A primeira foto conhecida de Juscelino Kubitscheck em Brasília é tomando um cafezinho, em meados de 1956. Fixada na parede do Museu Casa Sede da Fazenda Gama, a imagem mostra o então presidente da República segurando um recipiente com bebida passada no saco de pano e feita, do pé à xícara, em terras do Planalto Central.
Servido por Zenaide Barbosa dos Santos (que também aparece na foto), o cafezinho colhido, torrado e moído no quadradinho foi o primeiro de muitos que viriam. Décadas depois, Brasília é umas das cidades que respira gastronomia e tem se destacado, em especial, pelo mercado latente do café que só cresce por aqui.
De acordo com a Agência Brasília, Distrito Federal tem ganhado cada vez mais reconhecimento pelo cultivo do grão.
Nos últimos anos, a cidade tem visto crescer a cafeicultura, graças às condições geográficas e climáticas e à forma de colheita diferenciada dos agricultores que apostam na produção de variedades especiais, desenvolvidas a partir do chamado grão cereja, o mais nobre do fruto do tipo arábica.
Para se ter uma ideia, em 2022 o quadradinho registrou 83 agricultores especializados nesse segmento e produziu 1.204,92 toneladas do fruto, segundo os dados do Relatório de Informações Agropecuárias do DF-2022, elaborado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Já a pesquisa Indicadores da Indústria de Café 2022, da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic), indicou que a região Centro-Oeste registrou o maior ticket médio de valores gastos com café no Brasil.
E não é por acaso: a capital tem várias opções de fazendas que plantam o grão, torrefações, cafés e baristas. Nomes e marcas têm mostrado a força do cafezinho brasiliense dentro e fora do país, destacando o protagonismo da cidade na área. A barista Juliana Morgado é um exemplo.
Trabalhando na área desde 2018, ela é referência no assunto e já ganhou vários prêmios em campeonatos de nível nacional. Ao Metrópoles, ela assegura: “O nome de Brasília está muito forte lá fora.”
“Em um campeonato nacional de barista, por exemplo, ouvi muito de jurados, organização e competidores que o ‘DF está vindo com tudo’. Estamos aparecendo bastante! A cidade entrou no eixo, que antes era formado apenas por São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba”, disse.
A expert afirma que esse protagonismo está crescendo bastante, mas que isso não é de hoje. “Eu costumo brincar que, por aqui, você tropeça e cai dentro de uma cafeteria de café especial. Foi um crescimento muito grande e acelerado de consumo, que fez com que outras áreas da cadeia produtiva aumentassem por demanda”, explica.
Dentre os nomes que ela elenca como os principais da cidade, vale destacar Mari Mesquita, Daniel Viana, Kelvin Alves, Marcondes Trindade, Pedro Anjos, Guilherme Cassimiro e Rodrigo Amador. “São baristas, torrefadores e instrutores brasilienses que carregam o quadradinho por aí”, complementa.
Crescimento que frutifica
A passos largos, a região está buscando o topo. Contudo, não é algo tão fácil. “O mais complicado pra gente é o fato dos maiores eventos de café do Brasil não são nem perto daqui. Nem todos os profissionais podem e conseguem ir a Belo Horizonte ou São Paulo para um evento, por exemplo. Por esse motivo, temos uma dificuldade maior de crescer ainda mais na cena”, explica Morgado.
Mas há esperança, já que os próprios profissionais daqui estão investido em eventos no Cerrado, como o Coffee Brasília, que acontece entre os dias 8 a 11 de junho deste ano, no CasaPark. “Estamos chamando as pessoas a virem para cá conhecer o que temos de melhor”, completa Juliana.
Torrefações de sucesso
Mestre de torra da Mokado Lab de Cafés, o profissional Pedro Anjos divide com os sócios Paulo de Tarso, Rodrigo Moll e Wdson o amor pelo grão.
Com alcance nacional, a marca que já produziu, inclusive, uma edição especial de café para um dos aniversários de Brasília, consagrou-se campeã do desafio de torrefações em 2021 na categoria single origin. “Não é raro nós brasilienses aparecermos entre os finalistas ou mesmo campeões”, contou o especialista.
Segundo ele, Brasília já desponta nacionalmente em número e em qualidade das cafeterias. “Há um percepção muito mais clara de que o público existe de forma latente e, com processos educativos orientados, podemos trazer nosso cliente para xícaras de excelente qualidade. Brasília já conta com eventos exclusivos de cafés, como o Coffee Brasília e o Roasterie“, comenta.
Pedro destaca que há excelentes profissionais em todos os elos da cadeia do café no DF.
“Desde produtores que já se dedicam ao manejo técnico e cuidadoso, passando pelas torrefações que modulam sabores e características até chegar aos baristas que apresentam de forma muito cuidadosa nossa bebida querida”. Anjos ainda indaga que o café “depende muito que cada elo dessa cadeia trabalhe em prol da qualidade, do contrário o resultado fica aquém de tudo que foi potencializado”.
Na visão do mestre de torras, ainda há potencial para mais crescimento da capital federal. “No ranking de campeonatos de torra, barismo e provadores, é muito fácil achar nomes do nosso quadradinho figurando entre os primeiros lugares. Porém, o espaço para crescimento é enorme, visto que temos um público consumidor já inclinado a observar a qualidade desse tipo de produto”, explica.
Assim como Juliana, Pedro complementa que o público foi um fator agravante para o protagonismo crescente dos cafés brasilienses. “Um público educado, que entende o valor daquilo que se consome passa a exigir do empresariado soluções comerciais alinhadas com a qualidade, o que, por sua vez, requer profissionais cada vez mais capacitados. Então, a saída para termos um mercado mais capaz é, certamente, a formação de um público cada vez mais exigente e consciente”.
Vale destacar também torrefações como Pilotis Cafés Especiais, Civitá, Aha Cafés, Anero Cafés Especiais, Jacket Café, Quanto Café, Mercado do Café, Los Baristas, Acervo Coffee Roasters., Together Cafés e Studio Grão.
Plantados, colhidos e torrados por aqui
Um dos nomes de peso da cidade é o café Minelis, produzido nas fazendas Canaã e Novo Horizonte, localizadas em Sobradinho e em Brazlândia.
Cultivando o grão desde 2005, Carlos Coutinho, proprietário da marca, garantiu o prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café Expresso como melhor café da região Centro-Oeste em 2013 e 2014. Em 2019, o produto recebeu o Ernesto Illy de campeão nacional. A produção é de, aproximadamente, 2 mil sacas e vai quase toda para exportação. O que fica aqui é vendido em grãos para cafeterias locais.
Vale destacar também marcas como Café Du Rey, produzido no Núcleo Rural Capoeira do Bálsamo, no Lago Norte; Café Lote 17B, produzido no Lago Oeste; e o premiadíssimo Zancanaro Estate Coffees, comandado por Cristiane Zancanaro.