil, quem realiza a previsão da inflação e comunica a situação dela é o Banco Central. No entanto, para garantir a idoneidade das informações, a pesquisa dos preços de produtos, serviços e o cálculo é realizado pelo IBGE, que faz monitoramento nas principais regiões brasileiras

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De uma forma geral, a inflação pode apresentar causas de curto a longo prazo, uma vez que tem variações cíclicas e que também pode ser determinada por consequências externas

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No entanto, o que influencia diretamente a inflação é: o aumento da demanda; aumento ou pressão nos custos de produção (oferta e demanda); inércia inflacionária e expectativas de inflação; e aumento de emissão de moeda

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No bolso do consumidor, a inflação é sentida de formas diferentes, já que ela não costuma agir de maneira uniforme e alguns serviços aumentam bem mais do que outros

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Isso pode ser explicado pela forma de consumo dos brasileiros. Famílias que possuem uma renda menor são afetadas, principalmente, por aumento no preço de transporte e alimento. Por outro lado, alterações nas áreas de educação e vestuário são mais sentidas por famílias mais ricas

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Ao contrário do que parece, a inflação não é de todo mal. Quando controlada, é sinal de que a economia está bem e crescendo da forma esperada. No Brasil, por exemplo, temos uma meta anual de inflação para garantir que os preços fiquem controlados. O que não pode deixar, na verdade, é chegar na hiperinflação - quando o controle de todos os preços é perdido

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Outro fator decisivo, segundo especialistas consultados pelo Metrópoles, é a política de aumento da taxa básica de juros da economia (Selic), conduzida pelo Banco Central (BC) para conter a inflação.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. A Selic é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.

Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é segurar a demanda aquecida, o que se reflete nos preços — os juros mais altos encarecem o crédito e, assim, ajudam a conter a atividade econômica, com menos dinheiro em circulação.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em dezembro do ano passado, a Selic permaneceu em 13,75% ao ano – foi a terceira reunião consecutiva em que a taxa não foi alterada. Os juros básicos seguem no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estavam em 13,75% ao ano.

O Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, iniciou o mesmo movimento apenas um ano depois da autoridade monetária brasileira. Na última reunião, em dezembro, o Fed elevou a taxa em 0,5 ponto percentual – os juros básicos estão agora entre 4,25% a 4,5% ao ano. Nas três últimas reuniões do Fed, a taxa havia aumentado em 0,75 ponto percentual.

“A reação mais rápida do BC ajudou no controle mais acelerado do processo inflacionário no Brasil, quando comparamos com a situação americana”, afirma Gabriel Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset.

“O Fed demorou mais e iniciou o ciclo em uma velocidade menor, ainda que tenha acelerado em seguida. Como há defasagem importante entre a subida de juro e o seu efeito sobre a atividade e a inflação, temos essa diferença no resultado final dos dois países”, explica. “Nesses casos, o timing é extremamente importante e o BC saiu na frente.”

Ainda segundo Barros, a redução dos tributos sobre os combustíveis levou a um recuo de 0,3% do segmento de transportes no IPCA de dezembro. “Transportes encerraram o ano com contribuição negativa marginal, graças à desoneração”, afirmou.

Nos dois países, a inflação dos alimentos continua sendo foco de grande preocupação. Nos EUA, o índice que mede o preço dos alimentos subiu 0,3% em dezembro, com a alimentação caseira avançando 0,2%. No acumulado do ano, o avanço é de cerca de 11%.

No Brasil, a inflação acumulada de 2022 foi puxada principalmente pelos alimentos e bebidas, que tiveram alta de preços de 11,64% no ano, acima dos 7,94% de 2021. Os 10 produtos que tiveram os maiores aumentos de preço são do grupo de alimentos – a cebola, sozinha, aumentou 130%.

Mudança de cenário em 2023

De acordo com estimativas do mercado, a inflação no Brasil deve voltar a superar a americana em meados de 2023.

A última edição do Relatório Focus, do BC, divulgada no início desta semana, projeta que a inflação no Brasil deve terminar este ano em 5,36% – a projeção anterior era de 5,31%. Nos EUA, o índice é estimado em cerca de 3,5%.

Para 2024, a estimativa é que o IPCA fique em 3,7% e, em 2025, em 3,3%.

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