Argentina: como Milei e Massa podem driblar rejeição e vencer eleição?

Entenda se peronista será capaz de se desligar do fracasso do governo, ou se apoio de Patricia Bullrich já cravou a vitória do ultraliberal

atualizado 05/11/2023 15:59

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Arte/Metrópoles

Depois de uma surpresa no primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina, com o peronista Sergio Massa em primeiro lugar (36,68%) e o ultraliberal de direita Javier Milei em segundo (29,98%), os dois candidatos mais votados tiveram alguns dias para conseguir superar a rejeição e conquistar votos dos argentinos no segundo turno. Porém, é possível Massa se desligar do fracasso do governo atual, ou o apoio de Patricia Bullrich já cravou a vitória de Milei? O Metrópoles conversou com analistas para entender as possíveis estratégias adotadas por ambos políticos nessa corrida à chefia da Casa Rosada.

Enquanto Massa tenta se aproximar do eleitor médio do Proposta Republicana (Pro, fundado em 2005 pelo ex-presidente Mauricio Macri) — que oficializou apoio a campanha o ultraliberal de direita — em um cenário de forte repressão popular ao peronismo e ao anti-kirchnerismo, Milei deve tentar “suavizar” as colocações polêmicas, como o fechamento do Banco Central, para não perder os votos de Bullrich.

Intenção de votos x apoio político

A duas semanas do segundo turno da eleição presidencial da Argentina — prevista para 19 de novembro —, pesquisas de intenção de voto indicam Sergio Massa com uma certa vantagem a Javier Milei. Conforme levantamento da Zuban Córdoba, divulgado pelo jornal Clarín nessa quarta (1º/11), o peronista tem 45,4% de preferência, contra 43,1% do ultraliberal de direita.

Por outro lado, a mesma pesquisa mostra que o índice de rejeição do atual ministro da Economia é significativo. Massa tem 56,7% de rejeição, já Milei, fica com 54,3% de desaprovação. Para fazer o levantamento, foram entrevistados 2 mil eleitores argentinos nos dias 28 e 29 de outubro.

Essa estimativa é uma consequência dos resultados do primeiro turno: quando Milei não conseguiu ampliar, mantendo a mesma base de votos nas primárias, enquanto Massa teve um acréscimo de 15% dos votos desde lá.

Mesmo com o apoio de Patricia Bullrich, o analista político Nicholas Borges, da BMJ Consultores Associados, afirma que é “pouco provável” que os votos sejam computados na conta de Javier Milei.

“A nossa expectativa é que haja de fato uma fragmentação, com uma migração rachada”, estima. Por serem votos vindos de uma coalizão, que envolve partidos com interesses diferentes, os candidatos vão precisar “quebrar o braço” e “lutar” para cravar quem vai conseguir trazer mais eleitores desse racha, segundo Borges.

Já a pesquisa Atlas/Intel, divulgada na última sexta (3/11), aponta Milei com 52% das intenções de votos e Massa com 48% (a margem de erro é de 1.7 p.p. para mais ou para menos).

Confira as principais propostas dos candidatos:

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Propostas dos candidatos para a Economia

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Política Externa

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Reforma Política

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Sustentabilidade

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Agronegócio

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Maiores obstáculos para Sergio Massa

Com uma eleição altamente polarizada, onde são apresentados dois projetos políticos antagônicos, Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV NPII), acredita que ambos candidatos têm “uma tarefa difícil” nessa disputa à cadeira presidencial.

“Ambos têm uma tarefa difícil. Isso porque um representa o governo que ele mesmo faz parte, e o outro tem que provar que vai cumprir as promessas. Então, é duro”, analisou.

Conforme o pesquisador da FGV, no momento, o grande desafio de Sergio Massa é se distanciar do grupo que está no poder, mesmo se identificando com o peronismo. No posto de ministro da Economia, ele deve mostrar as propostas para sair da crise que o país vive há décadas e que se intensificou nos últimos anos.

Sergio Massa
Sergio Massa, ministro da Economia da Argentina

“Se distanciando do governo do qual ele faz parte, que, inclusive, está sendo uma tragédia na economia, ao dizer: ‘Olha tem um outro caminho que eu vou seguir diferente do que estamos fazendo agora’”, pontua Paz.

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Para o analista político Nicholas Borges, o distanciamento de Sergio Massa dos eleitores mais jovens é, no momento, uma das maiores dificuldades do candidato peronista. Porém, ele destaca a capacidade de Javier Milei de dialogar e atrair esse nicho eleitoral.

“Então, a gente tem essa grande dificuldade: Massa não consegue trazer esperança para esse segmento da população que viveu e nasceu durante as sucessivas crises econômicas. Por outro lado, a gente tem Milei conseguindo transitar melhor nesse nicho eleitoral”, explicou.

A falta de propostas sólidas sobre a questão econômica do país é outro ponto que o peronista precisa trabalhar para conquistar e garantir confiança aos eleitores, de acordo com Borges. O analista político afirma que é “urgente” a apresentação de um plano estratégico e robusto de como Massa pretende reestruturar a economia da Argentina.

Maiores obstáculos para Javier Milei

Conhecido por ter opiniões polêmicas, para vencer as eleições, o auto intitulado anarcocapitalista precisa moderar o discurso no momento, segundo a análise dos especialistas ouvidos pelo Metrópoles.

“Talvez, para o Milei, seja muito mais estratégico rever e moderar os discursos, acenando principalmente para o eleitorado de centro-direita, direita e também para os governadores das províncias do que continuar nesses discursos mais incisivos”, pontua Borges.

Dessa forma, além das declarações controversas, o deputado precisa se preocupar em conquistar a aliança dos governadores, que tem grande influência nas províncias argentinas, que historicamente tem um direcionamento independente de partidos.

Candidato à presidência da Argentina Javier Milei

Para o internacionalista da FGV, com o apoio oficial do Pro, Milei tenta se aproximar dos eleitores da Bullrich com colocações mais “suavizadas”, começando a ilustrar o projeto político para além das declarações polêmicas.

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Borges diz que outro ponto negativo para Milei nessa corrida presidencial são os possíveis impactos no ceticismo da população com o alinhamento dele a partidos tradicionais, em especial o apoio do ex-presidente Mauricio Macri.

“Ele tem que observar até que ponto os eleitores vão pensar: ‘Você ia acabar com a casta e agora está se alinhando com partidos tradicionais da política’. Isso pode ser um ponto de conflito e o Sergio Massa poderia inclusive explorar essa narrativa”, analisou.

Esse último ponto é crucial para o peronista, que segue abordando esse assunto. “Os eleitores argentinos têm consciência de que o acordo com o FMI [Fundo Monetário Internacional] é uma das principais mazelas para a situação econômica atual”.

Principais estratégias de Massa e Milei

Com ajuda de especialistas em política internacional e analistas, o Metrópoles listou as principais estratégias dos candidatos à Casa Rosada. Confira:

Ambos:

  • Apostar na retórica de pessoas antagônicas;
  • Tentar atrair o eleitorado de Patricia Bullrich;
  • Discursar contra as alianças políticas do adversário; e
  • Iniciar uma guerra de narrativas.

Javier Milei:

  • Amenizar e revisar o discurso das propostas;
  • Continuar conversando com o eleitorado mais jovem; e
  • Apostar na limpeza geral na política.

Sergio Massa:

  • Adotar discurso de que Milei é um eventual “risco para a democracia”;
  • Apostar na retórica dos serviços públicos de educação e saúde;
  • Criticar e apontar os impactos na questão econômica das propostas de Milei. Por exemplo, a proposta de inserir vouchers na educação e saúde; e
  • Atacar o alinhamento do ultraliberal de direita com o ex-presidente Mauricio Macri.

Apadrinhamento político pode ser pedra no sapato

Na mesma linha do pesquisador da FGV, o analista político Nicholas Borges também acredita que um dos maiores desafios dos candidatos é conseguir se desvencilhar de algum lado: “Agora, temos de fato uma eleição polarizada na qual o apoio político de figuras tradicionais da Argentina pode ser uma vantagem ou uma desvantagem”.

Para ele, esse período antes do segundo turno vai ser muito importante saber lidar com a questão de apoio político, tanto da base do governo quanto da oposição, e analisar se é favorável se envolver com alguns figurões da política argentina.

Logo, Sergio Massa tem que se desassociar do ex-presidente Alberto Fernandez, conhecido por ser extremamente impopular, e até mesmo do kirchnerismo. Já Javier Milei precisa saber controlar o apoio do Pro, partido de Mauricio Macri — apontado por muitos argentinos como um dos responsáveis pelo agravamento da crise econômica do país, depois de pedir um empréstimo ao FMI.

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