O grupo que apoia a permanência do empresário Josué Gomes da Silva à frente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não aceitará o resultado da assembleia realizada nesta segunda-feira (16/1) na entidade. Na reunião, 47 sindicatos patronais votaram a favor da destituição de Silva do cargo. Houve somente um voto contra a medida.
Na prática, interlocutores de Silva contestam a validade da decisão. Eles argumentam que o empresário havia suspendido a reunião no fim da tarde. Depois disso, retirou-se do local acompanhado pelos líderes que o apoiam, em geral, ligados a setores de grande porte da indústria brasileira. Na sequência, o grupo de insurgentes, com a maioria entre representantes de sindicatos menores, abriu uma nova assembleia e deu início à votação.
Esse seria o motivo da contagem maciça contra Silva. Os grupos que contestam o resultado, no entanto, observam que os 47 votos dados a favor da destituição não representam nem sequer a metade dos 112 sindicatos patronais com direito a participar do pleito da Fiesp.
Com o impasse, o imbróglio inédito em curso na maior entidade empresarial do país tem tudo para terminar na Justiça. Mesmo porque os revoltosos argumentam que a deliberação na assembleia, que durou quatro horas e meia, foi válida.
Para essa turma, Josué Gomes deixou a Fiesp antes da votação final sem dar declarações e sem encerrar oficialmente a plenária. Para um advogado ligado aos sindicatos oposicionistas a reunião poderia prosseguir mesmo sem a presença do presidente da instituição.
Entenda a crise na Fiesp
A crise política na Fiesp teve início em outubro do ano passado, quando membros de sindicatos descontentes (eram 78, na época, depois passaram a ser 86) apresentaram um pedido de convocação de assembleia para tentar destituir Josué do cargo. Em reunião da diretoria no início de novembro, o presidente da Fiesp rechaçou a ofensiva, alegando que não havia elementos que justificassem a reunião.
O documento apresentado pelos sindicatos pedindo o encontro enumerava 12 itens com justificativas para a convocação da assembleia. Entre os motivos apresentados, estavam contestações sobre nomeações de assessores de Josué, além de críticas pela divulgação da carta “em defesa da democracia” durante a campanha eleitoral.
As declarações de Josué durante a campanha de 2022, simpáticas à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, desagradaram os grupos da entidade que apoiavam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A decisão da Fiesp de divulgar a carta, em agosto, foi considerada um erro por atrelar a instituição à candidatura do petista. O documento teve apoio de apenas 14% dos sindicatos industriais.
A proximidade com Lula fez ainda com que Josué Gomes da Silva se tornasse o nome da preferência do presidente da República para assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Em meados de dezembro, o presidente da Fiesp foi a Brasília e recebeu o convite formal de Lula para comandar a pasta. Em um primeiro momento, Josué não deu uma resposta ao petista e pediu um tempo para pensar. Dois dias depois, o empresário recusou o convite e decidiu viajar com a família para o exterior, onde passou a virada de ano.
Até receber o convite formal do presidente, Josué dizia a interlocutores e familiares que não pretendia assumir um cargo no governo federal e desejava permanecer à frente da Fiesp. Depois da conversa com Lula, em Brasília, o empresário cogitou aceitar o desafio, mas acabou optando, ao fim e ao cabo, por permanecer na Fiesp.
A eventual ida de Josué Gomes para o ministério de Lula era considerada uma espécie de “saída honrosa” do comando da Fiesp, em meio a uma grave crise política na federação.
Ontem, também na tentativa de dissuadir os opositores, a Fiesp organizou um evento que teve como convidados o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ex-presidente Michel Temer (veja foto em destaque).
Quem é Josué Gomes da Silva
Empresário da Coteminas, Josué é filho de José Alencar (1931-2011), vice-presidente da República entre 2003 e 2010, nos dois governos de Lula.
Ele foi eleito presidente da Fiesp em julho do ano passado e assumiu o cargo em janeiro de 2022.
A candidatura de Josué ao comando da Fiesp teve o apoio de Skaf. Seu mandato à frente da entidade terminaria em 31 de dezembro de 2025.