Aki Kaurismäki é um diretor brincalhão. Hoje, enquanto percorria o tapete vermelho, brincava com o público, os fotógrafos e o cerimonial do Festival de Cannes com seu corpo, gestos e expressões faciais sem dizer uma única palavra, como um Charlie Chaplin finlandês e moderno. Seu humor, naqueles momentos, era universal, e desprovido de sonoridade. Em alguns momentos, seu novo filme acontece da mesma maneira. O humor de Kaurismäki chega na inocência, assim como o amor de seus personagens.
“Fallen Leaves” trata do encontro entre duas almas operárias. Ansa (Alma Pöysti) trabalha num supermercado e Holappa (Jussi Vatanen) num canteiro de obras. Qualquer sociedade, especialmente a moderna, tem a capacidade de vitimá-los. Ansa, por exemplo, se revolta contra o desperdício de comida praticado por seu local de trabalho e é demitida ao tentar levar consigo um sanduíche com a validade já expirada, algo que iria pro lixo. Holappa, por sua vez é propenso a se comportar de maneira terrível quando bebe, algo que acontece com frequencia.
Os dois se enxergam pela primeira vez numa noite de karaokê, apesar da pose de durão do relutante Holappa. Uma série de encontros fortuitos vira uma ida ao cinema bem sucedida e aprazível. Parece que tudo vai dar certo para esses dois, mas aí isto não seria uma comédia romântica. Os desencontros começam a acontecer com a mesma facilidade que antes parecia guiar o encontro dos dois. Apesar de curto, com meros 81 minutos, o senso de humor finlandês alarga os espaços entre estes personagens.
Apesar de, numa visão macro, a história se encaixar perfeitamente nos moldes da já-mencionada e frequentemente descartada ´comédia romântica´, o que transcende o gênero é o clima de brutalidade que cerca Ansa e Holappa. Apesardo filme não empregar atualidades tecnológicas como celular, podendo assim se passar em qualquer época, os rádios dos personagens estão sempre ligados em notícias sobre a atual guerra entre Rússia e Ucrânia (a Rússia tem fronteira com a Finlândia, importante lembrar).
O interesse de Kaurismãki, portanto, parece ser manter a chama da esperança viva, da certeza que o amor ainda será o que pode transformar as vidas de duas almas solitárias.
Avaliação: Regular (2 estrelas)
