“Creator economy”: conheça o mercado bilionário dos influenciadores

A "creator economy", criação de conteúdo na internet, movimentou mais de R$ 82 bi em 2022 e vem abrindo espaço para novos empreendedores

atualizado 22/04/2023 10:51

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Getty Images

A arquiteta Patricia Pomerantzeff, hoje com 40 anos, trabalhou por mais de uma década como autônoma desde que se formou, em 2006. Em 2017, percebendo que era cada vez maior o número de pessoas que procuravam informações na internet e ali tiravam suas dúvidas sobre projetos, obras ou reformas, decidiu abrir um canal no YouTube, o Doma Arquitetura, como uma tentativa de ampliar o alcance do seu negócio.

O sucesso foi meteórico. Em seis meses, o Doma já era o maior canal do país dedicado ao assunto. Hoje, Patrícia conta com 1,13 milhão de inscritos no YouTube e mais de 1 milhão no Instagram. Segundo ela, 99,9% dos clientes da empresa vêm dessas duas plataformas. Atualmente, o Doma tem cerca de 40 projetos em andamento.

“O YouTube é um divisor de águas para mim. Antes dele, eu estava sozinha fazendo todas as atividades, como a maioria dos autônomos que iniciam uma vida empresarial. Quando criei o canal, precisei mudar completamente a minha rotina. A demanda era enorme”, conta.

Outro “case” de sucesso nas plataformas digitais é o empresário e influenciador Bruno Goes, de 22 anos, mais conhecido como Nobru. Ele foi o streamer mais assistido do YouTube Gaming Global em março deste ano, com 3,7 milhões de horas, segundo dados do Stream Chats, site de estatísticas de lives da plataforma. É o único brasileiro no top 10 mundial.

O canal de Nobru no YouTube é uma potência, com 14,2 milhões de inscritos. Ao todo, são mais de 50 milhões de seguidores nas redes sociais. Ele é um dos principais embaixadores dos e-sports (esportes eletrônicos), foi campeão nacional e mundial do game Free Fire – um dos jogos mais populares nas lojas virtuais – e integrou, em 2021, a lista Forbes Under 30, dos influenciadores mais relevantes com menos de 30 anos.

“Praticamente tudo o que eu faço hoje como trabalho, em diferentes áreas, pode ser potencializado através do Youtube. É como uma vitrine. É ótimo para a minha atuação no mercado”, explica. “Ser reconhecido por uma plataforma que tem mais audiência do que muitas emissoras de TV é como um selo de confirmação do trabalho que eu venho construindo.”

Mercado bilionário

A “creator economy” (ou “economia do criador”, em tradução livre) envolve todos os indivíduos que criam conteúdo nas plataformas digitais – e ganham dinheiro com isso. Segundo a pesquisa “Future of Creativity”, da Adobe, o número de criadores de conteúdo (os “creators”) no mundo é estimado em 303 milhões. O Brasil responde por 9 milhões de influenciadores digitais, de acordo com a consultoria Influencity Marketing Hub. O contingente de brasileiros criando conteúdo na internet equivale à população de Pernambuco.

Um outro estudo, realizado pela plataforma de marketing Collabstr, mostra que o mercado global de influenciadores digitais vem crescendo, em média, mais de 40% ao ano desde 2019. Em todo o mundo, a estimativa é que a “creator economy” tenha movimentado US$ 16,4 bilhões (cerca de R$ 82,8 bilhões, pela cotação atual) em 2022.

“A influência, hoje, é um ‘soft skill’ importante para qualquer profissional. Se você se vender bem no LinkedIn, se você criar conteúdo, se você desenvolver habilidades de influenciador, tudo isso pode ajudar no seu negócio”, diz Rafaela Lotto, sócia e chief strategy officer da Youpix, consultoria de negócios especializada em “creator economy”.  “Quando eu me formei, meu pai falava que era preciso falar inglês para arrumar emprego. Hoje em dia, eu acho que é preciso falar inglês, talvez uma outra língua e ter habilidades de criação de conteúdo.”

Como ganhar dinheiro na internet

A consolidação da “creator economy” está diretamente relacionada à possibilidade de os influenciadores ganharem dinheiro pelo conteúdo que produzem. A monetização pode ser feita de diversas formas, de acordo com as regras de cada plataforma. O modelo mais bem sucedido é o do YouTube, que oferece aos donos de canais um serviço chamado Programa de Parcerias do YouTube (YPP, na sigla em inglês), por meio do qual é feita a monetização.

Para entrar no programa, é necessário cumprir alguns requisitos, como ter mais de mil inscritos no canal e pelo menos 4 mil horas de vídeos exibidos nos últimos 12 meses. Também é preciso estar em um país no qual seja permitida a monetização, como o Brasil, além de ter uma conta no Google AdSense. Para receber o pagamento do YouTube, o criador de conteúdo tem de acumular ao menos US$ 100 em sua conta.

Além do programa de parcerias, os criadores de conteúdo no YouTube podem ganhar dinheiro de outras formas: com anúncios publicitários durante os vídeos; Super Chats ou Super Stickers (por meio dos quais os inscritos no canal pagam uma quantia para ter suas mensagens exibidas em lives); estantes virtuais (divulgação de links de vendas de produtos relacionados ao canal); e clubes de assinantes.

No Instagram, apesar de não contarem com um programa de monetização de conteúdo na plataforma, os influenciadores fazem parcerias com marcas e empresas, além de posts patrocinados e divulgação de links para seus produtos e serviços. Trata-se, na prática, de uma loja virtual dentro do perfil.

O TikTok, que aparece na lista dos aplicativos mais baixados nos últimos anos, oferece opções de monetização semelhantes a outras plataformas, como parcerias com marcas e venda de produtos e serviços. A rede também estabelece algumas “missões diárias” para os criadores de conteúdo e dá várias bonificações, que podem ser convertidas em dinheiro, à medida que as metas são cumpridas. A Twitch, plataforma de streaming utilizada, principalmente, pelo público gamer, também paga para os canais com mais visualizações.

“Com a monetização, o influenciador tem um incentivo para continuar produzindo conteúdo. Quando você entra com dinheiro, esses criadores passam a ser mais engajados. Criar conteúdo não é algo simples. Demanda tempo, criatividade, carisma, organização”, afirma Luís Gustavo Evangelista, head de marketing da Husky, startup de câmbio que faz transferências internacionais.

Para Mari Galindo, cofundadora da Nice House, plataforma de entretenimento com foco na geração Z, um dos maiores trunfos da monetização é a “previsibilidade”. “O YouTube colocou o criador de conteúdo dentro do seu modelo de negócio. A partir do momento em que traz uma receita, as pessoas passam a olhar aquilo não só como um hobby”, analisa. “Um criador, hoje, pode ter um canal monetizado dentro do YouTube, pode fazer publicidade no Instagram ou no TikTok, pode vender um curso diretamente para os seus seguidores… São várias opções para diversificar a receita.”

Dados da Husky mostram que, entre 2021 e 2023, o número de influenciadores que receberam pagamentos de plataformas digitais cresceu 381%. De acordo com o levantamento da empresa, os “influencers” recebem, em média, US$ 6.316 (cerca de R$ 31,8 mil) por mês. Em alguns casos, os valores superam US$ 100 mil (mais de R$ 500 mil).

No caso do YouTube, os cinco brasileiros que mais faturaram em 2022 foram Pedro Afonso Rezende, conhecido Rezendeevil (cerca de R$ 1,4 milhão); Marco Túlio Matos Vieira, o Authentic (R$ 1,2 milhão); Felipe Neto (R$ 1,2 milhão); Whindersson Nunes (R$ 870 mil); e Eduardo Fernando, o Edukof, dono do canal AM3NlC (R$ 680 mil). Os dados são da plataforma Social Blade.

“A criação de conteúdo é cada vez mais um negócio. O criador de conteúdo é a próxima geração de empreendedores no Brasil. No futuro, esses empreendedores talvez estejam abrindo o IPO de suas empresas, façam parte na lista dos milionários e bilionários ou virem donos de grandes empresas de conteúdo”, projeta Rafaela Lotto.

“Em um Brasil desigual, com pouco acesso à educação, a criação de conteúdo também é uma ferramenta de ascensão social”, explica. “Há 15 anos, você perguntava para a criançada o que eles queriam ser quando crescessem e o moleque responderia: jogador de futebol. Hoje, ele já entende que pode ser um criador de conteúdo, já tem ídolos nos quais se espelhar.”

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