Saudade. Essa é a palavra que define o sentimento da família de Michel Nisenbaum, de 59 anos, até agora, o único cidadão brasileiro dado como desaparecido em Israel desde o estopim dos ataques do grupo extremista Hamas. Desde 7 de outubro, mais de 8,7 mil palestinos e israelenses morreram.
Em entrevista ao Metrópoles, a irmã de Michel, Mary Shohat, de 66 anos, narrou os últimos momentos antes do desaparecimento, o estágio das buscas e a relação do irmão com a família e amigos.
Confira a cronologia do sumiço do brasileiro
Manhã de 7 de outubro, em Israel:
- 6h57: Michel ligou para uma das filhas e contou que estava indo buscar a neta. A criança estava na base militar com o pai. A região fica próxima ao kibutz onde ocorreram as primeiras ofensivas do Hamas.
- 7h06: a filha telefonou para saber se o pai já havia chegado na base militar. Mas, Michel não atendeu às ligações.
- 7h23: uma pessoa não identificada atendeu um dos telefonemas de familiares e respondeu com as seguintes palavras: “Viva o Hamas”.
- A partir das 7h30: o telefone de Michel foi desligado e não recebeu mais ligações.
De acordo com ela, o governo federal disse que há uma possibilidade de que Michel esteja entre as pessoas que foram sequestradas pelo Hamas, mas, essa hipótese não é tratada como certeza pelo Itamaraty. “Conversamos com o presidente Lula via Zoom ontem [quinta (26/10)], e ele afirmou que vai fazer tudo que for necessário para resgatar e encontrar os brasileiros”, contou.
“Querido por todos”
Natural de Niterói, no Rio de Janeiro, Michel tem dupla cidadania (israelense e brasileira) e mora em Israel há 45 anos, onde trabalha como técnico em informática. Mary descreve como era o irmão: “Um ótimo pai, avô, irmão e amigo. Ele é querido por todos”.
“Um ótimo pai e ótimo avô. Michel viaja toda a semana para visitar os cinco netos e agora tem mais um a caminho”, relata Mary. Brincalhão e amoroso, o brasileiro já faz falta no dia a dia das crianças que perguntam “onde está o vovô”.
Segundo ela, o irmão é diabético e tem a doença Crohn — síndrome inflamatória que afeta certas porções do intestino delgado e o cólon —, que se não for tratada pode trazer riscos à vida. No momento, a saúde de Michel é a maior preocupação dos familiares.
“Ele é uma pessoa muito boa. Apesar de não ser irmã do mesmo pai, somos muito apegados. Tudo o que eu preciso ele está disposto a me ajudar. Meu maior desejo é ter ele de volta”, desabafou.
Forte espírito solidário
Um dos traços marcantes de Michel era o espírito solidário. De dar uma carona para um amigo até o aeroporto a integrar equipes de voluntários (na polícia e nos serviços de saúde), essa era a vida do brasileiro além do trabalho como técnico de informática.
“Se alguém pedir ajuda, ele sempre tenta ajudar. Assim é o meu irmão”, conta Mary. Mesmo estando divorciado há anos, o brasileiro continua muito próximo a ex-esposa Mariela Tchicourel. “Os dois são muito amigos, estão sempre se ajudando”, prossegue.
Mary afirma que a família tem esperanças de encontrá-lo vivo e com saúde: “Queremos ele de volta o mais rápido possível. Temos esperança de ver Michel novamente”.