Entenda a crise com os bancos que apavora o mundo

Para o economista Robson Gonçalves, as instituições têm problemas específicos, mas todas sofrem com alta de juros e cenário global instável

atualizado 15/03/2023 14:58

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Imagem colorida do banco Credit Suisse Reprodução

Desde o início desta semana, parece que partes expressivas do sistema bancário internacional entraram em parafuso. Nos Estados Unidos, o Silicon Valley Bank (SVB) faliu de forma tão ligeira quanto estrondosa. Na sequência, o Signature Bank, voltado para criptomoedas, seguiu caminho similar – a bancarrota. Nesta quarta-feira (15/3), na Europa, o Credit Suisse puxa as bolsas – e as ações de outros bancos – para o chão.

A grande pergunta é, afinal, o que está acontecendo com os bancos internacionais? Para o economista Robson Gonçalves, consultor Fundação Getulio Vargas (FGV), cada instituição tem seus problemas específicos, mas, no geral, elas sofrem com um cenário, no mínimo, bastante adverso. Como? É o que ele explica a seguir ao abordar, em especial, o caso do Credit Suisse.

O que está acontecendo com os bancos internacionais?

Vamos, primeiro, traçar um cenário geral. O fato é que as taxas de juros permaneceram por muito tempo baixas tanto nos Estados Unidos como na Europa. E isso sempre acaba provocando uma expansão do crédito, às vezes, com qualidade duvidosa. O que vimos recentemente é que as taxas passaram a sofrer sucessivas altas (para conter a inflação nos países desenvolvidos) e os bancos tiveram de se adaptar ao novo quadro. Nos dois primeiros anos do ciclo de alta, os problemas aparecem. Isso é comum. Essas instituições fizeram no passado recente operações com juros pré-fixados baixos. Agora, têm de virar a chave e captar com taxas mais altas. Em paralelo, temos um quadro de incertezas acentuado pela continuidade da guerra na Ucrânia. Isso complica tudo.

E o que aconteceu no caso específico do Credit Suisse? 

O banco suíço tem um importante acionista. Ele é o Saudi National Bank, da Arábia Saudita, um grande gestor de recursos árabes. Ele descartou a hipótese de oferecer assistência financeira ao Credit Suisse. Alegou questões regulatórias e estatutárias, mas, a rigor, poderia ter ajudado. Nesse caso, me parece que está havendo uma disputa entre os sauditas e os reguladores, os bancos centrais europeus.

Que tipo de disputa?

No episódio do Silicon Valley Bank, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e o Tesouro dos Estados Unidos agiram rapidamente, garantindo os depósitos e dizendo que auxiliariam bancos em dificuldade. Isso não ocorreu até agora no caso do banco suíço e os sauditas estão mandando um recado aos bancos centrais. Eles dizem algo do tipo: “E vocês não vão fazer nada?”. Acho que os árabes até podem ajudar, mas se houver algum sinal dos bancos centrais, no caso do suíço e do europeu, embora a Suíça não faça parte da zona do euro.

O Credit Suisse já vinha apresentando problemas. Ele tentava se desfazer do banco de investimento e, assim como muitas outras grandes instituições financeiras globais, preparava demissões em massa. Nesta semana, admitiu que tinha “fragilidades” nos balanços dos últimos dois anos. Foi isso o que agravou a situação?

Foi o geral. É preciso observar que os balanços das instituições bancárias são controlados de forma online pelos bancos centrais. Esse problema do Credit Suisse, essa “fragilidade” observada nos balanços, não tem nada a ver, por exemplo, com o caso da Americanas, no qual um critério contábil foi questionado tempos depois. O que veio à tona na Europa foi um processo que já vinha sendo discutido.

Mas ele teve peso importante?

Sim, mas o que ocorreu foi um acúmulo de fragilidades. E isso somado à alta dos juros, ao prolongamento da guerra na Ucrânia. Tudo isso vai correndo o quadro geral. Mas creio que, neste momento, o que estamos presenciando é uma disputa entre os controladores e os bancos centrais. Se os reguladores sinalizarem que vai haver uma linha de assistência, os árabes vão ceder.

E se essa sinalização não vier?

Vamos pensar em cenários. O catastrófico seria o banco quebrar. Aí, haveria uma crise que pode ser sistêmica. E nesse tipo de situação é comum que os bombeiros, no caso, os bancos centrais, cheguem atrasados. Isso aconteceu na crise global de 2008. Mas não acredito nessa hipótese. Não creio que os reguladores da Suíça, da Europa e mesmo do Reino Unido vão deixar isso acontecer. O mais provável é que haja uma solução de compromisso envolvendo os controladores e os bancos centrais.

E quais seriam os efeitos de uma eventual crise no sistema bancário do Brasil?

Os bancos brasileiros são fortes, têm uma solidez invejável. O sistema nacional passou praticamente incólume pela crise de 2008. Nossos bancos são muito conservadores em comparação com a média internacional. Contam com reservas significativas, liquidez favorável e vêm contendo o apetite por crédito há algum tempo. Isso cria um problema. Faz, por exemplo, com que o volume de crédito no Brasil seja baixo, alcançando cerca de 60% do PIB. Nos EUA, que tem um PIB gigantesco, ele chega a 130%. Mas, por outro lado, dá muita solidez. Não vejo, portanto, risco para os bancos brasileiros no cenário atual.

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