Por 10 meses, um lote de canabidiol importado pela Universidade de Brasília (UnB) ficou parado no Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino Kubitschek (JK). A instituição tinha autorização de importação, emitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas o insumo ficou parado por falta de licença para retirada.
No dia 28 de fevereiro deste ano, a liberação foi emitida. O derivado da maconha será utilizado em pesquisa para tratamento de dependentes de crack.
O estudo, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), é conduzida pelo Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Faculdade de Ceilândia. A proposta é comparar os tratamentos convencionais e o canabidiol.
“A gente não desistiu. A Universidade assumiu esse compromisso com a ciência, com a pesquisa que eu coordeno, e enfrentou todos esses obstáculos”, comentou a pesquisadora Andrea Gallassi, coordenadora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Faculdade de Ceilândia.
A liberação foi conquistada pelos esforços do Decanato de Administração (DAF) e do Gabinete da Reitora da UnB. “O que aconteceu quase inviabilizou a pesquisa, mas vamos finalizar e apresentar evidências científicas bastante robustas neste campo”, afirmou Gallassi.
Duplo cego randomizado
O estudo é um ensaio clínico duplo cego randomizado. Ou seja, os pesquisadores separam dois grupos dependentes de crack, sendo que cada um vai tomar um tipo de medicamento. O grupo controle vai ingerir os medicamentos convencionais para tratar a dependência. O outro receberá o canabidiol.
Os participantes não sabem a qual grupo pertencem nem a equipe da pesquisa. Somente a coordenadora do estudo e o farmacêutico responsável terão essa informação. Após dez semanas de tratamento, a pesquisa mostrará se o grupo que recebeu o canabidiol teve uma resposta melhor ou não.
Serão analisados quatro parâmetros:
- Diminuição do uso de crack
- Melhoras na saúde mental (insônia, depressão, ansiedade) e física (melhora na ingestão de alimentos e no bem estar geral)
- Melhora com relação aos sintomas de abstinência (falta do uso e vontade de uso)
- Se os eventos adversos são menores quando comparado ao outro grupo.